20 janeiro 2013

Amor (2012)



Michael Haneke é, sem sombra de dúvida, um dos principais cineastas da atualidade. Seu cinema frio, silencioso, sobre um mundo quase sempre esbranquiçado e hostil aos sentimentos, mas, no entanto, profundamente afetivo, principalmente na relação entre os corpos, traz-nos sempre uma experiência estética que ultrapassa o limite da arte e entra no campo da sociedade e da existência humana.
Só pra dar alguns exemplos para quem não o conhece, o filme “O Castelo” (1997), baseado na obra homônima de Kafka e “O Tempo do Lobo” (2003) fazem parte desse cinema que chamo atenção:  o primeiro branco e frio, o segundo violento e hostil, sem no entanto o primeiro deixar de ser hostil e o segundo deixar de ser branco. Gostaria de ressaltar isso que configurei chamar de afetividade dos corpos. Dou esse nome pelo fato das personagens não estarem muito ligadas à historicidade da outra, ao seu passado, nem tampouco com a situação atual da trama narrativa, mas sim uma ligação que se dá entre corpos, com suas vicitudes e prazeres, necessidades do instinto e do fisiológico. Esse tipo de afeto desloca a noção das relações humanas para um campo interessante de se pesquisar e que, me parece, se reflete também um bocado em “Amor” (2012) que concorre ao Oscar de melhor filme em 2013. Destaque também para a excelente interpretação também candidata ao Oscar de Emanuelle Riva.
“Amor” é a história de um casal de idosos apaixonados por músicas e pela presença um do outro quando, um dia, um lapso de tempo da mulher se releva em uma sequência de doenças que degeneram seu corpo, enquanto que o marido, frágil, faz de tudo para a manutenção da vida e da dignidade da esposa. Até certo ponto ou...até o limite.
De alguma forma, dentre os filmes que falei, esse talvez seja o menos radical de todos (e talvez por isso é que esteja entre os indicados ao Oscar), mas mesmo assim  acaba sendo uma excelente forma de conhecer um pouco do que seria o trabalho de Haneke. “Amor“ mexe com nosso horizonte de expectativa, na medida em que monta um amor que não se firma, que parece ser mais moral e ético que afetivo, mas nem por isso menos profundo, e que só consegue afetar-se nos cuidados do corpo e na relação que se dá pelo encontro com a música: as canções, o piano, os cds.
Espantou-me a indicação de Haneke ao Oscar, mas também me deixou contente. Entretanto, creio que “Amor” não tem força suficiente para combater todo o aparato hollywoodiano de promover comoções. As sutilezas do filme, os silêncios, a brancura e as câmeras estáticas, resultado de um diretor que sabe exatamente o que quer e o que não precisa fazer, resulta em uma belíssima obra, mas que perde em energia frente a infinita felicidade de energético dos estado-unidenses.

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