(Um escritório. Uma mesa, um lustre. Outra mesa menor, um máquina de escrever. No fundo uma janela. A na mesa maior, C na menor. Entra Celso.)
A – Qual o nome do candidato?
CELSO – É Celso.
A – Celso de que?
CELSO – Meu nome... é Celso. Celso.
A – Mas Celso de que?
CELSO – De São Paulo.
A – Celso São Paulo?
CELSO – Não. É Celso Veira. Meu pai é que é o seu Paulo.
A – (pausa) Enfim, então é o senhor que está se candidatando para a vaga?
CELSO – Sim, senhor...senhor. Preciso, senhor.
A – Mas o senhor quer preencher qual vaga?
CELSO – Qualquer vaga, de faxineiro, de carro, tem vaga eu quero.
A – Mas aqui só tem vaga na área de advocacia. O senhor é advogado?
CELSO – Há 20 anos.
A – Mesmo?
CELSO – Muito. Muito advogado, sou advogado assim muito.
A – Então ok.
CELSO – Mas também sei fazer outras coisas.
C – (repetindo como quem copia) mas também sei fazer outras coisas...
CELSO – Sabe?
C – Eu não. Tu sabe.
CELSO – Ah.
A – Enfim, Celso...o que mais você sabe fazer?
CELSO – Do que o senhor precisa?
A de... (cacoando) um padre.
C (como copiando) Celso São Paulo.
CELSO – Viu? Ele sabe, sou padre já...
A – E...padeiro?
CELSO – Na minha terra eu era conhecido como o rei dos pães. Celso, O PADEIRO.
C – (copiando) São Paulo.
CELSO – Minha terra.
A – (ainda irônico, caçoando) Meu senhor, Celso, já vi que o senhor é muito capacitado para muitas coisas, o senhor poderia por acaso assim, subir ali naquela janela e buscar meu radinho que caiu no parapeito?
CELSO – Mas é evidente.
A – E fazer isso pulando num pé só?
C – Na minha terra eu era conhecido com Celso Saci, o saci mais famoso das festas, o mais conquistador. Era um ídolo.
CELSO – Ei, isso eu não disse.
C – Disse sim, eu anotei e tem mais, você disse outras coisas até.
A – Ora, disse ou não disse?
CELSO – Ter dito é bom?
A – É.
CELSO – Então eu disse sim, falei até mais de uma vez até, três vezes eu disse.
A – Pois então vá buscar o rádio.
(B começa a ir, quando A interrompe)
A – Calma, vamos fazer uma hipótese aqui. Ele ali...
C – Eu?
A – É...você!
C – Mas eu anoto só.
A – Mas agora vai fazer outra coisa.
C – O que? Ah, meu deus...
A – Você vai estar ali no parapeito, com o radinho na mão tentando se matar porque o Vasco perdeu.
C – Mas eu nem sou vasco.
A – Agora é...muito vasco.
C – Ah...droga.
A – Vai lá. ( C vai até o parapeito e começa a se lamentar.) Agora você, Celso, tem como função ir lá e convencer nosso amigo a não se matar.
CELSO – Está bem.
(CELSO se dirige até C que faz lamúrias do tipo: “Ah meu deus, minha vida num faz mais sentido, quero morrer, ó vida cruel.” Isso sem deixar que CELSO fale hora nenhuma.)
CELSO – Osh, mas esse sujeito num deixa eu falar...
A – Ora, meu amigo, seu tempo está passando.
CELSO – (para C, baixinho) Ei, amigo, teu dou 5 conto para tu descer daí!
A – Que disse?
CELSO – Nada, disse “é muito cedo pra partir...”
C – Não. 5 vezes infeliz é pouco, quero mais infelicidades, mais...
A – O que ele tá falando?
CELSO – Eu que sei?! (para C) Dez, dezinho tá bom, né?!
C – ò, só com dez infelicidades não há acerto com Deus...nada, nada...
CELSO – (alto) Vinte...Vinte...
C – Oh, você me salvou da morte, amigo.
A – Ora, vinte...vinte o que?
CELSO – Vinte...vim te resgatar, ainda bem que consegui. E aí, consegui o emprego?
A – Falta subir na mesa.
CELSO – (sobe) Só?
A – (improvisando) Subir no lustre...
CELSO – (vai fazendo) moleza.
A – E rodar.
CELSO – Ai...
A – E cantar.
(CELSO canta)
A – gritar, urrar, imitar um elefante.
(CELSO imita)
C – Tá fraco, hein!
A - Então pula pra cá.
(B pula. Escuridão.)
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