22 janeiro 2013

A Hora Mais Escura (2012)

 Caetano Veloso no álbum “Circulador de Fulô” de 92 canta ao lado de "Black or White" de Michael Jackson um poema-rap entitulado “Americanos” que em determinado momento diz:
Americanos são muito estatísticos / Têm gestos nítidos e sorrisos límpidos / Olhos de brilho penetrante que vão fundo / No que olham, mas não no próprio fundo. E destacando essa situação do brilho no olhar americano destaca também que essa felicidade sem fundo está em decadência: “Americanos sentem que algo se perdeu / Algo se quebrou, está se quebrando.”
Depois dessa introdução, que deixo como epílogo sem muitos comentários, começo a falar de “A Hora Mais Escura” (2012) de Kathryn Bigelow, vencedora do Oscar 2009 com “Guerra ao Terror” que disputava na época com o caríssimo e feliz pra foto “Avatar”. “Guerra ao Terror”, filme de um tédio sem fim - que vale apenas pelos minutos finais - é sobre desarmadores de bombas em plena guerra no Oriente Médio. Em “A Hora Mais Escura”, Bigelow se esforçou para tentar encontrar um buraco mais embaixo, uma densidade, um sentimento, alguma coisa, qualquer uma, mas novamente a experiência fracassa.
O filme que promete retratar a captura de Osama Bin Laden não consegue escapar daqueles pequenos conflitos de estado entre “uma grande funcionária (Jessica Chastain) da CIA diz descobrir algo que até então ninguém descobriu, mas é atrapalhada pelo sistema e pelo governo que não lhe dá credibilidade.” Aí o filme fica nesse chove não molha, até que o governo resolve aceitar o plano dela e todos vão atrás do Bin Laden. “A Hora Mais Escura”, de belo título, é só sobre isso: uma caçada quase no escuro, e nada mais.
A grande questão, no entanto, me parece estar naquilo que fala Caetano. O americano olha fundo no que olha, mas não no próprio fundo e aquilo que não tem fundo, não consegue perceber o outro. A noção de indivíduo americano, ou seja, quando tudo se foca em um ser, na preservação desse ser e de como ele é importante e genial, “uma vida abençoada por deus”, não cabe na questão Islâmica. Lá não há indivíduo nesse nível, não há esse conceito, essa noção, então os ataques americanos que para eles são o auge da vingança, para os muçulmanos são quase irrelevantes na perda de vidas, mas se configuram como um ato profundamente ofensivo perante sua crença. E, sem fundo, os americanos não entendem, ficam perdidos e na tentativa de contar sua própria história contra os árabes, se mostram tontos, bobos, infantis, com uma excelente máquina de guerra, mas um desenvolvimento intelectual, social e político de um nematelminto.
“A Hora Mais Escura” só serve para os americanos e para o Oscar. Qualquer outro olho em qualquer lugar do mundo vai ver aquilo tudo com suspeita, sem empolgação. Com preguiça de reinventar a si próprio, o filme e os americanos transformam aquilo que era pra ser heróico em algo particular, quase supérfluo.

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