28 abril 2009

aniversário

Uma vez por ano era seu aniversário. Era batata, estava tudo normal, daí um dia as pessoas começavam a abraço-lo, deseja-lo tudo de bom, felicidades, que ganhasse muito dinheiro, tivesse juízo, mulheres e mais, porque as pessoas sempre achavam tudo pouco e acabavam a frase com “enfim, tudo de bom no mundo” e ele sempre queria que esse dia acabasse mais rápido, porque só o fazia lembrar que nunca teria felicidade, dinheiro, juízo, mulheres, muito menos tudo de bom no mundo.
Era um dia que lhe enganava, lhe fazia sentir-se especial, querido, desejado e centro das atenções sem motivo, o que para ele era tão bom, já que passava a vida se esforçando para que lhe dessem atenção e sempre era tão cansativo. Muitas vezes ouvia o renato russo cantar que o mundo era tão complicado numa música absolutamente feliz e pensava: “que merda, ele é feliz e o mundo dele complicado. Eu não.”
Depois percebeu que nada disso que pensava era verdade. Ele é que gostava tanto de sua vida e tanto do que fazia que não queria que nada daquilo passasse e sempre que começava a passar fazia um esforço imenso para que não fosse, mas ia. E ele ficava sozinho. Daí ele construía tudo de novo, pedra por pedra, sentimento por sentimento, porque os sentimentos sim são de pedra, pois nunca se quebram até que..zuum, se foi tudo de novo. No fundo, era tudo feito de reflexos, de espelho, de reprodução, de tentar fazer com que tudo voltasse pra um mundo cheio de janelas, um mundo que já era. Nunca voltou. Nem ela.

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