31 outubro 2009

voltando

Como um cachorro que cheira o rabo dos outros me encontrei a tentar seguir os passos dela, mas ela por ser sempre maior e melhor que eu ia em passos largos, muito maiores do que minhas pernas poderiam acompanhar e a cada segundo se distanciava mais de mim. Até que uma hora, cansado, vendo somente a silhueta dela ao longe, resolvi sentar. Era como se tudo tivesse mudado. Pela primeira vez descansei, deitei ali mesmo e dormi a tarde inteira, quando acordei ela já estava perto. Estava voltando.

26 outubro 2009

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daí fica tudo na bad e vc faz ficar tudo bem, daí fica tudo bem e vc faz ficar tudo na bad, daí vc faz ficar tudo bem, pra poder ficar na bad de novo e assim por diante.
Até estragar o fígado.

22 outubro 2009

tempo

Um ponteiro apontava pra mim. Sei que é do tempo que vou falar, apesar de que não aguento mais esse papo sobre o tempo. Ele é intangível e foda-se, temos de viver apesar disso, em detrimento disso e não adianta passar a vida falando sobre ele. A questão é que o tempo tem tantos tempos e isso que me incomoda. Muitas vezes tento encontrar uma ordem nele, ou uma justiça, ou uma paz e tudo que ele sabe fazer é o que ele sempre faz: passar. Há quem diga que o tempo se aprende e com o tempo tudo passa. Tudo passa não, nada passa, exceto ele. É o infindável tempo e um ponteiro que aponta pra mim.
Hoje só apontei na rua por 5 minutos no máximo, fiquei trancado aqui. Nesse instante, a primeira coisa que vi foi um rapaz, cabelo tipo meu, morador de rua com uma garrafa de cola na mão falando sozinho, viajando, em outro mundo, outro tempo. Essas coisas doem, esse tipo de tempo também.

21 outubro 2009

se ferir

O estômago doía e ele ficava mal humorado. A cabeça não parava de repetir uma música qualquer e o fígado parecia se esforçar para expurgar o que é que fazia mal. Não havia ele ali naquele momento, apenas a consciência de que assim que a dor passasse ele voltaria. Lembra de um tempo que sempre tinha alguém pra segurar sua mão sempre que doía, alguém que ouvia os berros, os gritos, os xingos (todos em graduações diferentes) sem reclamar, sem se machucar, sem sentir dor, porque ali quem doía era ele. Agora todo mundo quer doer também, digo que dói e a pessoa diz: "eu também, no pâncreas, nas costas...", sendo que só quero e ele só quer que doa agora mas passe, porque doer não tem tanta beleza assim. Por isso não ficam doentes e não gostam de remédios. Nem doer, nem curar. Nem morrer, nem matar. Apenas se ferir.

o dinheiro

O capitalismo tem muitos problemas, mas também tem muitas coisas boas. Ele é um sistema injusto, mas que mantém esperanças, sonhos e incorpora em si o acaso que é o próprio mundo. Não que exista alguma coisa que "represente" o mundo, é tudo construído, mas o capitalismo, numa via de mão dupla cria essa forma de interpretação, a sustenta e faz com que achemos que o mundo não existe sem ela.
No entanto, escrevo para falar de um dos grande problemas do capitalismo: achar que tudo gira em torno do dinheiro. Quando alguém tem um problema de saúde - dinheiro; quando a religião está em baixa - dineiro; a violência está grande demais - dinheiro. Qualquer situação que haja no mundo é solucionada pelo capitalismo através de um investimento de enorme quantidade de milhões de imensidades incontáveis de dinheiro. E esse número não corresponde a um plano, a um projeto que combata o problema, pelo contrário, divulga-se o dinheiro como se ele fosse solucionar por si só.
Falo isso por conta dos problemas de violência no Rio de Janeiro, a polícia invade, sai matando, cerca tudo, daí se diz: "mas isso é paleativo, não resolve o problema" e o governo federal vai e libera cento e tantos milhões de reais para investimento. Em que? Pra que? Qual o objetivo? Se essa grana não se perder no caminho provavelmente vai servir pra matar. Não entendo.

18 outubro 2009

dias

Há um domingo que vai passando e os dias que vão se juntando, se contando, pois quando se conta dói o passar e quando não se conta se perde. Não há como ganhar essa batalha, escrever é uma tentativa, mas ao fim, é só mais um fracasso.

12 outubro 2009

carinhoso

Tem um verso de "carinhoso" que diz: 'meu coração/ não sei porque/ bate feliz/ quando te vê.' Eu fico pensando na singeleza dessa frase, de que forma que ela representa a simplicidade de um sentimento que se tornou materialmente uma maneira de se expressar do brasileiro. Eu sempre penso no meu coração e até hoje não consigo saber porque ele bate feliz sempre que eu a vejo, mesmo sabendo que ela é uma sem nome. Ela, no caso, é qualquer tipo de feminilidade que me encanta, que me faz lembrar meus primeiros momentos de olhar para uma moça e sentir que o mundo precisa se reorganizar. Ela sempre aparece e por mais que eu endureça e não seja mais aquele cara capaz de se apaixonar, ainda tomo esses sustos do mundo e ainda me surpreendo como criança. Tomara que seja sempre assim, 'que só assim então /serei feliz, bem feliz.'

08 outubro 2009

cinema: Cristophe Horoné


Não foi com surpresa que me encantei com o excelente "A bela Junie" (La belle personne - 2008) de Cristophe Horoné: o diretor frânces de 39 anos que tem se mostrado uns dos mais hábeis e encantadores cineastas da atualidade. Ele tem como maior caraterística a capacidade incrível de tratar sentimentos com uma percepção estética precisa, ou seja, nem cair para dramalhões ou lamentações exageradas, muito menos praquela contenção chorosa super comum nos cinemas. Muito pelo contrário, ele foge dos constante sussuros do cinema frânces e coloca em cena, quase sempre napeloe do ator Louis Garrel, uma forma contemporânea de se lidar com o sofrimento, ou seja, com um isolamento franco, seco, mas não menos dolorido, numa espécie de hibernação do sentimento, como se tudo que aparecesse fosse apenas um rastro do real.
Meu filme preferido é "Em Paris" (Dans paris- 2006) com Romain Duris, onde o protagonista, após terminar um relacionamento se isola dentro da casa de seu pai que vive com seu irmão e passa por um longo processo de enclausuramento, tanto físico quanto mental, enquanto seu irmão num mesmo dia se envolve com três mulheres. Essa discrepância deflagra não só uma desvalorização de ambas as atitudes, mas como também as reafirma como verdadeiras. A grande cena do filme é quando Romain liga para sua ex-esposa interpretada por Joana Preiss e ambos, através de uma canção, falam de sua situação num verdadeiro tratado sobre o amor.



Em "A bela Junie" é a beleza enclausurada dela que faz todos os sentidos se deflagravam entre as personagens de uma escola, enquanto que a própria moça, refém da própria beleza, se torna esquiva, amedrontada, acorrentada.
Destaque também para outros filmes do mesmo diretor como o chocante "Minha mãe" (Ma mere - 2004), no qual o protagonista se inicia sexualmente através dos ensinamentos da própria mãe e o cantado "canções de amor" (Les chansons d'amour - 2007) que revela uma liberdade sexual representada por um relacionamento triplo.
É preciso assitir Horoné, para o aperfeiçoamento de uma sensibilidade contemporânea. Uma visão nem idealizada, nem em ruínas, uma visão que ao mesmo tempo é simples, mas que revela, como numa profecia, um caminho que seguimos.

05 outubro 2009

pathos

A cabeça sempre pesa muito e já não há uma certa pureza. Eu fico puto pra caralho porque me preocupo, enquanto não deveria, com coisas cotidianas e principalmente com a profundidade na minha capacidade de pensar e refletir sobre mim, sobre o mundo e sobre o que alguns chamam de alma. Sempre fico meio que na merda, mas penso mesmo assim e pior ainda, eu escrevo sobre essas coisas, me arrependo e percebo que sou um idiota. Porque o que ealmente esses últimos dias me ensinou foi quando aqui na rua um menino sem camisa me disse: "por favor, não quero dinheiro...você tem uma camisa pra me dar. É que eu to sem..." Fiquei me sentindo mal e assim estou até agora, tipo quando o seu madruga engole a seco quando o chaves fala de comer, estou assim e não sei o que posso fazer, não sei como posso mudar, daí eu acordo meio dia, almoço, troco de roupa e vou pra academia. Patético.