07 abril 2009

objetos quase ou citações

Como se sabe eu odeio citações, porque geralmente elas que no contexto são usadas em casos particulares ao serem destacadas ganham um valor universal quase que taxativo, que incide diretamente para dentro de si mesma, como um provérbio, numa atitude absolutamente autoritária, de signos fechados e incontestáveis. Uma muito usada que me irrita profundamente é "tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas.", frase do pequeno príncipe, livro até gostoso de ler e com boas reflexões. Essa citação é péssima, porque acho que quase ninguém quer ser eternamente responsável por nada, até um assassino pagasua pena e depois fica livre, ser eternamente responsável é praticamente dar um atestado de prisão perpétua, ou até uma pena de morte. Na verdade, quem usa essa frase está querendo dizer que é incapaz de se tornar uma pessoa menos triste e passa a responsabilidade para outros, como se isso fosse possível.
É tipo dizer "conheço o sujeito como a palma da minha mão". Olha que coisa horrível, isso no fundo significa: "desiste de tentar me surpreender, porque não vai conseguir", e o pior é que tem gente que acredita e se acomoda.
Para terminar esse belo post, como sempre padoxalmente ao que eu acabei de dizer, vou usar uma citação do Saramago, óbvio. Em algum momento de um conto, ele diz: "tudo são objectos. Quase." O que tento dizer é: ao se citar tenta se apreender, segurar o outro como um objeto, e no fundo tudo são objetos. Quase.

Um comentário:

Camila Placido disse...

Ótima crítica Pequeno. Tamebém acho que de certezas absolutas já estamos cheios... Precisamos de escritores mais desapegados assim haha