26 fevereiro 2013

travestir

Ser homem é muito pesado: ainda mais pequeno, fraco, troncho.
E vejo tantos homens por aí tentando muito ser aquilo que não são e num esforço de tentar ser , se tornam mais pequenos, fracos e tronchos do que ainda sou.

A verdade é que pra ser homem, às vezes, a melhor maneira é se travestir.


a distância

Ás vezes vou ao teu encontro. Na maioria das vezes é você que vem ao meu. Não importa porque não existem diferenças naquilo que já é diferente e não se ousa buscar unidade naquilo que disperso é maior que condensado. A missão é se espalhar. Difícil é acreditar que sem os sonhos, os clichês e as fórmulas prontas as coisas podem dar certo. Aliás, quem disse que dar certo é relevante? Dar certo, no final das contas, é ou não é a repaginação da lógica que a gente tanto luta contra? É ou não é a composição dos piores sonhos que a humanidade já teve, mas que insiste em repetir como num vício, numa roda que nunca para de girar no topo de seu umbigo? Não sei. Sei lá. Não sei mesmo. Sei que em algum momentos não existe distância entre lá e cá, porque lá e cá são o que são, mas ainda assim podem andar juntos. Ás vezes, toda distância ca-la.

23 fevereiro 2013

"A Viagem"– Via Crucis em Loop



"Muito se fala sobre viagens, usa-se até em vão a famosa frase: “viajar é mudar a roupa da alma” para tentar traduzir o que significa esse deslocamento entre o espaço e o tempo que fazemos algumas vezes no decorrer da vida. No entanto, acho que poucos dimensionam ou conseguem dar a profundidade exata sobre o que é viajar. Creio que perdemos a capacidade de perceber que cada viagem é uma vida inteira e, assim, viajar é criar, fundar, plantar vida."






Leia o resto da resenha em:


Resenha: A Viagem - Acontece em Petrópolis

20 fevereiro 2013

Oscar 2013 - Os melhores

Após assistir todos os filmes candidatos ao Oscar, pelo menos os candidatos a Melhor Filme, resolvi fazer um Top com eles:


1- Indomável Sonhadora


O melhor filme. Sensível, belo e forte, mostra uma menina de 6 anos em um universo absolutamente hostil, intercalando seu imaginário com a conturbada relação com seu pai. Merecia o Oscar e poderia facilmente ganhar uma vez que se mantém nos moldes que a academia adora.


2 - Amor

Haneke faz uma bela obra poética sobre o amor e o envelhecimento. Ao mostrar-se mais humano, mais esperançoso e menos violento conseguiu um equilíbrio que lhe levou direto ao Oscar. Sinto-me mal ao falar desse filme porque creio que tudo que fez "Amor" ser candidato é devido a um enfraquecimento da força do diretor. Fora isso, está longe de ganhar como Melhor Filme. Deve ficar com a estatueta de Filme Estrangeiro.


3- Django Livre



Tarantino completa sua trilogia da vingança agora dando voz aos negros. Irreverente e debochado, o diretor tem mostrado cada vez mais um lado político em suas obras e por isso vem crescendo como candidato a prêmios, apesar disso o Oscar ainda está longe: a academia quer alguém que celebre seu cinema, a ironia de Tarantino que volta para si e para o cinema americano gera um abismo entre ele e as estatuetas. Deve ganhar como Roteiro Original.


4- As Aventuras de Pi


Lee faz um filme exemplar. A trama fabular e parabólica é tão poetica, simples e potente que não se sabe se está em um filme mesmo ou se retornou a infância para ouvir as histórias de Crusoé. Pi e seu Tigre formam uma das mais interessantes duplas do cinema, lutando pela sobrevivência à partir da convivência. No fim, uma despedida da fábula, a dúvida, o fim da obra. Merece e pode ganhar o Oscar, mas dificilmente será lembrado.


5- O Lado Bom da Vida

Drama com formato de comédia ou comédia em forma de drama, a obra consegue mesclar a loucura de um ser em recuperação com sua família desajustada, indo de encontro a um novo amor, também pautado por uma espécie de loucura. A empatia, a complascência, a vontade de ajuda-los em meio à risadas é inevitável. Talvez seja o filme que mais recomendaria para um público comum: mantém as fórmulas tradicionais, mas escapa delas por pouco, gerando tensão.


6- Os Miseráveis

Musical no sentido clássico: caro, pomposo, gritado com emoções exageradas e excesso de cores para contar a bela história do poeta romântico Victor Hugo. Baseado no musical homônimo da Broadway, não consegue em tela o mesmo impacto que deve haver no teatro. Fica parado, dá preguiça. Dará o Oscar de Atriz Coadjuvante para Hathaway.


7- Argo



Aflleck avança, mas ainda faz um filme fraco. Uma mistura de gêneros que não se concretiza, como se várias flechas apontassem para vários lados, mas na prática quase não se sai do centro. Vale por cinco minutos de tensão finais quando todas as energias se concentram na fuga dos refugiados. Apesar de nada ter a dizer sobre o filme, que achei "comum", é o favorito ao Oscar de melhor filme. Lamento por isso.


8- A Hora Mais Escura

Depois de Guerra ao Terror, Bigelow se manteve igual: faz filmes sobre guerras, frios, pautados nas estratégias de guerra e mais nada. É americano e acredita no poder bélico de seu país. Tenta trazer algum grau de crítica à ação, mas a obra cinza, poeirada, se torna praticamente um fardo para quem tenta assistir. Não via a hora de Bin Laden morrer pra seguir minha vida.


9 - Lincoln

O bonequinho não sai, mas eu saio. Spielberg podia parar pra sempre e vender quibes em domicílio.

19 fevereiro 2013

canhoto

nunca fui canhoto,
mas sempre fui meio torto:
fazia um gol e estatelava no chão,
ganhava um beijo e cuspia na moça.

nunca fui canhoto,
mas sempre abria porta errado
e me enrolava na tesoura.

mesmo agora quando escrevo,
sempre que escrevo,
está lá minha mão
inevitavelmente apagando
meu rastro, meu traço, meu gesto...

04 fevereiro 2013

O Lado Bom da Vida (2012)


Uma coisa que sempre me fascinou, e acho que sempre fascinará, é uma tendência natural que algumas pessoas tem de serem hereges. A heresia é interessante porque dessacraliza os conceitos, assim como Nietzsche propõe que deveria acontecer com as metáforas criativas que se cristalizam em verdades. A arte pra ele é o lugar da potência desse desarranjo conceitual, pra mim é o lugar da heresia.
O que se tem visto em arte, principalmente no cinema comercial, é a incapacidade de desvinculação das formas estabelecidas e da violentíssima máquina publicitária das grandes empresas de venda de ideais de consumo. Ao mesmo tempo, aqueles que não querem se integrar a essa máquina ou se afastam da arte pela completa incapacidade de realizar suas obras ou então passam a vida batendo cabeça na parede em busca de um lugar, pequeno que seja, nos meios de produção artística.
Algumas obras, no entanto, pegam uma tangente e de dentro do sistema fazem um filme à lá sistema, com uma eficácia tremenda, mas que, se olharmos atentamente, vamos perceber que por dentro da obra percorre um espírito crítico, irônico, debochado, desviante e, por fim, herético. É o que se pode ver em “O Lado Bom da Vida” de David O. Russell, candidato ao Oscar de Melhor Filme em 2013. A trama gira em torno de Pat (Bradley Cooper) , um rapaz que acaba de sair de um manicômio e quer retomar seu casamento, e Tiffany (Jennifer Lawrence), uma ninfomaníaca que acaba de perder o marido. O filme parece compor um pano de fundo violentamente dramático, de um rapaz que não controla os ímpetos destrutivos e, por isso, entra em embates com seu pai (Robert De Niro) , também violento e viciado em aposta em jogos. Entretanto, aos poucos, pela composição do desenrolar da história e da localização dos fatos, toda a tensão vai se desfazendo em uma divertida comédia de costumes, com eventos de situações confusas, de transformações repentinas dos estados das personagens, mostrando como a tensão se desfaz na medida em que se olha um bocado mais para dentro de cada um, ou seja, conhecer cada figura é criar empatia, afeto, carinho por cada uma delas.
O desfecho que nos remete ao também excelente filme de 2006 “Pequena Miss Sunshine” (Jonathan Dayton e Valerie Faris) é o ponto alto que garante ao filme um fresco, fazendo-o merecedor estar entre os concorrentes ao Oscar. “O Lado Bom da Vida” talvez não seja o melhor filme dentro os candidatos, nem o mais celebrado, mas se eu fosse recomendar algum, pensando em qual seria o melhor custo benefício entre entretenimento, reflexão e afeto, seria ele.