26 setembro 2008

a bolsa e o mambo

(Dois homens fumam, aparentemente na entrada de um restaurante. Acabaram de almoçar e saíram, suas mulheres aguardam lá dentro.)


A – Será que isso vai dar certo?

B – Acho que às vezes a gente vai longe demais.

A – Você acha?

B – Sempre achei. A gente devia, sei lá, fazer coisas mais comuns, tipo ser padeiro...

A – Ou dançarinos de mambo!

B – Você acha que eu levo jeito?

A – Não sei. Dança aí um pouquinho pra eu ver.


(B dança)


A – É..acho que sim, só precisar perder uma pouco da barriga, não dá pra ganhar dinheiro dançando e com pança, né?

B – Precisar a gente precisa, o difícil é perder.

A – A gente? Eu tô super em forma.

B – Ah é, tá assim...

A – Tô...claro que tô. Mas voltando ao assunto, a gente aluga uma sala, bota anúncia e pimba!

(Aparece uma mulher. Eles disfarçam assobiam. B tosse com o cigarro.)


M – Mas o que cês tão fazendo aí? Alguém tem que ir lá pagar a conta.

A – Que isso, amor...que isso...

B – A gente tá aqui só fumando, falando de futebol, pimba, essas coisas, e já vai entrar.

M – Acho bom, acho bom. Lá dentro tá insuportável: o povo rico cada vez mais mal educado, mais pobre de espírito. É, esse mundo é assim, inverte tudo e empobrece o rico, pra enriquecer o pobre.

B – Que que tua mulher tá falando?

A – Eu sei lá.

M – Ain...saiu...

B – Pois a senhora está com uns modos muito esquisitos.

A – E por falar em sair, amor. A mulher dele já pagou?

M – Não.

A – E você?

M- Não.

A – Tá com a bolsa aí?

M – Tô.

A – vambora. (saem correndo)

B – Ei, ei...vou pagar tua conta não. Eita, viado, desgraçado... (Apaga o cigarro, bota a mão no bolso, entra no restaurante sacudindo a cabeça. Blackout.)


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