(Dois homens fumam, aparentemente na entrada de um restaurante. Acabaram de almoçar e saíram, suas mulheres aguardam lá dentro.)
A – Será que isso vai dar certo?
B – Acho que às vezes a gente vai longe demais.
A – Você acha?
B – Sempre achei. A gente devia, sei lá, fazer coisas mais comuns, tipo ser padeiro...
A – Ou dançarinos de mambo!
B – Você acha que eu levo jeito?
A – Não sei. Dança aí um pouquinho pra eu ver.
(B dança)
A – É..acho que sim, só precisar perder uma pouco da barriga, não dá pra ganhar dinheiro dançando e com pança, né?
B – Precisar a gente precisa, o difícil é perder.
A – A gente? Eu tô super em forma.
B – Ah é, tá assim...
A – Tô...claro que tô. Mas voltando ao assunto, a gente aluga uma sala, bota anúncia e pimba!
(Aparece uma mulher. Eles disfarçam assobiam. B tosse com o cigarro.)
M – Mas o que cês tão fazendo aí? Alguém tem que ir lá pagar a conta.
A – Que isso, amor...que isso...
B – A gente tá aqui só fumando, falando de futebol, pimba, essas coisas, e já vai entrar.
M – Acho bom, acho bom. Lá dentro tá insuportável: o povo rico cada vez mais mal educado, mais pobre de espírito. É, esse mundo é assim, inverte tudo e empobrece o rico, pra enriquecer o pobre.
B – Que que tua mulher tá falando?
A – Eu sei lá.
M – Ain...saiu...
B – Pois a senhora está com uns modos muito esquisitos.
A – E por falar em sair, amor. A mulher dele já pagou?
M – Não.
A – E você?
M- Não.
A – Tá com a bolsa aí?
M – Tô.
A – vambora. (saem correndo)
B – Ei, ei...vou pagar tua conta não. Eita, viado, desgraçado... (Apaga o cigarro, bota a mão no bolso, entra no restaurante sacudindo a cabeça. Blackout.)
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