28 dezembro 2008
fim do ano - com o house
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Eu sempre quis estar certo. Ok, mentira, nunca quis estar certo porque sempre percebi quanta responsabilidade tinha nisso, mas sei que eu sempre quis fazer o certo, ser o mais justo possível, estar do lado de quem precisa mais. Por isso sempre fui mais amigo das empregadas, dos pobres, dos nerds, porque na minoria eles aprenderam a humildade e a capacidade de sorrir até das coisas menos valiosas, e assim, aprenderam outros valores mais simples.
Sempre achei que sendo assim eu seria cada vez melhor, cada vez um ser humano mais capaz de propiciar coisas boas ao mundo e trazer felicidade para quem está perto, de fazer sorrir quem precisa e fazer quem não precisa sorrir entender o peso que o sorriso tem para alguns.
Daí chegou o House e me mostrou a brutalidade que está em fazer o certo, mostrou o quão pode ser violento o bem acima de qualquer coisa, mostrou que o preço que se paga por ser assim é muito alto, pois a maioria das pessoas está absolutamente apta e até aceitando a mentira como forma de viver, aceitando o erro, o mais ou menos, a pior possibilidade como maneira de alegrias momentâneas, provisórias e até aleatórias, pois não fazem parte de uma cadeia de vida, são simplesmente atitudes de curta validade, por isso existe tanta crença em deus, em namorados ruins, em pequenas viagens, cachaçadas em boates caríssimas.
Veio o House e me mostrou que ter caráter é afastar pessoas, porque é perder a capacidade de ser flexível. Eu ainda não sou capaz de fazer tal qual ele, nem nunca serei porque ele é um personagem, mas conhece-lo e rir dele e com ele em 2008 foi um grande prazer.
27 dezembro 2008
o que falta
amar direito
25 dezembro 2008
eu, o natal e o movimento das moléculas
Sempre quando minha mãe me acordava para ir a escola ela o fazia igual: abria a porta da cozinha e vinha até meu quarto cuja porta era aberta com todo cuidado para me acordar com gentileza, entretanto eu quase na totalidade das vezes acordava quando ela ainda não havia chegado a encostar na porta, eu acordava antes, alguns segundos antes e isso na minha cabeça sempre funcionou como uma aproximação do movimento de moléculas. Era como se para dormir eu precisasse de uma regularidade das moléculas do mundo, como se elas precisassem estar em equilíbrio, e assim que minha mãe ia chegando perto, tudo se desorganizava e meu organismo me acordava, já sabendo bem mais de tudo que eu.
Depois o mundo sempre me deixou essa impressão molecular, de movimento, quando a chuva vem, antes algumas moléculas avisam, quando o ônibus está chegando alguma reação molecular me alerta. Acho que basta estar atento a ela que assim poderemos ter uma intuição maior, uma percepção mais gentil e mais acalentadora das coisas, por isso que o natal para mim sempre é mágico, porque há moléculas em movimento no mundo de pessoas com esperança, com fé e mesmo que isso na prática se mostre com uma candura excessiva e desconfiável, até ingenuamente falsa e breve demais para ser real (ou seja, não passa pela repetição que disse lá em cima) creio que nesse dia é tudo sincero. Assim, as comidas, as conversas, os vinhos, até a coca-cola se torna diferente, melhor, e por isso que quero no futuro uma família grande com muitos filhos para que meu natal seja sempre cheio de movimentos de moléculas, que no fundo, talvez seja o meu jeito de acreditar em deus.
22 dezembro 2008
bentinho
Era em capitu que eu mantinha minhas vontades, meus desejos e meus sorrisos. Para mim, longe dela tudo e qualquer coisa eram iguais e embora pudesse não haver sofrimento, jamais poderia haver sentido, tempero, jamais haveria para mim aquilo que digo que é a vida. A vida que eu tinha.
17 dezembro 2008
uma concha
14 dezembro 2008
bola dividida
Assim que essa música chegou até mim, quase nada mudou, praticamente sou o mesmo e o mundo também. Interessante perceber que mais que uma frase, isso está cada vez mais se tornando uma filosofia de vida. Primeiro digo o que é bola dividida: está o jogador A e o jogador B na mesma distância da bola, ambos de frente devem correr até ela e chegando juntos fincarem o pé nela até que alguém saia com ela dominada.
Pode-se fazer isso de vários jeitos, um deles é tentar chegar um pouco antes com o bico da chuteira e dar um toquinho para o lado tentando o drible, dá pra ficar na defensiva esperando o toquinho do outro e só tentar parar a bola, e se pode chegar rasgando chutando bola, chutando pé, chutando tudo que estiver pela frente.
Eu, pelo porte físico, pelo risco e pelo pouco aproveitamento desse tipo de jogada, sempre evitei entrar em dividida, porque para mim futebol é ataque, é passe bonito, enfiada e gol. Dividida é a parte feia, é a parte do sufoco, da marcação pesada e esse tipo de jogo por mais que quase sempre seja vencedor, acaba sendo um futebol feio e isso é o que menos me interessa.
Agora pegue isso e passe para todos os lados da vida, é isso que tenho feito, até agora não sei o que é a bola, o que é o jogador e cada coisa que expliquei. Na verdade, nada está muito certo na minha cabeça, fiz somente uma metáfora, e vocês façam com ela o que quiserem.
13 dezembro 2008
parábola
- Ela já deve estar chegando, vai logo comprar o pão.
- Mas se ela já está chegando, como vou comprar o pão?
- Corre, que você ainda chega antes dela.
- Ela vai estar cansada, de viagem, nem deve querer comer, e além do mais, seria muito chato encontra-la no elevador. Ela nem deve me reconhecer mais.
- Como não? É sua sobrinha, é mais fácil você não lembrar dela.
- Vai que ela não gosta de pão?
Quem não gosta de pão, não merece ficar na minha casa.09 dezembro 2008
house.
House está no terraço sentado no parapeito, gira a bengala e olha para o horizonte. Cuddy entra apressada e com cara de não estar satisfeita.
- Você não deveria estar cuidando de seu paciente?
- Cuido dele daqui.
- Mas como?
- Ficando longe dele, quanto mais longe dele, mas eu sei.
- Fazia tempo que você não vinha aqui, quando vi que subia, resolvi vir atrás.
Ele desce, abre a porta, ameaça a sair mas se volta.
- É o que você faz. Sempre atrás de mim. E o decote está cada vez maior.
- Esse era um lugar especial para você. Eu sei...eu lembro.
- Pena que você estraga vindo toda vez que eu venho.
Ele sai, ela olha para o horizonte que ele olhava, não vê nada, vai sair também, atrás da porta está House com a bengala no caminho. Cuddy tropeça e rola a escada, parece não se machucar. House com esforço pula sobre ela rindo.
- Você sempre esteve caidinha por mim.
08 dezembro 2008
parabéns ao vasco
Venho por meio desta desejar meus parabéns ao Clube de Regatas vasco da gama, clube que dá tantas alegrias à algumas torcidas cariocas, clube que foi regido por 15 anos por um dos maiores mitos da política brasileira, que tem um dos maiores cobradores de penalti encerrando a carreira em seu elenco e clube que tem um presidente que é o segundo melhor jogador da década de 80 carioca!
E isso não é pouca coisa, e deve ser comemorado, principalmente numa segunda!
07 dezembro 2008
longo caminho
Lóri não disse nada porque não conseguiu entender muito bem, mas sentiu no fundo da alma o risco que corria, deitou-se na cama, olhou para Ulisses, depois para a janela e vendo uma árvore,começou a pensar como aqueles galhos pareciam tão precisos. Sorriu e teve medo de si.
Luiz Antonio Ribeiro
06 dezembro 2008
o maior amor do mundo
e o mundo
30 novembro 2008
sentimento bom
Porque sentimento não nasce do nada, se nasceu fato que vai embora do nada. É coisa que se luta, que se nega, e vai ganhando, e galgando degrau por degrau. Quando aparece pronto a gente num dá valor, quando é fácil demais parece sempre pouco, por maior que seja.
Acredito cada dia mais que um sentimento bom não aparece e não existe sempre, que quando vem a gente quase pede desculpa por ele ter vindo de tão raro que ele é, e acredito que o perdão é uma das melhores formas dele aparecer, porque é no perdão que se renovam as forças, ou é nele que elas se testam. Antes disso é só banalidade e por mais que elas divirtam, na maioria das vezes num tem graça em nada e é nessas horas que eu entendo que sentimento bom, qualquer um, é sempre mais que bom, e se não for real a gente inventa.
28 novembro 2008
a certeza
27 novembro 2008
mais feliz
A sala da minha casa é de decoração absolutamente clean, sabe? Resolvi que teria o mínimo possível lá dentro, por isso pedi que botasse um janelão, o maior que pudesse, para aumentar a vista, aumentar a cortina, mas economizar em móveis e quadros. No chão um grande tapete bege, com muitos pelos pra ficar bem macio e também poder servir de refúgio, um sofá bege, um banco bege com rodinhas, na frente um rack, com a televisão e os aparelhos da época, uma mesa com tampão de vidro, umas revistas, uma parede roxa, só uma e um quadro nela, que preferi que fosse abstrato para que não tivesse nenhuma referência. De nada nem de ninguém.
Agora eles passaram pelo corredor, eu consigo ouvir os passos.
Escolhi praquele lugar de passagem tudo muito simples, um piso que fosse silencioso, uma pequena mesa para botar o telefone, sempre bom ter telefone no corredor, facilita os contatos. No teto um grande lustre caríssimo que consegui num antiquário que cobra tudo mais caro ainda, portanto esse caríssimo saiu baratíssimo, sabe como é, né? Num perco uma liquidação.
É um homem carregando um corpo de mulher.
Então, eu moro com um casal, sabe? Eles se amam muito, dormem no último quarto, o maior e mais bonito que eu mesma decorei. Ele é lindo, tem uma cama gigante com o melhor colchão da cidade, tem um tapete que eu gostaria de morar se fosse possível, tem uma balcão maravilhoso onde fica o computador dele, e na gaveta que ficam os segredos, as fotos escondidas que nunca poderiam aparecer. Tem também a arma dele. Isso só pude ver um dia, quando visitava minha amiga que mora em frente e da janela dela, vi a imensa janela daqui e ele estava com a arma apontada para seu próprio rosto. Ele parecia cego.
Tem sangue por todo o corredor.
Uma vez eles já brigaram, isso sempre acontece. Se não morrer ninguém para mim está bom, também porque não deveria estar? Eu moro aqui de favor, devo aceitar tudo que eles me dizem. Eu até aceito. O problema dessas brigas é que me tranco aqui, para não atrapalhar, para não virar testemunha nem cumplice de nada, porque é sempre assim, é só ouvir uma palavrinha que logo depois vem um de cada vez pedir conselhos, pedir que eu intervenha e dê pitacos. Deve ter sido uma queda, só isso. Ele não faria nada, e ela não teria se feito nada.
Ele bate na minha porta.
Muitas vezes, durante a noite ele bateu aqui. Queria alguma coisa, mas parecia perdido, depois de muito tempo descobri que ele era sonâmbulo e esse quarto era onde morava sua mãe, então ele quando pequeno corria até ele para se socorrer, era um espécie de abrigo, por isso ele tantas vezes bateu aqui, é por isso, claro, ela me explicou.
Abro a porta e ele está com a arma apontada para mim. Grito também, o que você fez com ela? O que você fez? Eu não tenho nada a ver com isso. Com a arma ele me empurra para a cama, eu paro de gritar.
Em alguns minutos ela foi estuprada, morta e jogada pela janela, a outra lá também. Ele disse que amava as duas antes de mata-las, acendeu um cigarro, cuspiu na pia, viu que saía sangue e se lembrou que era tuberculoso. Foi para a rua com a arma na mão e entregou ao primeiro mendigo que encontrou. Essa noite o mendigo compraria drogas e ficaria doidão, então chamou os amigos que viviam com ele na rua para uma festinha especial. Estava muito feliz, muito feliz.
26 novembro 2008
romance
Ando falando de romances sempre com muito cuidado, porque como já se sabe é na infelicidade que ele mais se alimenta e é na alegria que ele se sufoca. Um romance, então, nada mais é que a mistura de amor e paixão, que no fundo são a mesma coisa, perdoando-se as intensidades. Ele é a mistura porque é tudo aquilo que a gente não consegue saber e não consegue perdoar, na verdade, ter um romance é perdoar eternamente sem conseguir no entanto entender o porque de um perdão, é saber que não adianta fazer mais nada para que as coisas fiquem melhores e não adianta nem sequer imaginar que a pessoa está mudando, porque romance é permanecer naquilo que não vai mudar porque se mudasse, é como disse, já estaria começando a terminar.
Vendo esse filme reconheci um monte de necessidades minhas jogadas por aí, quase à deriva, mas que na verdade, eu ando escondendo muito bem, porque não quero que seja de ninguém, então ao fingir que elas não existem, elas deixam de se alimentar e hibernam em mim de preguiça, e isso já se reflete na prática em minha vida, nos meus atos. O que não quer dizer que não quero que tudo mude, é o que mais quero, as canções estão aí para provar o que eu digo.
Ao ver esse filme, que não me fez chorar, mas me alegrou, me deixou feliz e me fez valer a quarta-feira quase muda, porque agora o silêncio tem sido meu melhor amigo, percebi o quanto é legal para a vida ficar pensando nessas coisas que não tem solução, mas fazem um bem e um mal danado.
25 novembro 2008
a paixão por caetano veloso
Daí a gente vai pro passado e vê ele novíssimo fazendo história com "alegria, alegria" e pensa que a melhor música do mundo está no Brasil e essa cambada de gringo tem tudo, talvez até algumas coisas melhores que a gente, mas que jamais podem ser comparados com um cara desses, pois é aqui onde tudo é tão diferente que as coisas podem verdadeiramente acontecer, e como diria o próprio Caetano: "pelo Brasil ser tão diferente, ele tem obrigação de ser experimental."
23 novembro 2008
Alice
Entretanto, comecei esse post porque pela primeira vez assisti "Alice", a série da HBO. Aliás, assisti parte de um episódio e já parei para escrever aqui, e escrever falando mal. Não tenho nada a falar da atriz, nem da direção, é até tudo muito bem feito e bonito, o que me incomoda é essa tendência a querer parecer contemporânea. Primeiro, porque tem que ter drogas? Segundo, porque tem que ter sexo? Acho que pode até ter, mas isso quando for estritamente necessário para o roteiro, para a história, para a fábula. A cena de hoje que o irmão de Alice se masturba no banheiro cheirando a calcinha da amiga da irmã é muito mais bonita que as outras três cenas do episódio de namorados fodendo. Até a cena que esse mesmo irmão quer comer a amiga (ainda não acabou, não sei se vai comer, mas que quer, quer) é menos interessante. E isso não é caretisse. Quanto às drogas, faz tempo que não é mais "in" mostrar que os riquinhos de cidade grande usam drogas, aliás já fica até chato e eu automaticamente penso: "ih, alá, já vão ficar doidões de novo..." e perco o interesse.
Porém, o que mais me assustou nessa série foi a quantidade de tempo que celulares tocam. Sério, mesmo na cena que não toca o celular de ninguém, pode ser ouvido ao fundo uma musiquinha de algum celular tocando. Não sei se isso é prerrogativa ou eles estão fazendo propaganda da vivo, oi, claro ou tim, mas que fica absurdo, isso fica, tanto que muitas vezes acabei pensando: "não é possível, deve ser o meu".
Já houve coisas menos caretas e muito mais atuais.
(E o rapaz com certeza vai comer a mulher, ela já está bêbada rebolando na frente dele, pena que ela já mostrou o peito duas vezes no episódio o que tira um pouco da graça.)
22 novembro 2008
o anão
Um anão, por detrás da porta, tentava olhar para a fechadura. Imaginava o que haveria do outro lado, se era uma mulher que tomava banho, ou um homem que contava dinheiro, podia até ser um quarto vazio, chegava a pensar, entretanto continuava ali de pé, pois parecia ter ouvido um barulho vindo de lá poucos instantes atrás. Foi até a sala, adjacente ao quarto onde estava e pegou um banco para assim poder alcançar o bendito buraco. Quando postou ali o banco e subiu, foi que se deu conta que a porta estava aberta, pois algo tremera lá de dentro, mas já não havia tempo, um homem abriu-a com violência, tinha ódio nos olhos e uma veia saltava da testa. O anão, que por sinal era negro, tombou ao chão junto com o banco batendo com a nuca que no impacto fez um barulho oco. Já o homem enfurecido não quis saber da intromissão do pequeno, pelo contrário, saiu esbravejando porta à fora gritando nomes e palavrões e foi ouvido desde o bater de cada porta até o arrancar do carro, alguns minutos depois.
Com muitas dores o anão se levantou ainda tonto, desnorteado, com as pequenas mãos ajeitou o banco num canto, limpou a roupa que havia se sujado de poeira e com a cabeça baixa, meio de dor, meio de vergonha, entrou no recinto. Era um quarto comum, com uma cama, uma grande janela e uma cômoda. Junto à cômoda estava uma senhora de meia idade, loira e maquiada demais com as mãos dispostas no rosto. Chorava ruidosamente e com os calcanhares chutava os pés da cadeira que sentava. O anão esboçou falar: ‘A senhora...’ Mas foi quando ela aumentou mais o volume do choro, apagando o som que ele havia tentado proferir da garganta que só agora percebia que estava demasiado seca, por isso teve de pigarrear, chamando atenção da senhora que só agora lhe havia olhado. Baixou os olhos, pois ainda não havia pensado no que dizer, o que fez com que a senhora voltasse a chorar, agora se levantando e indo até a janela. Ele foi até junto da e mais ou menos da altura dos seus joelhos disse:
A senhora está bem?
Estou como estou, o senhor está vendo.
Lamento.
E ele está indo, veja! O carro já quase desaparece no horizonte.
Não posso ver, senhora. Não posso ver.
, disse baixando novamente os olhos. Ela balançou a cabeça, secou os olhos e dizendo ‘o que importa?!’ se virou de costas saindo da sala. Do banheiro, que provavelmente era ao lado desse quarto disse algo que o anão não conseguiu ouvir. Este então saiu do quarto, pegou o banco com as mãos para colocar onde tirara, quando foi interpelado pela senhora que dizia ‘vamos, estou saindo’, assim balançou a cabeça, largou o bancou e acompanhou-a pelas escadas que descia tropegamente, só agora percebendo que sentia pontadas na nuca e também no topo da cabeça. Impressionava-se com a velocidade com que a senhora fazia essa atividade, assim duplicou sua velocidade, tentando atingir o andar térreo antes dela ou junto dela, o que conseguiu não sem esforço, pois lá embaixo chegou ofegante e bastante molhado de suor fazendo-lhe a testa brilhar, enquanto que a senhora se mantinha religiosamente maquiada e bela. Antes de a senhora bater a porta, o anão ainda deu uma olhada para dentro e conseguiu ver uma menina jovem e uma empregada que saíam de um quarto de porta vermelha que não havia reparado quanto estivera lá dentro.
Dentro do carro tentou fazer algumas perguntas para a senhora, mas além da caixa de som do rádio que estava numa altura insuportável ficar logo ao lado de sua cabeça, o cinto de segurança lhe incomodava por demais, pois roçava em seu pescoço e começava a deixar uma grande vermelhidão que só ele reparava, pois a cor negra esconde dessas coisas. Foi quando já estava preste a num impulso chegar até o botão do volume do rádio, que viu a senhora dar a seta e entrar na garagem de uma igreja. Antes mesmo de sair do carro já foi recebida por um padre, branco de testa grande e pontuda, que lhe sorria com grande parte do rosto.
A que lhe devo a honra, senhora?
Meu marido, padre, de novo.
Os amores são assim, senhora, os casamentos também, muitas vezes são essas discussões que fazem a paixão.
Mas eu não sei, ele me tira do sério, me tira tudo, padre.
Foi só quando o padre chegava do lado dela que viu o anão tentando se desvencilhar do cinto de segurança, ainda dentro do carro.
Quem é esse...rapaz?
Ele me acompanhou até aqui, sozinha eu não teria conseguido.
Entendo.
O anão então saiu do carro, olhou para a senhora e para o padre. Não conseguiu muito bem ver o rosto dos dois, pois o sol vinha de cima e lhe ofuscava as cores fazendo-o lacrimejar.
Já que a senhora está entregue, acho que devo me retirar.
Mas já? O senhor foi tão prestativo, me ajudou tanto.
Foi um prazer, senhora. Além do mais, a senhora está acompanhada de um homem de Deus.
Tem razão, senhor, tem razão.
Pediu a benção ao padre, fez sinal com a cabeça para a mulher e se virou de costas, andando na direção da estrada. Ouviu ainda a senhora gritar ‘o que o senhor queria lá em casa, afinal?’, virou a cabeça disse que qualquer hora voltava e continuou seu caminho.
21 novembro 2008
174
Porta a dentro entrei no cinema, não tive que passar por nenhuma roleta porque ali não havia. Sentei na última fila na cadeira da ponta, quase que sem motivos, às vezes a ameaça pode não ser verdadeira, mas o medo sempre é real, é algo mais que químico, é traiçoeiro feito veneno. Sentei ali porque me sentia desprotegido para o que iria ver e sabia exatamente como sairia, além do mais, do fundo a tela ficava menor, o moço menor, tudo menor, talvez da altura máxima do que eu poderia suportar. Na vida, todas as coisas que me importam são rosas e são espinhos e eu com a mão direita, a que mais preciso, seguro em ambos de punho fechado e das pequenas chagas o pouco sangue se mistura com a coloração da flor. Já o moço não, ele não sangra. Ele é sagrado, porque já veio sangrado e por isso, nunca se mistura com nada na vida. Quem não sabe que ele não era capaz de ler, pode achar que ele passou pelo mundo a ler Kafka, mas ele não precisou, pelo contrário, experienciou na pele aquilo que era seu destino. E eu, ao fim do filme me levantei e saí rápido porque não me aguentava das pernas, fui ao banheiro, mijei, me olhei no espelho, ajeitei o cabelo e guardei o óculos, fui até uma pizzaria, sentei na mesa mais ao fundo que tinha, comi uma fatia, tomei uma coca e sozinho me dirigi até o ponto, onde peguei o ônibus para vir para casa.
15 novembro 2008
duas palavras
13 novembro 2008
a chuva
Lembro também que corria quase um rio e eu sentava na minha janela pra olhar sempre com espanto o tanto de água que descia, lembro que era bom isso, lembro que ficava horas assim. Outra lembrança é de quando num dia de chuva tentei me esconder para que ela não me visse molhado, não adiantou, ela viu e não se importou, pelo contrário, gostou do que viu e sorriu, este sem dúvida foi um dos melhores dias da minha vida.
Agora chove e isso não representa absolutamente nada, eu ignoro a chuva e ela não me atrapalha. Não estou fazendo nada mais do que deveria fazer, resolvi escrever aqui por puro tédio e não preciso mais de desculpas para sentir as coisas que de verdade nem sinto, pelo contrário até me forço a sentir. Chuva para mim é lembrança, que como de criança, é boa mas não é verdade e tampouco importa.
11 novembro 2008
vida e sonho
A tempestade - Shakespeare
Ou seja, está tudo aí, o mundo é nosso, a gente sai de uma quarto para entrar em outro, sai de um problema para entrar em outro, sai de um sonho para entrar em outro, porque se somos feitos de sonhos e sonhos sonhos são, a gente existe neles também, assim comos nos problemas e nos quartos. É sempre complicado tentar dizer que o sonho é mais do que é, porque é dar a ele status de beleza e tirar da vida a beleza dela, o que é absurdo, a vida é linda também, bela, perfeita, na medida em que irretocável, não se dá para mudar, mas vida também é sonho como diria calderon e sonho também é vida e a gente está aqui e lá e não pode ter a idéia de valorizar mais uma coisa que outra. É preciso sonhar como se vive, e viver como se sonha, por isso vejo pouca novela, porque elas misturam tudo, me confundem e sou fraco demais para ser confundido. Assim que sentimentos começam a durar demais, quando estão misturados demais no sonho e por isso que eles são tão belos, porque viram sonho/vida e por isso que viver sem sonhar por mais que a gente tente é a maior mentira, porque sonho é muito vida. Endurecer sem perder a ternura, a velha história ainda resiste.
10 novembro 2008
Obama
Meu blog praticamente está se tornando um blog que comenta o blog da tatiana, então como ela falou do Obama e falou que tinha que falar do Obama, percebi que eu também teria que falar do Obama.
Eu fiquei sabendo que ele tinha ganhado a eleição quando cheguei em casa e minha mãe me disse por telefone, já que eu estava no Rio. Era mais de uma da manhã e eu estava bêbado. Minha resposta foi: "maneiro, mãe" e para mim foi exatamente isso. Minha posição em relação ao Obama foi simplesmente de achar ele parecido com o Hamilton e com o Tiger Woods e achar que o mundo inteiro estava sendo invadido por clones parecidos, até que ontem eu li a coluna do Veríssimo no Globo e ele usa mais ou menos a minha comparação para falar coisas sérias, daí eu larguei o texto pela metade, para variar, pois esses escritores andam me irritando porque sempre querem dar alguma lição e eu não estou muito disposto a ouvir.
Agora é a parte que eu faço minha conclusão: os americanos não deram nenhum passo para demonstrar que moram no país mais democrático do mundo, o berço da liberdade, pelo contrário, eles ao elegeram Obama reafirmaram o preconceito que sempre tiveram, ou seja: tem o Hamilton, tem o Woods, a Venus e Serena Willians, logo chegou a vez deles, vamos elege-los uma vez, mas continuam sendo o outro. Lá é assim, o negro é o outro ganhando. É a velha idéia de se estar votando no diferente, no que vai mudar e eu sou muito a favor disso, mas não quando esse diferente serve para reafirmar os erros de sempre. Não é a toa que a casa é a Casa Branca.
A grande vantagem é que o Obama era mesmo a melhor opção já que o McQuem é a piada do ano como um velhinho que ainda acha que está Vietnã e pior, ainda acha que tem como tirar as tropas do Iraque com dignidade, porque para ele ainda existe dignidade.
No mundo, não há mais espaço para esse tipo de coisa, vivemos catando restos, reduzindo danos e torcendo para dar tudo menos errado.
07 novembro 2008
acalanto
se ela for de alguém que você muito aprecia, que meu abraço seja o mais parecido com o que você imaginou precisar.
se tudo for dor demais, que eu não abrace, somente esteja perto para sentir o seu sofrimento com você.
se lhe faltar fé, eu rezarei com a minha falta de fé por você, para que ela não lhe falte, logo você que foi sempre cheia dela.
se precisar de uma palavra bonita, vou improvisar com meu pouco talento qualquer coisa que lhe pare o choro, ou o medo do futuro, vou falar o que posso e até mentir para ver um sorriso em seu rosto.
se for complicado demais entender que o amor é sempre maior que tudo, eu seguro a respiração um pouco, e como morto finjo que não amo, para as coisas lhe serem o mais leves possíveis.
se você quiser dormir, eu velo por você, mas depois durmo, para que você saiba e se sinta em paz dormindo, sabendo que ninguém o disperdiça por você.
se não me quiser por perto, como não o quer, eu me retiro, fecho a porta sem reclamar, e só derramo uma lágrima quando tiver certeza que você jamais vai olhar.
se você estiver triste e procurar qualquer palavra minha, sinta o acalanto, pois alguém hoje velou, sofreu e pensou em você.
outra vez
06 novembro 2008
mr catra
Não entendo porque me apontam e me acusam por gostar de Mr. Catra. Acho que há um grande resquício de conservadorismo mesquinho totalmente mascarado de idéias progressistas que ainda não nos permite encarar as coisas do jeito que as vivemos hoje em dia. Primeiro, que toda vez que uma mulher passa na rua e nós olhamos, já estamos sendo Mr. Catra. Toda vez que beijamos uma menina e ficamos de pau duro também, e óbvio que todos os pensamentos catrianos estão ali na gente, e até nas meninas, por isso que "um tapinha não dói" e por isso que elas continuam "ficando atoladinhas", mesmo porque sabemos que buceta virgem é coisa que dá e passa. Então para mim é o seguinte: ou decidimos ter uma vida regrada sem abertura sexual, sem relações - não relacionadas - com os outros, ou assumimos que é esse mundo mesmo que vivemos hoje em dia, e assim, nele, Mr. Catra seria a nossa má consciência, aquilo que nós fingimos não pensar mas que é presente em todo nosso cotidiano. Quando ele começa um show dizendo "agora é só putaria", na verdade ele está celebrando a conquista absoluta de uma liberdade sexual que pode ser exercida, o que no caso, vai de encontro a o canto inicial de uma missa que é o pontapé para um caminho de culpa cristão que vai durar quase o tempo de um show, e no caso do Catra, a putaria se assim se queira deve ser aproveitada (como a culpa), e caso não se queira, se pode sorrir e aproveitar, ser um voyer, outra coisa que todos somos.
A liberdade sexual só é uma conquista se for realmente uma liberdade. Um dos problemas é que uma parte das pessoas que ouvem o Catra não podem exercer nenhum tipo de sentimento livre, pois não tem estudos, cultura e base familiar capazes de lhes proporcionar um pensamento crítico organizado e particular sobre muitos casos. Então, nesse caso, se culpa o pobre cantor, que na verdade não tem culpa nenhuma, tanto que as patricinhas dançam Catra e fazem faculdade, e delas sim se poderia dizer capazes de fazer escolhas. O que prova que essas duas frases anteriores são falsas, todos somos capazes de escolha, mas poucos conseguem largar um conservadorismo bushiano que nos cerca, como sendo o lado do bem. Logo eu acabo por concluir que não se pode dizer que a liberdade sexual tanto na música do Mc, quanto na vida das pessoas não é um problema ou uma solução mas sim uma escolha, que qualquer um é capaz de gostar ou não, mas de toda maneira vivenciamos isso no nosso dia-a-dia, que deve ser respeitado enquanto nosso mundo, e nesse sentido o Mr Catra por conseguir sem mascarar uma beleza ou um amor que está cada vez mais difícil de acreditar, consegue ser absolutamente atual e falar de um sexo que, assim como amor, todos sabemos a importância que tem na nossa vida.
05 novembro 2008
exercício dramatúrgico
HOMEM - Vem espremer o cravo grande das costas.
MULHER - Onde?
HOMEM - Aqui...
MULHER - Mas...mas...porque você não pede pra outra pessoa? Eu sou cega.
HOMEM - Porque eu só confio em você.
MULHER - Pra tudo?
HOMEM - Pra tudo.
MULHER - Então tem algo que eu preciso te contar.
HOMEM - Você me traiu?
MULHER - Com uma mulher.
HOMEM - Como você pode?
MULHER - Eu não sabia, eu conversava com um grupo de amigos, quando ela veio e me beijou.
HOMEM - Que dia? Quando isso?
MULHER - Aquele dia que você foi me visitar e foi embora por causa das nuvens.
HOMEM - Aquele dia do temporal? Então você sai de casa com esse toró, larga-se no cafundó dos judas atrás de uma cretina e ainda por cima, é capaz de me trair?
MULHER - Desculpa, desculpa. É que pra mim é tudo tão difícil.
HOMEM - Difícil é ser corno pra uma cega. Eu sou tipo muito mais corno que um corno comum.
MULHER - Você já me traiu?
HOMEM - Nunca. Não quero mais saber de você, não quero mais te ver.
MULHER - Nunca te vi.
HOMEM - Pelo menos você não viu o que fiz com minha barba.
MULHER - Você tirou?
HOMEM - Pintei.
MULHER - Está de que cor? Loira?
HOMEM - Aham.
MULHER - Que cor é loiro?
HOMEM - É claro, menos escuro.
MULHER - É mesmo. Então ela tá loira? Mesmo?
HOMEM - é mesmo, oxigenada mas loira...
MULHER - e como vai ser? Você vai mesmo embora.
HOMEM – Não sem antes você espremer o cravo grande das costas.
03 novembro 2008
indiferença
Mário Bortolotto
A história é muito simples: um menino se senta ao lado do pai que assiste televisão e pergunta o que ele está pensando, o pai olha para ele, sorri e volta a olhar para a tv. Cinco minutos depois, de silêncio, o pai fala qualquer coisa porque tem que dizer e o filho ouve porque tem que ouvir, porque precisa. Na verdade é sempre assim, grande parte do que dizemos, poderia ser silenciado, grande parte é ou para se aliviar ou para se fazer ou para diminuir alguém. Está sempre sobrando palavras e isso não é ruim, é indiferente. E de tanto falamos, começamos ao vício de ouvir, o silêncio de fora é impossível e eu não vou dizer o óbvio agora, porque no fundo é tão indiferente...
02 novembro 2008
defesa
assim como
em casa
já desisti dos finais de semana
com as pessoas de pouca idade
vivas, frias
em vidas de pouco amor
já insisti que você me ama
para os amigos que não ouvem nada
do que eu digo e faço muito
e fico sem amor
saio não porque eu gosto de sair
saio sem ter pra onde ir
sem mentir
vão saber que não sou feliz
pois sei que quem eu quero está em casa
a dormir...
31 outubro 2008
o pós bom
30 outubro 2008
conselhos
ps: E sério, meu sonho é fazer um post com os marcadores que o blogger me aconselha: patinetes, férias e outono. Um dia ainda faço.
a briga é boa
28 outubro 2008
o jovem e a nova esquerda
Entretanto, o que digo sobre o interesse da esquerda, é que ela deixou de ser a direita às avessas, tipo o marxismo, que é absolutamente idealista, tem uma crença em alguma coisa e só procura na prática as provas praquilo que dizem, porque a direita é assim, acha uma coisa e sai a procura de provas que lhe afirmem. Tenho gostado da esquerda porque ela soube escapar disso e ser dialética, sabe ir pra lá e pra cá e chegar a uma conclusão, que nunca é idealizada, pelo contrário, ela leva sempre em conta os mecanismos da economia e dos sistemas e assim tem conseguido, talvez pela primeira vez, agir com eficácia. Claro que há os evidentes exageros, tipo nos casos de caixa 2 do Zé Dirceu, que na cabeça dele estava tirando de ricos para fazer campanhas e ajudar os os pobres, o que evidente é semi-verdade já que ele não é lá nenhum Hobin Hood, talvez um pouco pois fez o sistema ir contra ele, mas não pegou bem anyway.
Por isso que eu acho esse movimento pró-democracia, que sejamos claros é anti-paes, mas não é totalmente pró-gabeira, justamente porque está sabendo ser dialético, e sabendo que não se esoclhe uma outra idéia porque a que se tem é ruim. É evidente que todos ali queriam o gabeira para prefeito, sem dúvida, mas a idéia de ir pra rua é outra, é por ir pra rua, porque foi percebido que é preciso ir pra rua, estava na hora já e agora se tem um motivo, os mini golpes baixos que sempre são aplicados na população. E o melhor, está tudo sendo feito pela internet como manda a cartilha no mundo atual, por isso concluo que os jovens podem estar sempre na deles, sendo ignorantes, mas geralmente tem boa intuição e sem saber o que fazem, e assim como eu achei quando pequeno, acabam fazendo história.
27 outubro 2008
meus personagens
26 outubro 2008
felicidade conjugal
22 outubro 2008
concordando com Pedro Cardoso
Sim, ele tem razão. Pelo que eu vejo e estudo da arte, existe uma tendência dos atores terem uma fisicalidade não informada, um culto pelo corpo, pela liberdade, pelo ultra-poder dele e principalmente, pelo aperfeiçoamente dessa performance, não com a qualidade do apresentado, mas com a conexão desse corpo com uma idéia metafísica. Entretanto, já faz tempo que me questiono sobre isso e Pedro Cardoso trouxe à tona um ponto bastante importante para discussão que é o fato de que sim, há esse culto à liberdade do corpo, que é algo interessente, necessário e até mágico na arte, mas por outro lado, esse mesmo veículo criado para ser um elemento livre se torna um ponto de exploração por produtores, diretores e afins. Praticamente em tudo que vejo alguém fica pelado, paga peitinho, ou semi-bundinha, com uma luz assim, e pior, quanto não tem nada disso, geralmente a peça ou filme cai numa de que foi careta, dita pelos outros e muitas vezes incorpora esses fatos, de tão comum que já virou uma nudez.
Nesse sentido, tanto eu ao escrever isso, mas principalmente o pobre Pedro Cardoso vai ser bombardeado, vão dizer que ele possibilita uma futura censura, que ele é conservador, que ele tem idéias retrogradas, burguesas, etc, mas não, não podemos deixar que se creia nisso, pois os mesmo que dirão essas palavras são os que vivem da exploração e/ou utilização do corpo como um elemento artístico. E a mulher coitada, acaba quase sempre sofrendo muito, porque ela passa a chegar antes de conseguir ser alguma coisa, o corpo chega antes, fala antes e explica antes e ela, despida na arte, passa a ser uma despida na vida, não no sentido careta, mas no sentido de que perde o pudor e se já tantas vezes usou o corpo para a arte, porque não em algum momento usar para ganhar dinheiro num comercial de cerveja ou numa revista masculina. Esse é apenas um dos desdobramentos possíveis, mas fiquem com isso por enquanto, pretendo escrever mais sobre isso...
21 outubro 2008
O caso de santo andré
Uma coisa que me enche um pouco o saco e me deixa com preguiça de brasileiro é esse sentimentalismo chato, burro e sem cultura. As discussões sobre o caso do sequestro da menina Eloá são sempre cheias de mel, açúcar e danoninho, agora também em versão líquida. Não que não devamos nos sentibilizar, pelo contrário, devemos discutir e reavaliar algumas coisas justamente porque presenciamos algo que ainda é capaz de mexer com nossa tresloucada mente quase insana, entretanto para mim não é essa a grande questão.
Talvez seja e isso foi minha mãe que me atentou ainda no segundo dia do sequestro ao dizer: "onde está a mãe da menina? e do menino? e os parentes? ainda não falou ninguém." E era verdade, até o desfecho eles estiveram praticamente sumidos, falavam pouco e não me recordo da cara deles, enfim esse exemplo para variar não cabe no que quero dizer, mas a idéia sim. Percebi nesse rapaz um certo desamparo, uma carência, uma falta de alguma coisa muito importante, uma espécie de pertencimento, e talvez por isso que ele tenha atrasado tanto o fim do caso. Foi seu spotlight na vida, talvez agora ele possa morrer em paz. Senti tanto ele quanto ela desabrigados, ela ninfeta e gostosinha com 15 anos, com capacidade de enlouquecer um rapaz tão mais velho e ele que talvez por falta de ênfases no emprego, com os pais, com os amigos e nas bebidas, tenha depositado tudo no amor daquela menina, amor que aos 15 anos geralmente dura pouco.
Então, um crime paixonal é assim, mas pera lá, não sempre assim. Geralmente nesses crimes é comum que se mate a moça e depois se mate e que vire herói, quando o amor faz tudo valer a pena, tal qual Werther muitos anos antes, mas não, ele mata ela, não mata a amiga e não se mata, não faz nada contra si, pois nesse caso era a vez dele, a vítima na sua própria visão, se redimir. E a polícia que invade de forma inconsequente o apartamento acaba deixando ele matar a menina, mas chega a tempo dele pensar em se matar, impedindo-o talvez até disso.
O que me preocupa não é esse caso isolado, são todos os que já vivem isolados, porque se todos resolverem virar lindembergs, o mundo pode não ser mais...
19 outubro 2008
a verdade de porque ser assim
17 outubro 2008
mal que tem
meu estômago sempre dói, mas às vezes só arde
dor é uma coisa bizarra, quando dói fode a gente
e a gente acha que ela serve de remissão dos pecados
quando não dói a gente acha que está indo bem
e exagera até morrer do mal que tem.
16 outubro 2008
ironia 2
- quais ironias? tudo que eu falo é muito sério...
- sei...
- pois saiba.
ironia
12 outubro 2008
11 outubro 2008
10 outubro 2008
sai do orkut e vem pra cá
08 outubro 2008
ao me ler
ninguém olhou pra mim mais de uma vez"
eu sei que estou dando bandeira para alguma coisa não tão boa, mas talvez seja charme...
04 outubro 2008
com o que sou
01 outubro 2008
foi
30 setembro 2008
algumas outras frases
***
eu sempre digo que as coisas são como são porque sou como sou, mas na verdade o problema não é ser como sou, mas não saber ser quem eu sei que sou.
***
um dia eu dormi com dor e acordei bem, só que a sensação é de que quase todo dia durmo bem e acordo com alguma dor.
***
nem sou gay.
29 setembro 2008
o bom do amor
Madura ou não, ela não entende que o amor deve ser antes de tudo bonito, feito mais de núvem que de névoa, deve reinar sobre um tanto de paz para poder ser melhor. Simples como lavar as mãos ou escovar os dentes, simples como olhar um animal qualquer, amor sem desespero, logo sem limite, tão racional que se torna a coisa mais sem razão do mundo. E cada vez que a gente faz nosso amor melhor, mais a gente fica melhor, mais o outro fica melhor, e que quanto mais a gente chafurda na lama do nosso amor, mais a gente perde ele, mais a gente perde a gente, mais a gente perde o que ele tem de bom. No bom do amor.
28 setembro 2008
retrôbrega
27 setembro 2008
26 setembro 2008
a bolsa e o mambo
(Dois homens fumam, aparentemente na entrada de um restaurante. Acabaram de almoçar e saíram, suas mulheres aguardam lá dentro.)
A – Será que isso vai dar certo?
B – Acho que às vezes a gente vai longe demais.
A – Você acha?
B – Sempre achei. A gente devia, sei lá, fazer coisas mais comuns, tipo ser padeiro...
A – Ou dançarinos de mambo!
B – Você acha que eu levo jeito?
A – Não sei. Dança aí um pouquinho pra eu ver.
(B dança)
A – É..acho que sim, só precisar perder uma pouco da barriga, não dá pra ganhar dinheiro dançando e com pança, né?
B – Precisar a gente precisa, o difícil é perder.
A – A gente? Eu tô super em forma.
B – Ah é, tá assim...
A – Tô...claro que tô. Mas voltando ao assunto, a gente aluga uma sala, bota anúncia e pimba!
(Aparece uma mulher. Eles disfarçam assobiam. B tosse com o cigarro.)
M – Mas o que cês tão fazendo aí? Alguém tem que ir lá pagar a conta.
A – Que isso, amor...que isso...
B – A gente tá aqui só fumando, falando de futebol, pimba, essas coisas, e já vai entrar.
M – Acho bom, acho bom. Lá dentro tá insuportável: o povo rico cada vez mais mal educado, mais pobre de espírito. É, esse mundo é assim, inverte tudo e empobrece o rico, pra enriquecer o pobre.
B – Que que tua mulher tá falando?
A – Eu sei lá.
M – Ain...saiu...
B – Pois a senhora está com uns modos muito esquisitos.
A – E por falar em sair, amor. A mulher dele já pagou?
M – Não.
A – E você?
M- Não.
A – Tá com a bolsa aí?
M – Tô.
A – vambora. (saem correndo)
B – Ei, ei...vou pagar tua conta não. Eita, viado, desgraçado... (Apaga o cigarro, bota a mão no bolso, entra no restaurante sacudindo a cabeça. Blackout.)
volta
23 setembro 2008
acalanto
um clichê
e eu fico impressionado ao lembrar que todos os "eu te amo" que disse do nada assim foram tão clichês, mas tão adequados, e tão diferentes dos que eu imagino que posso dizer no futuro, porque talvez já não hajam clichês e que seja tudo tão pensado demais. Por isso que Claudinho e Buchecha é tão bom, por isso que Roberto Carlos é sucesso e a gente ainda ri com o Sílvio Santos, por isso que a gente ainda dá flores e leva pra jantares. Lembro, então, dos presentes que eu dei, das piadas que contei, dos cuidados, afagos, carinhos, não digo para uma pessoa, até para mim mesmo, até para minha mãe e pra toti, a minha gata, mas principalmente praquilo que eu estou pensando. Penso que fui tão clichê que foi a melhor rááá, não serei clichê...e penso que quem não entende a beleza de um clichê jamais pode amar. Como diria João Renato, porque clichês clicham...
21 setembro 2008
passo dado
Passo dado é passo dado, passado, passo riscado do antes como um vetor que aponta para frente, quase pro futuro. É sempre rente ao passo dado que está o que a gente sente, o presente e o que se tem do que ainda não é hoje, mas que ainda será, hoje, porque não há presente que seja para amanhã, porque se assim fosse, não haveria atividade que seria completada. E é desse passo dado que foi se fabulando, foi se construindo o que ainda não era verdade, mas que já não se podia apontar na cara com o dedo é dizer: é mentira.
Estava na cabine telefônica com o fone na mão ouvindo o som da máquina junto com barulhos de carros na rua, chovia de leve, chuva fina de dia de nuvens altas. O cartão estava no bolso, decidia ainda se ligaria, mas como já sabemos, já havia ligado porque o passo já fora dado, no entanto, é sempre bom retomar os momentos anteriores ao agora, não que eles nos expliquem, mas eles são a própria fabulação, não há nada que já não seja cinco minutos antes de ser.
Primeiro havia discado o número a cobrar, talvez porque aquela mensagem de antes servisse de ensaio para o que se diria, apesar de que tudo já havia sido ensaiado. Depois, repôs o fone no gancho e com a mesma mão pegou o cartão do bolso e enfiou na máquina, lembrou-se do tempo em que orelhão era de moedas, tentou imaginar quantas pessoas já haviam ligado daquele orelhão e quantas haviam ligado do orelhão antigo e comprado à moedas seus casos de amor. A outra mão, segurava o guarda-chuva, fechado e apontado para baixo, inflexível, como se metade dela negasse qualquer coisa que fosse fazer e dissesse “se for ligar, que ligue, mas não te darei mãozinha alguma” se é que uma mão pudesse fazer um comentário jocoso desse. Mesmo assim, essa mão não era necessária, a outra parte ia direto fazendo, sem consulta-la. É ela, agora já se sabe.
20 setembro 2008
tchubaruba
17 setembro 2008
Entrevista de emprego - exercício dramatúrgico - Ato I
(Um escritório. Uma mesa, um lustre. Outra mesa menor, um máquina de escrever. No fundo uma janela. A na mesa maior, C na menor. Entra Celso.)
A – Qual o nome do candidato?
CELSO – É Celso.
A – Celso de que?
CELSO – Meu nome... é Celso. Celso.
A – Mas Celso de que?
CELSO – De São Paulo.
A – Celso São Paulo?
CELSO – Não. É Celso Veira. Meu pai é que é o seu Paulo.
A – (pausa) Enfim, então é o senhor que está se candidatando para a vaga?
CELSO – Sim, senhor...senhor. Preciso, senhor.
A – Mas o senhor quer preencher qual vaga?
CELSO – Qualquer vaga, de faxineiro, de carro, tem vaga eu quero.
A – Mas aqui só tem vaga na área de advocacia. O senhor é advogado?
CELSO – Há 20 anos.
A – Mesmo?
CELSO – Muito. Muito advogado, sou advogado assim muito.
A – Então ok.
CELSO – Mas também sei fazer outras coisas.
C – (repetindo como quem copia) mas também sei fazer outras coisas...
CELSO – Sabe?
C – Eu não. Tu sabe.
CELSO – Ah.
A – Enfim, Celso...o que mais você sabe fazer?
CELSO – Do que o senhor precisa?
A de... (cacoando) um padre.
C (como copiando) Celso São Paulo.
CELSO – Viu? Ele sabe, sou padre já...
A – E...padeiro?
CELSO – Na minha terra eu era conhecido como o rei dos pães. Celso, O PADEIRO.
C – (copiando) São Paulo.
CELSO – Minha terra.
A – (ainda irônico, caçoando) Meu senhor, Celso, já vi que o senhor é muito capacitado para muitas coisas, o senhor poderia por acaso assim, subir ali naquela janela e buscar meu radinho que caiu no parapeito?
CELSO – Mas é evidente.
A – E fazer isso pulando num pé só?
C – Na minha terra eu era conhecido com Celso Saci, o saci mais famoso das festas, o mais conquistador. Era um ídolo.
CELSO – Ei, isso eu não disse.
C – Disse sim, eu anotei e tem mais, você disse outras coisas até.
A – Ora, disse ou não disse?
CELSO – Ter dito é bom?
A – É.
CELSO – Então eu disse sim, falei até mais de uma vez até, três vezes eu disse.
A – Pois então vá buscar o rádio.
(B começa a ir, quando A interrompe)
A – Calma, vamos fazer uma hipótese aqui. Ele ali...
C – Eu?
A – É...você!
C – Mas eu anoto só.
A – Mas agora vai fazer outra coisa.
C – O que? Ah, meu deus...
A – Você vai estar ali no parapeito, com o radinho na mão tentando se matar porque o Vasco perdeu.
C – Mas eu nem sou vasco.
A – Agora é...muito vasco.
C – Ah...droga.
A – Vai lá. ( C vai até o parapeito e começa a se lamentar.) Agora você, Celso, tem como função ir lá e convencer nosso amigo a não se matar.
CELSO – Está bem.
(CELSO se dirige até C que faz lamúrias do tipo: “Ah meu deus, minha vida num faz mais sentido, quero morrer, ó vida cruel.” Isso sem deixar que CELSO fale hora nenhuma.)
CELSO – Osh, mas esse sujeito num deixa eu falar...
A – Ora, meu amigo, seu tempo está passando.
CELSO – (para C, baixinho) Ei, amigo, teu dou 5 conto para tu descer daí!
A – Que disse?
CELSO – Nada, disse “é muito cedo pra partir...”
C – Não. 5 vezes infeliz é pouco, quero mais infelicidades, mais...
A – O que ele tá falando?
CELSO – Eu que sei?! (para C) Dez, dezinho tá bom, né?!
C – ò, só com dez infelicidades não há acerto com Deus...nada, nada...
CELSO – (alto) Vinte...Vinte...
C – Oh, você me salvou da morte, amigo.
A – Ora, vinte...vinte o que?
CELSO – Vinte...vim te resgatar, ainda bem que consegui. E aí, consegui o emprego?
A – Falta subir na mesa.
CELSO – (sobe) Só?
A – (improvisando) Subir no lustre...
CELSO – (vai fazendo) moleza.
A – E rodar.
CELSO – Ai...
A – E cantar.
(CELSO canta)
A – gritar, urrar, imitar um elefante.
(CELSO imita)
C – Tá fraco, hein!
A - Então pula pra cá.
(B pula. Escuridão.)
Ato II (continuação)
(um andaime. Celso entra. D está em cima do andaime e não aparece.)
CELSO – Tu tá aí?
D – To.
CELSO – e...cara, foi uma loucura.
D – mas loucura pro bem ou pro mal?
CELSO – Assim, pra tudo...foi bom, foi ruim...
D – Pega o cimento pra mim?
CELSO – Eu?
D – Não...claro que é, oras.
CELSO – Tá aqui.
D – Sobre e me entrega, enquanto isso, conta como foi lá.
CELSO – Então, cheguei me ofereceram cafezinho. Tinha uma loira assim grande, gostosa, que ia anotando tudo que eu falava e o cara da entrevista era muito gente fina, simpático, fez altas brincadeiras até.
D – Mas que maravilha...isso que é lugar pra trabalhar.
CELSO – É mesmo. Tu nem sabe. Vou ganhar dez mil!
D – 10 mil?
CELSO – É...fora hora extra.
D – Eu também quero emprego assim.
CELSO – Ainda mais agora que tua filha está grávida, né?
D – Minha filha?
CELSO – É.
D – Mas ela nem tá namorando.
CELSO – Tá sim...muito.
D – E quem é o pai?
CELSO – Eu.
(escuridão.)
Ato III (continuação)
(Escritório novamente. A e C jogam cartas.)
A – Eu tenho uma canastra real.
C – Mas tu num pegou o morto.
A – Por falar em morto, que foi aquele cara, hein?!
C – Foi uma maravilha, mas ó, nada de me botar pra morrer de novo...
A – Mas pelo menos a gente ganhou vintinho...
C – É...foi pouco mas já tá bom.
A – Com uns 10 desse já tá pra ter lucro.
C – Essa empresa é um sucesso, meu camarada...num tei falei?!
A – bendita hora, bendita hora.
C – Tem mais alguém pra hoje?
A – Tem um que ligou agora pouco. Disse que a filha está grávida e precisa muito de emprego.
C – Esse vai ser fácil.
(A campainha toca. A se dirige até a porta, abre, D aparece. Escuridão.)