12 dezembro 2005

joão

Era noite, joão andava pela rua sorrindo e assobiando uma canção, até que distraído, repara numa linda menina que cruza o seu caminho. Observando-a passar, repara nos detalhes de cada movimento dela, procurando por ali qualquer espaço para poder entrar. Nesse tempo que perdeu olhando sem parar de andar, acabou caindo em uma ruela escura, suja e abandonada. Tinha muita umidade, ratos passando e sussurros de dor. Não tinha saída, apenas uma linha amarelo florescente no meu do caminho. joão se aproxima da linha, quando uma voz, vinda do alto, com um som rouco de megafone diz:

-ao cruzar essa linha, você chega ao intangível, você chega ao impossível, você descobre a verdade, a inteligência e as cores do mundo.

Assustado, joão chega mais perto da linha, coloca seu pé próximo a ela e pergunta:

-É só cruzar a linha para chegar a tudo isso?

A voz forte, grossa e segura diz que sim. João, sem titubear cruza a linha. Aparece numa praça. Linda, gramada, com pessoas correndo e sorrindo. Ele está de mãos dadas com a moça que passara na rua. Estava apaixonado.

João nunca mais foi feliz.

Luiz Antonio Ribeiro
13/12/05

Esse texto tem uma sutil referência a um outro texto...descubram.

17 novembro 2005

Um capítulo de meu livro

XXI

Francisco entra no quarto e encontra somente a luz do abajur acesa. Regina está abaixada procurando alguma coisa em uma das gavetas. Ele se aproxima e se agacha pousando aos mãos na cintura dela. Ela sorri, sussurrando baixinho "o que você está querendo?". Ele fingi não ouvir, levanta-se e estende as mãos na direção da mulher. Ela agradece levantando-se. Lentamente, com as mãos dela pousada nas suas, ele as escorrega por suas costas, deixando as suas soltas para imitar o movimento, ela fecha os olhos por um segundo, como agradecimento à carícia. Ele aproxima-se beijando-a calorosamente. Ela sente os primeiros sinais corpóreos da excitação e interrompe o beijo, deitando sua cabeça no ombro dele que por sua vez começa a roças seus lábios na nuca dela. Com ela entregue, ele a leva na beira da cama e olhando-a percebe um gosto e um cheio agridoce no ar. A pele parecia pulsar, bolir, mover os corpos, expelindo hormônios.

Todo o ambiente parecia compor esse sonho, os tabus começavam a ruir. Os sentidos afloravam cheiros, sons, toques e fluidos. Ele passa suas mãos nas costas dela, primeiro por cima da blusa, depois em forma de carícia e mais lentamente, acha sua pele. Ela pousa a mão na parte interna da coxa dele. Ouvem-se sons, talvez música, talvez celeste. Novamente, os lábios se encontram num pedido. Outra vez, eles se distanciam num lamento. Olham-se, amam-se no olhar. O movimento das mãos dela revela, exprime a ação que ele aguardava, para suavemente, deita-la a cama. De baixo, ela clama que os sublimes e etéreos momentos universais venham e incorporem-se a esse amor que ela batalha todos os dias. Ele, pedia a Baco, que todos os amores dele se concentrassem somente nesse instante. Despem-se, acariciam-se, tornam-se um e de toda a ação em seu leito nupcial a vista é de apenas uma das mãos, que ela ergue, com os punhos cerrados, contraídos. Os movimentos ganham ritmo e assim como as peles, começam a pulsar, a bolir e a reclamarem-se cada vez mais. De olhos fechados, ou abertos, eles de longe vislumbram a perfeição. Encontram-se num campo azul e vermelho, quente, cheio de gente, suado, ventante.
Vêem flores cor de laranja, amareladas. Nuvens, amendoins, vozes. Pedidos, chamados, clamores. O ritmo acelera-se, cada vez mais e mais rápido, as pessoas encontram-se, falam-se e saem, o tempo esquenta, vão ficando os dois, sozinhos, despidos, vislumbrando todo a ação do mundo. Sentindo os prazeres fugazes, que todos os poetas sempre disseram existir. O êxtase está próximo, os movimentos da pélvis dele, esquenta os dela. Estão no fim, no começo do mundo, a pele já não basta, o corpo já não pensa, a mente, que mente?. Tudo é movimento, tudo é corpo, tudo é calor, é suor, é despudor, é amor, é pele. Um grito:

Mãe...vem cá.

Interrompem. Olham-se. Um beijo. Mas já é tarde. Ele penetra-a de novo e depois de alguns instantes, eles encontram Deus. O momento sublime do sexo. Orgasmo ou gozo. Juntos. Eles tinham razão, o céu é o limite.

Ele a beija, vira-se. Ela vai Ter com o menino no quarto ao lado.

Queria água, só. E o dia dormiu.

03 novembro 2005

Acho que sou eu

Minha mãe Édipiana
Achou um pai Vitoriano
E o casou catolicamente
Amaram-se a lá Baco
Esperaram como Penélope
E encontraram como Alice

E eu nasci como Clarice
Com uma festa de Dionísio
Que eu dormi à Cinderela
Onde sobrei como Estorvo

Assim, o pé de feijão cresceu
Porém, sem galinhas de ouro
No entanto, com muito de Eisntein
Nieztsche, Marx, Sartre
Agia como Dom Pedro, o primeiro
Ou como Cazuza, ou como Rimbaud
Fôra maldito um tempo...

Ora, a vida é juntar Josés
Um Silva daqui, ou Souza de lá
E aos poucos foi se formando um ser
Que com tudo isso, mais eu sozinho
Carente, sem Deus, com alma
Tornou-se um alguém
Um Luiz

Luiz Antonio Ribeiro
4/11/05

30 outubro 2005

O amor é camaleão

Cazuza diz: "O mundo é azul..qual é a cor do amor??"


Ziul_ disse:
qual a cor do amor?
1963 what's that sound? disse:
uhn?
Ziul_ disse:
qual a cor do amor?
Ziul_ disse:
vc sabe?
1963 what's that sound? diz:
verde

*** *** ***

Ziul_ diz:
qual a cor do amor?
Morena { Juju Diesel } [Popu] ----- diz:
tosa
Morena { Juju Diesel } [Popu] ----- diz:
rosa*
Morena { Juju Diesel } [Popu] ----- diz:
entao respondi errado
Morena { Juju Diesel } [Popu] ----- diz:
pq segundo o esoterismo
Morena { Juju Diesel } [Popu] ----- diz:
a cor do amor seria rosa
Morena { Juju Diesel } [Popu] ----- diz:
segunda as minha
Morena { Juju Diesel } [Popu] ----- diz:
crenças
Morena { Juju Diesel } [Popu] ----- diz:
o amor nao tem cor
Morena { Juju Diesel } [Popu] ----- diz:
ele eh colorido ao msm tempo por todas as cores
Morena { Juju Diesel } [Popu] ----- diz:
e todas despertam o msm desejo de amar

*** *** ***

Ziul_ diz:
qual a cor do amor?? responda-me
bitch diz:
azul
bitch diz:
;}

*** *** ***

Ziul_ diz:
qual a cor do amor??
Mari Mascheroni diz:
Rosa
Mari Mascheroni diz:
porque?
Ziul_ diz:
soh uma pergunta
Ziul_ diz:
isso eh o q vc acha?
Mari Mascheroni diz:
É o que é..vermelho é SAUDE
Mari Mascheroni diz:
pra mim tenho certeza q é rosa

*** *** ***

Ziul_ diz:
qual a cor do amor??
Lívia~.Amo. diz:
sei lá.
Lívia~.Amo. diz:
pqw?
Ziul_ diz:
qual a cor do amor?
Lívia~.Amo. diz:
=/
Lívia~.Amo. diz:
pqw karamba?
Ziul_ diz:
responde..pergunta simples
Lívia~.Amo. diz:
não tem cor

*** *** ***

Ziul_ diz:
qual a cor do amor??
Hibou Blanc diz:
cinza
Ziul_ diz:
obrigado

*** *** ***

Ziul_ diz:
qual a cor do amor??
......Dinhu...... diz:
a cor q vc quiser o amor e seu e a cor tb

11 outubro 2005

Eu não dou nome à minha vida...

Entre bandido. Não tenho armas aqui. Eu votei sim. Leve tudo, fique com tudo. Não preciso de nada disso para viver. Não tenho o seu desespero pelas coisas materiais.

Eu voto sim e essa discussão leva dias. Sinceramente, não vale a pena me defender. Não possuo nada que me seja indispensável. Minha vida, são cartas, que pouco a pouco, de risco em risco, sorriso em sorriso e dia a dia, vou perdendo. Não preciso dormir com medo de bandidos, porque tenho o coração de quem vive por amor a vida, não por medo da morte. Sobreviver não é necessário, viver sim. Se quiser vir aqui, me roubar e me matar, eu morro. Um dia o mundo há de parar de se matar.

Eu voto sim, porque na pior das hipóteses, o país entrara em caos. Bandidos invadirão casas, roubarão tudo, sairão matando e destruindo. O tráfico vai assumir o governo. O sistema se corromperá de vez e os valores se inverterão. O domínio do país, será de quem tem mais capital e de quem tem as melhores influências. Na escola, crianças cantarão: "Atirei o pau no gato to to...mas o gato to não morreu reu reu.. então peguei ei ei, meu três oitão ão ão...e dei um tiro, outro tiro, na cabeça do bichão. MORREU!" A rede globo apresentará Willian Boner com o discurso: "Felizmente, morre hoje o ídolo Chico Buarque, vítima de tiro, ao tentar ajudar uma criança." Enfim, esse caos em que o Brasil se transformará, talvez crie no povo finalmente, um sentimento ufanista. Nós nos juntaremos, todos, e juntos pegaremos pedras, pedaços de paus e iremos para as ruas, gritar, pedir, quebrar. Faremos a nossa revolução de paz, lutaremos pelo nosso sistema. Porque é no limite extremo de tensão é que se faz a transformação. Das duas uma, ou morreremos todos e não existirá povo para ser governado, ou nós mesmos assumiremos o poder, reconstruiremos nossa terra da forma que quisermos, com o sistema que nos parecer ideal, e assim, estaremos aptos a eliminar qualquer dos aproveitadores que venham a aparecer. Porém, toda essa hipótese não parece muito real, não é?

Eu voto sim, pelo sim. Tenho asco a arma. Sim, eu defendo a vida. Eu morro covarde, mas não morro empunhando uma arma na mão. Mesmo que eu fique vivo e mate o bandido, em que construo um mundo melhor?

Será que eu preciso tanto da minha TV, do meu computador, do meu dinheiro guardado, deus sabe para que?, será que o microondas, o forno, o ferro, a casa, o carro valem tanto assim? Será que minha vida é mesmo a coisa mais importante que eu tenho, a ponto de me fazer matar outro, que com certeza, ao contrário de mim, não nasceu com dinheiro, teve fome e passou por dificuldades que não justificam o seu ato, mas sim, são causas dessa conseqüência?

Talvez um dia a gente aprenda que o mundo não é a gente, mas sim, todo o resto menos a gente. Temos de pensar nesse todo, porque a gente não mata, mas o mundo sim. Sabedoria, nessa caso, é separar de si e ver o que é melhor para o país num futuro distante de 100 anos. O que será melhor? Que incentivemos a manutenção de mortes, ou que pouco a pouco, morrendo, salvemos a vida? Sim, porque as vezes, salvar a vida, também significa morrer.

19 setembro 2005

Amor em prosa moderna

"Dos nossos planos é que tenho mais saudade,
Quando olhávamos juntos na mesma direção.
Aonde está você agora
Além de aqui, dentro de mim?"
Vento no Litoral – Renato Russo



Ele gostou dela desde que passou a gostar. Ela gostou dele desde quando passou a ser gostada. Assim, foram se gostando como se gosta quando criança: correndo juntos no parque, escrevendo nomes ainda tortos em árvores, contando segredos aos amigos mais velhos e ao vendedor de pipoca, ajudando nas provas bimestrais, dando cola quando necessário, ficando junto sempre que possível. E desse modo, ele foi gostando e sendo gostado por toda a infância e pré-adolescencia.

O tempo que passa fez ele repetir de ano e mudar de colégio. O tempo que passa fez os telefonemas rarearem. O tempo que passa fez os encontros extinguirem-se. O tempo que passa fez as árvores com nomes serem cortadas e virarem mesas de bilhar. O tempo que passa fez ela mudar de cidade e não deixar contato. O tempo que passa fez ela deixar de gostar dele. O tempo que passa fez ele também esquecer dela.

Ficaram as referências. Ele para sempre teve como referência de mulher bonita todas as baixinhas branquelas de cabelos pretos e com algumas sardas, se possível. Tímidas, silenciosas, sarcásticas, de uma sabedoria calma. Mulheres que rissem, muito, mas nunca escandalosamente.

Pouco mais velho, chegando no Ensino Médio, ele gosta sem ser gostado de uma roqueira inteligente, rebelde, engraçada, tímida, maluca, quase sem rumo na vida, ou um rumo ainda desses que a gente se perde. Uma menina sem regras e com muito sono. Uma menina fraca e frágil. Ele gosta até o limite de poder gostar sem gostado e a mulher que nunca ia lhe amar era insistentemente seduzida.

O tempo que passa fez ela sair da vida dele. O tempo que passa fez ela voltar. O tempo que passa fez ele fugir dela. O tempo que passa fez ela mandar cartas ignoradas. O tempo que passa fez ele aprender a viver só. O tempo que passa fez ela desistir e encontrar alguém. O tempo que passa fez ele esquecer dela e depois lembrar. O tempo que passa fez ele voltar. O tempo que passa fez ela perdoar. O tempo que passa fez ela desistir de tudo isso. O tempo que passa fez ela fugir dele. O tempo que passa fez ele obrigar-se a esquecer.

Ficaram as referências. Ele passou, então, além de gostar das baixinhas branquelas tímidas, silenciosas e sarcásticas com cabelos pretos e com algumas sardas, também gostar das roqueiras inteligentes, rebeldes, engraçadas, tímidas, malucas, sem regras e com muito sono.

O tempo que ainda estar por vir há de passar, há de marcar, há de ficar, há de doer e há de passar. O que fica são as referências, as saudades, as memórias e as lembranças. O que dói são as feridas, as derrotas, as tentativas e os prazeres. E para frente é viver e somar referências, até que um dia, sem Ter mais para onde se procurar, resolva-se a amar e ser amado. Só.

Luiz Antonio Ribeiro
20/09/05

08 setembro 2005

Juro...

"Fique magoado, não por me teres mentido, mas porque eu não posso mais acreditar em ti"

Friedrich Nietzsche

Confiança. Palavra dura, bela, simples, equivalente ao mais puro sentimento. Sinto-a como uma força que nos empurra a entregar o nosso lado mais fraco a outros, na esperança de que esses me entendam e me confortem . Espero sempre que ao contar um segredo, eu estico uma corda, que amarrada a meu braço, amarra-se também ao braço do outro, e faz-me um pouco a parte dele. Por isso, tenho prazer especial em ouvir os segredos alheios, pois essa impressão elo, acalenta-me o sentimento de solidão. Confiar/ser confiável, tem pra mim a força encontro, de um abraço, de um beijo, de alguma coisa que fica guardada pra sempre, ou por tempo indeterminado, até que esse elo venha a ser cortado.

Acontece que muitas vezes, Ter um aliado, uma pessoa que se confia, enfim, Ter uma corda amarrada junto a si, na forma de amigo/irmão/namorado, seja o que for, gera um desconforto de perda de liberdade, quiçá uma sensação de ser perseguido, ou ser responsável pela vida de outro. Num dado momento, você se sentindo preso, faz por um ato simples de libertação a ação mais repudiável da sociedade desse tempo: a mentira, a traição, ou a quebra da confiança. Esse ato, funciona como quebra da corda, como libertação e voltar a ser um ser novamente livre, passível de erro e independente. É uma ato quase desesperado de tentar tirar de você o outro, que insiste em ficar a seu lado sorrindo, chorando e, principalmente acreditando.

Aí, vem a complicação da história, as confusões e o desfecho, mas aí, já não é interessante e muito menos confiável.

Luiz Antonio Ribeiro
09/09/05

05 setembro 2005

Criado mudo da casa da Luz

A: O que é um criado mudo?

B: É tipo uma mesinha de cabeceira.

A: Ah, pensei que fosse seu amigo mudinho contratado como empregado...

B: É...podia ser.

A: Ou então uma pessoa que é muda que foi criada por alguém.

B: É...podia ser também.

A: Ou então, uma neném que é criado sem poder falar...criado só na linguagem dos gestos, daí é um criado mudo.

E eu não parava de rir.

29 agosto 2005

Conto não...

-Me conta?
-Não posso, é segredo.
-Me conta?
-Não vai dar.
-Me conta?
-Conto não.

Ela perguntava para ele. Obviamente, ele era apaixonado por ela, mas não dizia, nem pensava em dizer, mas sabia de cor todas as palavras que usaria se fosse dizer. Ela, não amava. Não que fosse incapaz, ou fosse insensível; ela simplesmente, era não sentia a paixão, ou amor, o que quer que seja, de forma ordenada. Ela saia sentindo um monte de coisas ao mesmo tempo, e não definia se era amor, tédio ou prisão de ventre. Já ele, só queria ela.

-Não vai contar mesmo?
-Já disse que não. Vê se num enche...
-Olha que eu vou ficar chateada contigo.
-Fica.
-Você quer isso mesmo?
-Se é isso que você quer...

Ele não queria, nem ela. Mas ele sabia que ela sabia que ele não faria isso, por isso ele fazia, porque sabia que fazer charminho causava alguma coisa nela, próximo da raiva, mas ainda sem nome. Ela tinha raiva, mas era só, vontade de esganar ele. Ele tinha vontade que essa raiva virasse outra coisa.

-Tem certeza?
-Não tenho certeza de nada.
-Então você num vai contar mesmo?
-Está bem, mas não reclama depois.
-Não, não. Diga...
-Eu te amo.
-Isso eu já sabia.
-Já?
-Claro. Está na cara.
-Então por que você nunca fez nada?
-Sei lá.

Sei lá. Muito confuso o amor. Se alguém odeia alguém, deixa isso claro, quer fazer o mal, contar para os outros, mas quando a gente ama, a gente deixa aquilo guardadinho com a gente. A gente não espalha esse amor por aí, ele fica vagando pelas idéias como forma de carinho, gratidão e provocações.

-Mas tem outra coisa, também.
-Me diz.
-Não. Eu já disse demais.
-Poxa.. me conta, vai???
-Isso não.
-Conta?
-Conto não.

Luiz Antonio Ribeiro
30/08/05