13 janeiro 2013

Indomável Sonhadora (2012)



O pensamento do ser humano na perspectiva da sua animalidade não é novidade, apesar de ainda ser um dos maiores mistérios que temos a desvendar. No entanto, muitas vezes esse pensamento é só a produção de uma imagem, uma metáfora, uma categoria do pensamento articulado.
“Indomável Sonhadora”, péssima tradução para “Beasts of the Southern wild” não está nesse caso. A dimensão da animalidade não está no pensamento do encontro seu com o seu extrato profundo de reintegração com instintos, desejos, mas é uma animalidade como estatuto de vulnerabilidade frente a inexorabilidade da violência da vida.
Sobrevivência não é a palavra que deve ser ressaltada, mas talvez algo parecido como “vida em latência”, na tentativa de unir as pontas do corpo do homem com o movimento animal. Por isso talvez, seja bastante destacável e inteligente a utilização de uma menina de 6 anos como papel de protagonista, ou seja, um ser ainda na idade em que as noções das regras sociais e da função de cidadania ainda não estão formadas. Então, aquele ser em formação passa a ser a realização da utopia dessa força selvagem e bestial que é ressaltada no título em inglês e perde toda a forma ao ser traduzida em português por “Indomável” e termina de ser destruída com o termo “sonhadora”.
A criança, o animal, ou o animal-criança não é sonhador, pois não tem a dimensão de alteridade. Ela é o sonho, ela vive o encantamento do mundo e a pulsão desse mundo desorganizado e caótico.
“Indomável Sonhadora” é um belo filme. Deve ser visto e pensado não como o lugar dos que nada tem, mas como a força e a importância que é não ter nada e , justamente por isso, viver numa condição ímpar de estar mergulhado na  liberdade.

2 comentários:

Pedro disse...

foda. deleuze mandou beijos. quero muito ver.

Mariana Burgos disse...

fiquei curiosa. vou assistir.