30 março 2007

o cego

O cego sem sabedoria pedia ajuda sempre que podia, mas nem sempre era ouvido, pois não falava com os olhos que perdidos passeavam de lá para cá, sem irem a lugar algum. O cego tinha a dádiva de ser cego e não morrer anônimo e ser vez ou outra notado na vida, que para cego dura um pouco mais que para gente que enxerga. O cego também passeava no parque, ouvia músicas e assistia filmes, o cego também falava ao telefone, mas não sempre, não desperdiçava o contato humano que achava importante. O cego era burro e deu um esmurro e um esporro no menino que gritava com o avô. O cego era sábio e subia no parapeito da ponte do parque do pároco.

Passei esses dias no botequim do mané e estava lá o cego enxergando tudo e enchendo a cara com o povo do morro do gambá. Perdi o interesse dele, que agora até virou vascaíno.