O pensamento do ser humano na perspectiva da sua animalidade
não é novidade, apesar de ainda ser um dos maiores mistérios que temos a
desvendar. No entanto, muitas vezes esse pensamento é só a produção de uma
imagem, uma metáfora, uma categoria do pensamento articulado.
“Indomável Sonhadora”, péssima tradução para “Beasts of the Southern
wild” não está nesse caso. A dimensão da animalidade não está no pensamento do
encontro seu com o seu extrato profundo de reintegração com instintos, desejos,
mas é uma animalidade como estatuto de vulnerabilidade frente a inexorabilidade
da violência da vida.
Sobrevivência não é a palavra que deve ser ressaltada, mas
talvez algo parecido como “vida em latência”, na tentativa de unir as pontas do
corpo do homem com o movimento animal. Por isso talvez, seja bastante destacável
e inteligente a utilização de uma menina de 6 anos como papel de protagonista,
ou seja, um ser ainda na idade em que as noções das regras sociais e da função
de cidadania ainda não estão formadas. Então, aquele ser em formação passa a
ser a realização da utopia dessa força selvagem e bestial que é ressaltada no
título em inglês e perde toda a forma ao ser traduzida em português por “Indomável”
e termina de ser destruída com o termo “sonhadora”.
A criança, o animal, ou o animal-criança não é sonhador,
pois não tem a dimensão de alteridade. Ela é o sonho, ela vive o encantamento
do mundo e a pulsão desse mundo desorganizado e caótico.
“Indomável Sonhadora” é um belo filme. Deve ser visto e
pensado não como o lugar dos que nada tem, mas como a força e a importância que
é não ter nada e , justamente por isso, viver numa condição ímpar de estar mergulhado
na liberdade.
2 comentários:
foda. deleuze mandou beijos. quero muito ver.
fiquei curiosa. vou assistir.
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