A leve brisa da praia acende os faróis dos peitinhos de pêra das meninas de Copacabana, enquanto que em Ipanema uma leve cerração interrompe o fluxo dos faróis dos carros deixando à mostra mais a luz do que o iluminar. Pelos quiosques mais que movimento há um calor em ausência que apesar de não esconder os corpos, por momentos inibe parte deles que ali passam num balanço saudoso daquele dia próximo ao mar. Pouco mais para dentro estão os carros e os ônibus já quase vazios e silenciosos, não obstante os meninos que ainda vendem canetas e chocolates com suas frases monofônicas e monótonas, quase inauditas mas que anunciam um apocalipse qualquer. Pelas ruas há uma ainda uma brisa marinha quase cortante que se mistura com o calor e a fumaça dos motores dos carros que feito flechas cruzam o horizonte baixo dos olhos. Os bares continuam bares, com pessoas e álcool, cervejas e mesas molhadas, garçons nordestinos e favelados, cheios de viagens nas costas, no entanto parece existir mais, algo como um gesto nobre, como se ali estar agora fosse o revés dessa presença, como se apesar dos pesares ainda se vá lá, enquanto o calor não vem.
Cidade que foge do óbvio do biquíni e da calça curta, que aprende a vestir tênis e jaqueta que nunca caem bem como se não fizessem parte da vestimenta daquele povo, mais que isso, como se não fosse parte daquilo tudo, roupa vestida para se tirar; cidade que não abre mão do pagode de duas em duas esquinas à noite ao lado de barracas de cachorro quente e churrasquinho que forjam uma alegria de outra época, e que se percebe não dela ao andar mais alguns passos e se afastar daquele ponto, mas que logo se retoma alguns metros à frente com outra roda, outro samba antigo e outros quitutes cariocas.
Cidade que não muda tanto por fora, mais por dentro que por fora, mais do que podemos ver. Cidade que percebe na umidade da parede sem embolso a passagem do seu tempo nos cartazes velhos, lembrança da cidade que cantou em fevereiro o peso da vida, quase doída, quase sofrida, mas que cantou o sofrimento como se fosse seu porta-estandarte, como se fosse seu lema e seu tema, que cantou a vida como poema, mas que agora é memória.
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