30 abril 2008

aprendendo a viver (ou a lhe ver)

Perguntei a ela seu nome, e ela me disse. Perguntei a quantas anda seu estudo, família, emprego, e ela sorrindo me disse. Perguntei das coisas que ela mais gostava e cada vez mais contente me disse. Depois, perguntei o mais importante, o essencial, e ela fechou a cara, bravejou, ameaçou ir embora, e por fim tornou-se silenciosa e soturna. Depois, ao meu lado, ainda silenciosa já havia me perdoado e seus olhos calmos e secos também em silêncio, me responderam:
"Não se pergunta o mais importante, o mais importante é sermos felizes juntos."

24 abril 2008

foi sim

seja o que for que ela tenha usado, foi bem usado, porque dela sou até hoje.
depois falo do meu aniversário, que sim, como todos os outros deu trabalho, foi um ano suado!

23 abril 2008

o baile

Assim, dançaram por grande parte da noite para os olhos atentos e curiosos dos presentes, e principalmente do patrão da menina. Ao final da noite, ele dispensa a carona dos amigos para leva-la para casa, onde no portão, dela se despede com um beijo longo, simples e puro.

19 abril 2008

rimar é fácil

poesia auto-referente
impotente e prepotente
mas que rende
fere rente
como gotas de um banho indecente
como fugas de um sonho recente
como mudas de um galho incidente

e nesse vagar errante e doente
dos sentimentos que plantam sementes
me vejo e me retorno demente
e se agora comigo não sentes
espera...que essas rimas te esperam somente.

(somente, mas livremente)

16 abril 2008

babá espanca bebê

Não fosse a gravidade do mundo de hoje e do quão as coisas são desvirturadas e desvalorizadas, eu poderia assim singelo dizer que essa frase sem esse verbo poderia representar uma das relações mais bonitas do mundo. Babá, bebê me lembra uma coisa meio primitiva, primária, primordial para a vida. Esses sons, quase balbuciados, representam uma linguagem ainda fraquinha, ainda pequena, ainda mundo demais para ser palavra e eu daqui imagino esse verbo feio deixando de ser verbo e o ser humano sendo mais essas palavrinhas, num dia que a gente não gritará ma(i)s, só falará pequeno que ninguém espancou ninguém, só babá bebê, babá, bebê, babá...

14 abril 2008

janelas paralelas

Foi Clarice quem me atentou para o fato de que tudo que existe no mundo existe com uma perfeição absoluta e eu as vezes não conseguia muito bem compreender o que ela queria dizer. Hoje eu entendi e foi com um sorriso que eu retribui essa imensa sutileza que o mundo me apresentou. E eu entendi que essa precisão não está ligada a heroísmos ou sublimidades ou muito menos a fatos que cabem numa história. Como eu disse, é uma imensa sutileza que percebo que não assusta só a mim, mas a ela e a todos. Esse mundo é realmente incrível, será triste um dia deixa-lo.

e

por mais que a gente tente
que sinta que mente
e entenda que pense
me é impossível chegar aqui
e ser impessoal
ou falar do frívolo

é que, sei lá, pra mim
é sempre tudo tão pro-
fundo

12 abril 2008

se eu fosse livre

se eu fosse livre. pena que eu comprei aquilo tudo. pena mesmo, porque se eu fosse livre seria tão mais fácil, tão...acho que se eu fosse tão livre e não tivesse comprado nada, não tivesse nada, comprado, talvez fosse tão livre, mas tão livre, que essa liberdade ia me matar e me aprisionar e eu não seria nada nada livre porque a consequência de tudo ia ser nunca deixar de ser tudo que eu conquistei, por isso olho pra trás e me vejo fechado num quarto lendo e escrevendo pra ser livre e lembro que fui livre quando não sabia nem o que era ser.

desapego

Sentados no sofá da sala, Francisco e Fernando estavam a aproximadamente vinte minutos sem pronunciarem palavra alguma. Olhavam-se, desviavam o olhar, um levantava, ia até a janela, voltava a sentar, enquanto o outro fuçava alguma coisa nos bolsos, e assim foi até Regina adentrar no recinto de mãos dadas com Pedro. Ele estava com o terno de marinheiro azul, roupa de festa que usara apenas uma vez, por ser considerada a roupa dos momentos especiais, porém, até então, sem saber o quão especial seria aquele dia para a vida de todas essas pessoas.

Fernando se levanta, Pedro corre para seu lado, dando-lhe as mãos e os dois se dirigem à porta. Ali de baixo do vão que deixava o sol entrar na sala, viram-se juntos, olhando para trás. Pedro sorri para os pais, Fernando passa o olho pela casa e diz:

- Voltamos em pouco tempo.

E começam a sair. Regina pronuncia um rápido “Vão com Deus”, que só é ouvido por Pedro que vira para trás, olhando sorridente para a mãe. Saindo, viram a direita e somem do campo de visão de Regina e Francisco, mas a mãe com um insight corre em direção à porta.


10 abril 2008

danadão

ziul diz:

pq pedrp?

Pedrp diz:

ah cara

é simples

eu fui digitar e errei

ziul diz:

aaahhh dai se cagou, ne?

Pedro diz:

não

foi só isso mesmo

daí eu corrigi agora

ziul diz:

aah tá...

que sem graça

Pedro diz:

nem po

achei um fato manero

ziul diz:

eu não

faltou coco

Pedro diz:

nem po

cocô fede e é moh nojento

ziul diz:

mas uma história com coco é sempre uma boa história

Pedro diz:

ai

eu fico com vontade de vomitar, sabe

ziul diz:

mas vomita?

pq vomitar tambem faz uma história ser maneira

catarse

Depois que foi assaltado uma duas vezes, passou a ser nervoso. Não que tivesse sido traumática a experiência do assalto, nada lhe tinha acontecido e nem ao mesmo perdera muitas coisas, mas começou a se sentir mal sempre que saía, era como se passasse o tempo todo burlando a possibilidade de assalto que lhe parecia inevitável. Chegar no lugar sem ser assaltado era a vitória e aliviava um pouco, mas mesmo assim já começava a pensar como faria o caminho de volta e assim poder burlar de novo essa ordem social.

Abre o portão do prédio e já olha para os lados e pra frente pra ver se consegue ver algum pivete, ou alguém suspeito rodeando por ali, caso não veja, vira para seu caminho e vai embora, vamo que vamo, pé na estrada, passo e pulso acelerados. Chega no ponto de ônibus e tira a mochila das costas, ninguém roubaria na mão boba por trás sem ele ver. Caso haja alguém suspeito por perto, anda até o ponto ao lado, caso algum mendigo atravessa a rua na sua direção, volta para casa. Tudo tem uma fuga. Chega o ônibus e entra, só senta no corredor com a mochila no colo perto do trocador olhando para quem entra e olhando para quem sai. Salta do ônibus, olha pros lados e escolhe o caminho mais perto. Vai como flecha.

Chega em casa a noite cansado, exausto com dores de cabeça, dorme mal. Acha a vida um estresse.

Dia seguinte, sai do portão do prédio tenso e é logo assaltado. Dá 10 reais lá pro sujeito e vai embora pra aula. Nunca foi tão leve, nunca se sentiu tão bem, estuda bem, dorme bem, diz oi pro trocador, pro motorista, ameaça até conversar com pessoas no ônibus, dá o lugar para os velhinhos. Enfim, sente a liberdade que ele tem quando já não tem.

solidão

Quanto mais escrevo, mais sou solitário. Primeiro, porque é pelo ato que aos poucos eu descubro o mundo e todo aquele peso que vem com ele, segundo porque quando escrevo não escrevo sou escrito, ou seja, entro em contato com a parte minha que desconhece mas sofre e terceiro porque os que me lêem quando gostam do que lêem dizem que gostariam de escrever como eu e sinceramente, se não acredito que já o fazem gostaria muito que escrevessem tal como eu porque escrever diferente me deixa mais solitário e cada vez mais com medo da minha próxima frase. Digo isso tudo porque talvez um dia eu pare de vez.

08 abril 2008

o último

Fragmentos de ficção II

palavra aleatória escolhida por Pedro Fernandes

Pedro diz:

é pq tava tocando "pela última vez" na tv
daí eu falei ultimo, pq eu queria falar no masculino
é mais manero

Ele estava lá quando eu já não estava mais, aliás eu já tinha ido faz tempo, mas sabia que ele ainda estava, ou estaria por um bom tempo. Sabia que se eu voltasse, ele iria embora então eu não poderia ir vê-lo. Ele é mais paciente, mais tranquilo, mais calmo, mais persistente. Acima de tudo é um homem de fé, muita fé; fé ou desespero, mas ele é um ser complex(t)o. Ele demora mais nas cocas-colas, nas jornais, nos programas de tvs, na internet, ele sempre está presente, embora não esteja sempre presente pra mim ou pra você, mas está sempre lá. Você não vai se sentindo só, nem eu, porque ele está lá, fazendo companhia até o fim. Se ele morrer, alguma humanidade morre.


Uma vez ele saiu pra comprar pão e eu achei que eu tinha ficado sozinho; não aguentei, gritei, esperneei, liguei pra minha mãe que obviamente não poderia atender, tentei cigarro, cerveja, violão, música, nada tinha por ali, nada. Era o maior silêncio da minha vida. Pra mim era tão difícil, mas ainda bem que em pouco tempo ele voltou com a mesma paz de sempre e tomou de volta seu lugar, me deixando ir.


No dia que eu tentei acabar, ele estava lá e me impediu. No dia que eu tentei dormir, ele sentou do meu lado, segurou minha mão e esperou. No dia que eu fui pra festa e não queria ir embora, ele tal qual segurança ficou até o fim e me fez companhia. Ele é o que mais gosto em mim, mas sei que quando ele precisar não vou poder estar para ajudar.

07 abril 2008

per-doar=for-give

Fazer o bem é não se sentir bem fazendo o que está fazendo. Fazer bem é até se sentir um pouco mal por fazer. Doar é sentir falta, rasgar na carne aquilo que mais precisa, mas ainda assim é o bem, o bom, a doação. Às vezes os outros não entendem e viramos vilão, porque afinal de contas, alguém precisa ser vilão. Talvez apesar de ateu eu seja cristão demais.

06 abril 2008

fragmentos de ficção I


Palavra aleatória por Milla Muniz: amigo


- Milla . diz:

foi a primeira que veio na mente

eu até pensei em escrever outra sabe? mas acho que nao seria sincero


Joana estava sozinha em casa. Resolvera andar nua, colocar um som alto e fechar todas as cortinas para que se olhasse de dentro e para que a casa só lhe olhasse por dentro, depois de um tempo nua, percebeu que ainda não estava totalmente nua, não se sentia. Resolveu então tomar um banho, achava que no contato do sabonete e da esponja em seu corpo poderia chegar mais perto de si e começou o processo de limpeza, liberdade e auto-consciência. Escolhera a água gelada.


Ensaboada se tocava, tentava manter toda a proximidade de si, passar a mão e a esponja em todas as partes do corpo e nada. Talvez não tenha nascido para se sentir. E se se masturba?


Odiou com veemência a idéia, saiu do banho com raiva, se secou e se vestiu com a maior roupa e a que mais lhe tapava: do pescoço aos pés. Resolveu prender o cabelo. Abriu todas as janelas e destrancou as portas sentindo uma tristeza imensa do que não pudera realizar: esse auto-conhecimento que só uma casa vazia poderia concretizar. Foi quando na porta bateu alguém. Uma amiga de infância que Joana chamou para dentro, fez-lhe um lanche, pegou uma coca-cola e as duas devagar conversavam, como quem não tem pressa de nada.


Joana não percebeu mas ela já estava chegando a esse seu auto-conhecimento, prova disso é que já tirara o casaco e as meias. Joana não percebeu mas talvez intuiu que a gente só encontra a gente num amigo e principalmente quando a gente está distraído.

tentativa 1

Gosto de assumir coisas minhas, muitas vezes gosto até de assumir coisas dos outros. Se eu fosse fazer um tratado sobre a coisa acho que diria que o que dela transparece são só uns mal hábitos, um singelo mal humor e algumas atitudes dissimuladas, que transparecem a definição de coisa. Acontece é que eu descobri que eu não tinha coisa nesse caso e não foi coisa minha quando tive um dia de estar comigo do jeito que eu queria e percebi que me diverti e fiz até o que me parecia impossível. Por isso acho que retrospectivamente...caramba, onde é que raios eu estou querendo chegar?

03 abril 2008

pensado

Eu estava indo dormir, quando uma frase veio com muita força em mim, tanto que não me contive e tive de anota-la num papel. Transcrevo-a:

"Só faz poesia ou vive poesia quem entende de madrugada e entrega ao corpo as dores da alma e do coração."

Depois fiquei tentando entender o que eu havia pensado e principalmente porque eu havia pensado nessa frase justamente na hora de dormir enquanto escovava os dentes. Pra variar não consegui me responder, mas acho que conciliatoriamente entendi em mim que essa frase veio justamente porque eu entrego ao meu corpo todas as dores da minha alma e do meu coração.

Termino com uma frase de meu professor Walder:

Fomos nascidos e criados para a felicidade, mas temos sofrimento desde o primeiro momento.

gentileza sem chance

Hoje voltando pra casa entrei no ônibus e vi uma linda menina. Sabia que não chegaria a falar com ela, muito menos a conhece-la. Por humildade, gentileza e respeito resolvi me esconder dela e sentei-me logo atrás para evitar de olha-la e invadi-la com meu olhar que não conseguiria se esconder.

Pouco depois desci do ônibus e andando pra casa, sozinho, percebi como eu gostaria que o mundo me tivesse dado uma chance de ser gentil com ela.

02 abril 2008

topar

Hoje acordei e ao levantar topei com o mindinho na quina da cama. Doeu e eu gritei: "Puta que pariu!" E como eu me senti feliz por estar vivo e ser livre. Bom dia pra mim!

01 abril 2008

urbanidades


Meus deus, eu que sempre resolvo tentar saber tanto; eu que tento ser de mim para mim, e viver por mim, mas que me abandono sempre pelo outro. E pior, sempre que me abandono é quando chego muito mais perto de me encontrar, embora nunca me encontre.

Acabei de assistir Polaróides Urbanas, o filme que é a primeira direção cinematográfica do Miguel Falabella. Tenho que dizer que foi com espanto que recebi esse filme. Foram choros e gargalhadas acompanhadas somente por mim nas já costumeiras idas solitárias ao cinema nas tardes cariocas. Choro porque sofro com aquelas personagens, rio porque também sou um pouco delas, e sendo, compartilho com elas essa nossa solidão, que no final, sempre nos parece engraçada, ou não?

Acho que resolvi escrever simples hoje, escrever simples porque quero ser entendido, acho que cansei da minha solitária missão de fazer arte, de esconder signos pra lá e pra cá. Queria hoje poder dizer em eterno estado de crônica, de sair falando e falando e no tempo que você me lê, ir entendendo e gostando, e sentindo que divide alguma coisa comigo, nesse momento único que é estarmos longe fisicamente e tão perto dentro, nessa coisa que a gente pode chamar de alma, mas que eu prefiro chamar de “a gente mesmo”.

Tem uma cena do filme que eu resolvi transcrever porque demonstra tudo isso que eu tentei dizer aí em cima. Vamos a ela:

Numa praia, uma mulher quarentona e um menino de vinte e poucos anos conversam:


  • tenho que falar pra senhora, o que eu disse de ser stripper é mentira. Eu sou garoto de programa...

  • Como?

  • É...eu faço sexo por dinheiro.

  • Bem...pelo menos faz sexo, ne?


E nesse completo encontro de perdidos na urbanidade que seguiu minha cabeça. Andar na rua foi estranho, mas voltei pra casa, retomei a rotina e já está tudo bem. E por que será que finalmente quando volta tudo ao normal me dá vontade de dormir?