Lobão nada tem de
Lobão. Não existe no Lobão aquele que todos citam, o chato, o
polêmico, o aproveitador, o mau músico. Na verdade, é interessante
perceber quantos adjetivos vão se juntando na imagem construída do músico e como poucos
conseguem definir qualquer coisa de sua personalidade. De drogado, de “mal
social” passou a Dom Quixote: exagero de lá, exagero de cá e ele
não estava nem aí.
O caminho de sua
vida é entre uma infância e pré-adolescência reprimida e uma
pulsante adolescência e vida adulta, de imenso esforço de quebra de
qualquer amarra e resquício de velhas ideias. O que precisa ser dito
é: Lobão é como qualquer um de nós e é como todos sabemos que
somos ou deveríamos ser e não assumimos ser, ou evitamos ser porque
não temos coragem. Ele é a potência da existência, não fica
preso às pequenas velhas ideias de amor, política, conservadorismo,
família, panela, jaba, pelo contrário, ele ultrapassa todas essas
estruturas e se monta, isoladamente, e justamente por isso vivencia
um imenso risco: o que seria da Zona Sul carioca se se encerrasse o
ciclo de que todos se dão bem entre si e trocam favores para a
perpetuação desse poder que parece eterno? Pra que isso se
mantenha, Lobão precisa ser louco, precisam fazer dele um imenso
irresponsável, um alvo, um desperdício de talento.
Não quero sair
escrevendo porque estou me parecendo muito confessional, só queria
assinalar, pra terminar, o afeto que esse cara transborda em tudo que
faz. Como ele mesmo diz: “eu sou o normal, vocês que são muito
sangue de barata.” E é verdade. Somos sangue de barata em não
fazer porra nenhuma, vivemos do medo de tudo e de qualquer coisa. Nos
focamos no amor e nos relacionamentos pra não sair de casa, pra não
ir pra rua. Tomamos uma vodka e dizemos: “estou bem já”, porque
temos um imenso medo do que a segunda e a terceira farão. Nesse
esforço de manter o controle, o que fazemos é perde-lo completamente. E o controle
que se vai, não é pro descontrole, pra liberdade, pra vida, mas pra
entrega do controle de nossas vidas nas mãos de outros.
Não. Pode não.
Lobão tem Razão. Nesse quesito, Caetano tem. E não.
(Eu tenho tanta coisa pra escrever desse livro que...outra vez, não. Qualquer coisa me chama pra uma cerveja...e eu conto.)
Um comentário:
belas palavras otima critica sincera e fiel meus parabens
Postar um comentário