21 janeiro 2013

Lobão - 50 anos a Mil

 Lobão nada tem de Lobão. Não existe no Lobão aquele que todos citam, o chato, o polêmico, o aproveitador, o mau músico. Na verdade, é interessante perceber quantos adjetivos vão se juntando na imagem construída do músico e como poucos conseguem definir qualquer coisa de sua personalidade. De drogado, de “mal social” passou a Dom Quixote: exagero de lá, exagero de cá e ele não estava nem aí.

O caminho de sua vida é entre uma infância e pré-adolescência reprimida e uma pulsante adolescência e vida adulta, de imenso esforço de quebra de qualquer amarra e resquício de velhas ideias. O que precisa ser dito é: Lobão é como qualquer um de nós e é como todos sabemos que somos ou deveríamos ser e não assumimos ser, ou evitamos ser porque não temos coragem. Ele é a potência da existência, não fica preso às pequenas velhas ideias de amor, política, conservadorismo, família, panela, jaba, pelo contrário, ele ultrapassa todas essas estruturas e se monta, isoladamente, e justamente por isso vivencia um imenso risco: o que seria da Zona Sul carioca se se encerrasse o ciclo de que todos se dão bem entre si e trocam favores para a perpetuação desse poder que parece eterno? Pra que isso se mantenha, Lobão precisa ser louco, precisam fazer dele um imenso irresponsável, um alvo, um desperdício de talento.

Não quero sair escrevendo porque estou me parecendo muito confessional, só queria assinalar, pra terminar, o afeto que esse cara transborda em tudo que faz. Como ele mesmo diz: “eu sou o normal, vocês que são muito sangue de barata.” E é verdade. Somos sangue de barata em não fazer porra nenhuma, vivemos do medo de tudo e de qualquer coisa. Nos focamos no amor e nos relacionamentos pra não sair de casa, pra não ir pra rua. Tomamos uma vodka e dizemos: “estou bem já”, porque temos um imenso medo do que a segunda e a terceira farão. Nesse esforço de manter o controle, o que fazemos é perde-lo completamente. E o controle que se vai, não é pro descontrole, pra liberdade, pra vida, mas pra entrega do controle de nossas vidas nas mãos de outros.

Não. Pode não. Lobão tem Razão. Nesse quesito, Caetano tem. E não.

(Eu tenho tanta coisa pra escrever desse livro que...outra vez, não. Qualquer coisa me chama pra uma cerveja...e eu conto.)

Um comentário:

Anônimo disse...

belas palavras otima critica sincera e fiel meus parabens