15 abril 2009

gigante

No meio da rua dois cachorros brincavam. Pequenos, frágeis, ficavam a se cheirar, morder cada vez mais forte até doer e rodar ao redor do próprio eixo. Estavam bem alimentados. Atrás deles, em pé, conversavam uma mulher e um homem, seus donos. Falavam deles, de como comiam, viviam, brincavam, onde mijavam e cagavam, sabiam com detalhes cada atividade diária deles, e agora já não podiam precisar se foram eles que impuseram aos cães essas atividades, ou se foram os cães que as escolheram para si. De qualquer forma, não estavam dispostos a alterar essa ordem.
Primeiro passou ali uma mãe puxando pelo braço um menino melequente, barrigudo, babado e com grossos óculos.
Que péssima mãe! - disse a mulher para o homem.
Péssima e ninguém fala nada. - respondeu.
Como pode, meu deus, como pode...
Depois um carro vermelho cruzou a rua e buzinou para enxotar os cachorros da pista.
Olha como dirigem. - disse ela.
Como monstros, assassinos. - Respondeu ele.
Podiam matar alguém.
E ninguém faz nada.
Permaneciam ali defronte dos cães a falar do que quer que fosse que cruzasse a rua, e se houvesse tempo, não seria esse que percorre nossa vida, mas um outro, mais relativo ao tempo que as coisas tem em si, como se fossem o apocalipse do mundo: um mundo sem fim.
Quando vira na esquina um homem forte, alto, gigantesco. Vinha com passos pesados que podiam ser sentidos ao longe, onde estava o homem e a mulher. Os cães correram para dentro, acuados, e os dois humanos permaneceram ali, pois mais do que nunca pareciam hipnotizados pelo que olhavam. Mais de perto, puderam ver que o homem está vestido com uma calça jeans surrada e uma camiseta grande demais até para seu gigantismo. Seu tênis vermelho talvez 48 ou mais parecia poder cruzar todo o horizonte em poucos passos. Via-se também que na mão dele estava um picolé de uva, pela cor roxa, que em sua mão parecia minúsculo. Na primeira mordida ficou a impressão de que todo picolé se fora, mas não, ele crescia na medida em que o homem se aproximava.

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