28 junho 2013

o jejum

Não gosto de jejum. Sinto uma dor que não é minha e não vem do meu corpo sempre que alguém jejua (e com isso amplio o jejum para toda proibição alimentar, incluindo os vegetarianos). Jejuar, no fundo, é rir da cara de quem não tem o que comer. É cuspir na cara do alimento, é mostrar que existe algo além daquele corpo e...aaha...

aaahhh

se e...

se aaah...


não há.

Deixa teu jejum do lado e come. Manda pra dentro, se estufa e explode, se transforme em mil mega-tons de força se espalhando mundo e viva como se a comida fosse sua religião. Come tudo e se der, jogue o garfo fora e coma a mão.

26 junho 2013

prova dos 9

a menina fez tanta tatuagem
pra aparentar alguém
pra parecer alguém
pra se tornar alguém
pra ser alguém

que perdida
no banho
resolveu procurar por baixo de si
os resquícios de quem era antes de tudo

só achou rabiscos
rascunhos
exemplos

pra tirar a prova dos 9
fez uma última tatuagem
agora final:
NDA

nenhuma
das
anteriores.

21 junho 2013

última oração

Meu maior medo agora é ir dormir e ao acordar descobrir que o Brasil sofreu um golpe. Peço, quase como numa oração que não acredito e nem sei fazer, que nossa democracia esteja guardada em nosso coração, nossa mente e em todas as nossas reflexões sobre o mundo... Que o nosso país se concentre no que lhe faz bem e, como disse Beckett, aprenda a errar melhor.

18 junho 2013

Passeata dos 100 mil - Rio de Janeiro





Fim de Tarde no Rio de Janeiro. 100 mil pessoas na rua segundo a UFRJ, a maioria de branco. A polícia que não sabe contar falou que tinha 15 mil. De um lado um grupo de pessoas cada vez maior, meio bagunçado, pintado, caótico, sorrindo, brincando, levantando cartazes e palavras de ordem. Estavam entre amigos, eram todos cidadãos lutando por um país. Dos prédios, advogados, advogadas, senhores e senhoras jogavam papel picado, piscavam as luzes e balançavam camisas, panos e bandeiras brancas. O povo marchava e gritava “Vem pra rua! Vem pra rua!”
Do outro lado de tudo isso, uns caras fardados, poucos, parados, longe, meio constrangidos por estarem ali cumprindo ordens estranhas, um tanto quanto abstratas. Pareciam perfilados demais, cartesianos demais, até mais frágeis que os manifestantes.
E éramos 100 mil. Isso é gente demais! Fechamos a Av. Rio Branco, a Presidente Antônio Carlos, a Primeiro de Março, a Candelária, a Cinelândia, a Praça XV. Nas escadarias do Theatro Municipal uma bandeira do Brasil gigante. Tudo repleto, parecia um carnaval, mas um carnaval diferente, da mudança, como se de repente descobríssemos nosso lugar do mundo e tudo ficasse claro. As pessoas de branco entenderam o recado: lutavam pela felicidade. E assim foi e assim está sendo. A juventude, e não só ela, toda na rua.
Não nos deixemos enganar: onde não havia polícia, não havia problema, não havia bagunça! E o resto era só paz, era só amor e a sensação de que o Brasil está mudando!

Postado originalmente para a cobertura do evento da Literatortura

13 junho 2013

Polícia de Sâo Paulo chama Mc Anitta para ajudar na contenção de manifestantes



A polícia militar de São Paulo afirma em nota que convidou Mc Anitta para participar da contenção dos protestos que ocorrem sucessivamente na cidade pela baixa dos preços das passagens de ônibus. De acordo com o comandante da operação, faz-se mister chamar a artista por conta de sua experiência na área. Um policial que não quis se identificar explicou a decisão:

- É como diz a canção dela: "Meu exército é pesado, a gente tem poder". Não poderíamos desperdiçar uma ajuda dessa, ainda mais que com toda composição física, creio que qualquer disputa por preço de ônibus fica em segundo plano.

12 junho 2013

bravinha

gracinha,
uma coisinha a toa que ri
um tanto tontinha em mim
dos carinhos perdidos
entre a Dutra
e a Serra das Araras

gracinha,
dos beijos e abraços longos
das ligações embriagadas as 4
e da palavra que fica guardada:

bonita
gracinha.
minha
bravinha.

04 junho 2013