17 janeiro 2013

Argo (2012)


Uma das coisas mais importantes para quem pretende adentrar o mundo da arte, seja teatro, cinema, poesia ou o que quer que seja, é saber mapear o tamanho de si próprio. Saber até onde suas pretensões e suas ideias podem ser levadas a cabo e serem realizadas. Longe de isso querer dizer que a pessoa deve se limitar ou fazer algo que não esteja nas suas necessidades interiores, mas perceber que ela está ao serviço da arte, não a arte a serviço de seus interesses. O artista é o funcionário público da arte: serve a ela e às demandas da sociedade – sempre – em tensão.
Acho que esse é o maior erro de Argo (2012), direção de Ben Affleck, candidato a melhor filme pelo Oscar 2013. O passo é maior que a perna, a pretensão é maior que o roteiro, a proposta, a ideia, a narrativa e a história e por isso, o filme, que é absolutamente bem feito, frustra o espectador que percebe todos os potenciais desperdiçados dentro da trama.
Argo trata de um agente da CIA que precisa inventar um plano para retirar seis diplomatas americanos que estão presos no Irã na casa do embaixador canadense, após terem conseguido escapar da invasão da população local em sua embaixada. Baseado em fatos reais, a trama se passa na década de 70, quando o Xá, ditador local, é enviado para tratamento de câncer nos EUA e a população se manifesta para o retorno do comandante que deve ser julgado pelos crimes que cometeu durante sua estadia no poder.
A estratégia pensada por Tony Mendez (Affleck) é montar um fake-movie com o criador de personagens de ficção científica John Chambers (John Goodman) e o renomado produtor Lester Siegel (Alain Arkin). O fake-movie é a melhor parte do filme. No entanto, o que se vê é um colcha de retalhos entre gêneros: a trama de ação, adrenalina perseguição, agentes da CIA/partes do governo mobilizados, locação exótica em país distante, dramas pessoais dos refugiados na embaixada, problemas familiares de Mendez com sua esposa e filho, comédia na produção do fake-movie.
Acontece que, no fim, a trama de Argo, o filme falso, se torna secundária e vira um filme de ação e perseguição como qualquer outro, abandonando a excelente ideia proposta no início. O resultado: a sensação que nos fica é que Argo, o filme, é uma versão piorada da produção falsa do Argo de dentro. A duplicação, nesse caso, traz mais interesse pelo filme que não se fez do que pelo que se viu. A possibilidade de realização latente se configura em aborrecido filme óbvio. De qualquer forma, é uma bela pretensão de Affleck, que deve continuar investigando um novo cinema com mistura de gêneros, e se deixar de lado os apelos dos estúdios pelo óbvio, pode vir a produzir materiais interessantes.

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