26 junho 2006

saco preto

A quase dois dias e meio, um saco preto voando no chão
A quase dois dias e meio, um saco preto voando no chão
A quase dois dias e meio, um saco preto voando no chão
A quase dois dias e meio, um saco preto voando no chão
A quase dois dias e meio, um saco preto voando no chão

A dona preguiça jogou
Menino travesso chutou
Lixeiro rico não é

preto voando no chão
saco preto voando no chão
um saco preto voando no chão

O carro voado passou
Porteiro pro canto empurrou
Menina amada não tá

Voando no chão
Saco voando no chão
um saco preto voando no chão

a dona jogou, menino chutou, carro passou, porteiro empurrou

e a quase dois dias e meio, um saco preto voando no chão

Luiz Antonio Ribeiro
26/06/06

18 junho 2006

sobre "o varal"

ziul diz:
eu to numa fase muito cecília meirelles..
ziul diz:
ontem fiz uma poesia pra um varal.

tatty ... diz:
pra um varal?
tatty ... diz:
eu quero ler o que voce escrteve

*** *** ***

ziul diz:
VARAL

Pendura-se tudo:
A calça, a blusa, a toalha molhada.
O tapete, o lençol, o cobertor
Até a cueca que tanto se esconde na roupa

ziul diz:
isso é um trecho.

tatty ... diz:
a ideia tá boa. eu queria saber fazer poesia

*** *** ***

tatty ... diz:
caraca, fiz uma viagem aqui surreal.
tatty ... diz:
tipo, varal é onde a roupa suja é colocada depois de lavada. pensei em algo tipo boteco, que você acaba lavando riupa suja de vez em quando e acaba tudo entre amigos depois.

ziul diz:
bom...a idéia era q nao fosse só varal..pq ia ser mongol ser só varal.
ziul diz:
mas nao pensei em boteco nao.

tatty ... diz:
o boteco na verdade foi a parte mais dispensavel de tudo.
tatty ... diz:
foi só pra colocar um lugar fisico

ziul diz:
entao me responde:
ziul diz:
Sendo varal pra secar,
quando chove e tudo molha
ele deixa de ser varal?

tatty ... diz:
não deixa de ser varal. mas ele vai ter caracteristicas novas.

ziul diz:
a minha viagem é: ele é varal só pela utilidade ou por algo mais.
ziul diz:
pq se for pela utilidade, qd a perder deixa de ser

tatty ... diz:
eu não tô pensando em varal como coisa fisica. to viajando em metaforas
tatty ... diz:
as vezes o fato de molhar, não quer dizer que vai estragar. só quer dizer que ele se alterou um pouco.
tatty ... diz:
a função dele não necessariamente foi desfeita

ziul diz:
eu agora to com mania disso qd escrevo...de pensar numa frase q a própria linguagem nao responda.
ziul diz:
dai a gente tem q ficar viajando nela.

tatty ... diz:
mas viajar é a melhor parte

*** *** ***

ziul diz:
mas tipo, eu achei bonito o varal ser arte enquanto o menino suja e a moça lava
ziul diz:
é como se fosse arte de vanguarda...ou arte de transicao.
ziul diz:
tipo, as pessoas crescem, e a arte do varal muda no decorrer de sua vida, entende?

tatty ... diz:
a relação menino suja e moça lava é tipica de que homem pe burro e mulher sempre tem que solucionar tudo.
tatty ... diz:
tipo, mulher gosta de discutir relação, essas coisas

ziul diz:
caraca...melhor intepretacao a sua.
ziul diz:
uhauhahuahuuhaa
ziul diz:
vc tá toda fatalista lendo uma poesia tao simples.
ziul diz:
eu ia dizer q a arte do varal muda, qd criança é fralda, babador, depois vira macacao, camiseta, depois calça jeans, blusas estampadas, depois vira camisa social, terno, e por fim, coletes, boinas.

tatty ... diz:
tipo, o varal é o retrato da vida.

varal


Pendura-se tudo:
A calça, a blusa, a toalha molhada.
O tapete, o lençol, o cobertor
Até a cueca que tanto se esconde na roupa

Aceita tudo:
A blusa gasta da vó, a saia rendada da mãe
O terno preto do pai, e calça curta do irmão
Menos roupa suja que nunca vi por lá

Se for colorido de verde, azul, amarelo
Mesmo sem dourado, mais rico fica o varal?


Sem preconceito, o varal está lá
Obra de arte da dona de casa
Tão obra, e tão arte, que se renova
Enquanto o menino suja e a moça lava

Sendo varal pra secar,
quando chove e tudo molha
ele deixa de ser varal?

Vejo-o todos os dias quando vou ao quintal
E lá está, tão diferente, tão igual
Tão belo, tão morto, tão desigual

Não sei
Talvez nem seja verdade, mas prefiro achar assim:
Que um varal só existe pra brilhar os olhos pra mim


Luiz Antonio Ribeiro
18/06/06

03 junho 2006

justificando o injustificável

sobre o caso Suzane Hitchkoffen

Atire a primeira pedra quem nunca sentiu ódio. Não falo do ódio dissolvido pelo tempo, daqueles que duram meses, mas sim daquele que vem e dura momentos, segundos talvez, mas são tão fortes, tão profundos que rompem qualquer barreira da nossa racionalidade. Quem nunca bateu uma porta de raiva? Quem nunca quis socar a parede? Quem nunca arremessou um objeto qualquer? Não ouso dizer qualquer coisa sobre agressões físicas, mas nesse instante talvez você esteja pensando: "sim, eu já quis agredir alguém."

Existe uma idéia social, parte do senso comum, de que é ruim sentir raiva. Pior ainda, é inaceitável pensar em descarregar essa raiva, então o que fazemos é guardar, engavetar, fingir que não existem tais sentimentos dentro da gente. Gritar é barraco, chorar é fraqueza, fugir é covardia. Eis a virtude: fingir que não somos. Aí está o problema, temos uma sociedade de ovelhas sem sentimentos, que quase sempre são descarregados em formas singulares de prazer: festas, drogas, jogos, esportes. E assim, a sociedade vai bem, a máquina do mundo gira em perfeita harmonia.

Eis que um dia, uma menina mimada, criada para ser uma mistura de Barbie e Cinderela, cansa-se de todas as outras formas de extravasar, rompe com tudo que existe dentro dela, vê que não é de cera, não é bonita e não sabe sorrir de verdade, descobre que as drogas fazem ela não ser ela, e não ser dói. E no meio de tantos pensamentos descobre: "a culpa é dos meus pais".
Não sei se conheces o conflito da tragédia grega, mas ai está ele: homem x ordem. Não existe felicidade para a menina, enquanto seus algozes, travestidos de protetores continuarem sorrindo, a ordem foi comprometida, o prazer ou descanso familiar virou motivo de raiva. O mundo interno dela entra em rebuliço, pulsa, foge do equilíbrio, e as coisa começam a rumar para caminhos absolutamente desconhecidos. Totalmente fora de controle está a situação, não existe mais razão, o universo parece conspirar contra, a fim de se chegar a um equilíbrio. Enquanto isso, um amor recente, e forte, também domina a mente dela, que talvez, em certo momento, tenha dito a ele: "por favor, assuma para mim, decida para mim, salve-me." Ai, ela não é mais dona de si. A decisão de matar não é simplória, é uma mistura de pós-drogas, com amor, com noites mal dormidas, com ódio. Um ódio pulsando ao mesmo tempo em que a ordem precisava ser restabelecida. Nesse caso ou era a menina, ou eram os pais: a menina escolheu viver, na lei da sobrevivência.

E a imprensa cai em cima, crucifica ela, diz que o pai era bom porque fazia de tudo e que a mãe havia perdido noites de sono por ela. Dizem que ela é ingrata porque "tinha tudo que queria". Encaram o problema dela como loucura, como insanidade, vêem-na como bicho, como se seus instintos mais primitivos tivessem controle, e no caso, isso não é bom. Assim, ela passa de mão em mão, de boca em boca, e de notícia a notícia ela vai perdendo a vida, vai perdendo os impulsos, vai se tornando um objeto de exemplo, onde pensar é muito perigoso. Expo-la em praça pública talvez seja um bom negócio.

Se olharmos hoje em dia, não veremos mais uma pessoa, veremos apenas um instrumento da mídia de controle popular, com seus direitos confiscados, e que não paga apenas pelo seu erro, mas paga por Ter resolvido ir além e questionar o inquestionável, mudar o imutável, enquanto eu aqui, a muito custo, tento justificar o injustificável. Se não consigo, deixo assim, talvez seja mesmo melhor deixar incompleto.
Luiz Antonio Ribeiro
03/06/06