14 abril 2009
hamlet, nosso.
Sempre e sempre nos debatemos com as formas. Tudo o que se vai dizer está selecionado, maturado, pronto para a descoberta que há de ser feita nas primeiras linhas, mas não consigo encontrar a forma de dizer. Às vezes apelo para trocadilhos vazios, como quando digo: “a maneira de escrever deve ser maneira”. Enfim, a história que tenho é a história de Hamlet, imaginei ela inteira tal qual ela é sem minha interferência, mas imaginei, pensando na idéia de “o teatro do mundo” do Shakespeare que hoje em dia temos as personagens da trama misturadas em todas as situações da vida. Não é raro ver um ‘irmão’ ‘matar’ o’ rei’, pelo amor da ‘rainha’ para ‘desposa-la’. Os afetos hoje são tão raros que o ‘incesto’ aparece em quase todas as ‘relações de intimidade’. E as aspas são tão necessárias que aparecem em quase todas as palavras. Quem é em sã consciência que não vê ‘espectros do passado’ vindo interferir no presente e quem não ‘enlouquece’ ao refletir que ao mesmo tempo deve se ‘vingar’ pelos males que lhe foram feitos e assim restituir alguma coisa e por outro lado se deve manter ‘virtuoso’ perante os outros e o mundo? Quem nunca chegou ao ‘ser ou não ser’? E essa pergunta pode se aprofundar mais ainda: Quem é que ao enlouquecer não fez outra pessoa enlouquecer também? Quem não mandou um ‘amor’ se trancar a todos, não confiar em ninguém, e ao se auto-intitular canalha mandar uma ‘inocente’ para um ‘convento’ e lá se proteger de tudo e de todos? Mais aspas foram usadas. Acontece que não há ordem no mundo mesmo, não há nada que deva ser restituído, há somente uma seqüência aleatória de fatos que não devem ser levados em conta como cadeias de acontecimentos, nem como passagem temporal. Então ser ou não ser passa a ser uma decisão de segundos para segundos, com conseqüências que podem punir, mas jamais consertar o passado ou preservar o futuro. E para Hamlet só resta seguir um destino desconhecido que parece amarrar sua história, mas que não o faz, gera dor, sofrimento e morte mas nunca nem por um instante serve para redimir uma vida ou uma injustiça, e o resto...o resto todos já sabem.
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