01 setembro 2008

presente

Não esperei que me abrissem a porta e entrei. Lá dentro se ouvia um hip hop da moda que me incomodava a cabeça e me fazia ser ali um estranho, não gosto de hip hop, só bêbado, mas aí eu gosto de tanta coisa... Ele já devia estar a minha espera para dizer o que tinha a me dizer e eu para ouvir o que eu não havia pedido para ouvir, mas ele falaria porque é para isso que ele vivera, anotara tudo de mim e aguardava por esse momento. Eu só havia vivido como pude viver e sabia que ele anotava, mas isso nunca me influenciou, sempre que eu lembrava dele, lembrava de mim, e sempre que eu lembro de mim, lembro de tanta gente. Comecei então a refletir sobre o que ele poderia me apontar, imaginei alguns dias, analisando meu passado e cheguei a conclusão de que ele diria que eu sou assim normal e nunca pensei em ser qualquer coisa diferente disso, mas depois dirá que todos somos, ou será que ele num diz sobre todos? Talvez seja tudo tão pessoal mas tão universal que às vezes eu pareço com todos e às vezes não tenho nada a ver com ninguém.

O caminho até a sala dele era grande e tinha um corredor colorido mas escuro, velho, como se a cor fosse mais uma lembrança que uma realidade, mas lá estava porque eu podia ver. Não lembro como o tempo tava nem que horas eram, não lembrava se dormia ou se estava acordado, mas fazia pouca diferença, sempre levo a sério aquilo que eu sinto. Bato na porta e ele se levanta para abrir a porta, quando entro na sala ele já está se sentando e com o livro na mão. Eu estava suando nas têmporas, nos braços, nos joelhos, e nas mãos, como se o livro que ele segurasse jamais pudesse estar comigo porque talvez escorregasse, ou perdesse a cor, ou caísse e se estragasse, se é que isso é possível. Assim que me acomodei no sofá em frente a sua mesa, ele levantou o braço direito, coçou a cabeça, sorriu de lado e sem olhar para mim começou a falar...e eu por horas e horas ouvi.


Nenhum comentário: