25 abril 2018

Pedagogia Digital: Por uma educação que junte pessoas


A formação permanente tende a substituir a escola, e o controle contínuo substitui o exame. Este é o meio mais garantido de entregar a escola à empresa.”
Gilles Deleuze, em Conversações

Conectar pessoas. Esta parece ser a máxima contemporânea das redes sociais, da velocidade ultracurta, dos aparelhos eletrônicos e de toda a tecnologia de informação de nossos tempos. Mas será?

Um passo atrás: a invenção do avião – um meio de transporte que fura o vento para encurtar espaços. Um passo atrás: a invenção do telefone – um fio com dois círculos que falam e ouvem. Um passo atrás: a invenção da imprensa – uma máquina de fazer papel com letras em larga escala. Um passo atrás: a invenção de Deus. Um passo atrás: a invenção da palavra.

Conectar pessoas. O que significa isso? Abandono a pergunta.

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Deleuze, em suas conversações, no capítulo que diz respeito a política, se debruça sobre o pensamento de Foucault, principalmente no que se refere à passagem da sociedade disciplinar – a sociedade dos espaços de aprisionamento como hospitais, escolas, prisões - para a sociedade de controle em que os confinamentos se tornam “modulações” e se incorporam dos processos de subjetivação dos sujeitos.
Voltando ao mínimo: a obra se chama Conversações. O capítulo se chama Política. A pergunta: como o modelo do capital – não no que ele tem de estrutura, mas na forma como ele se subjetiva, na medida em que o dinheiro passa a ser não um espaço físico, um banco, mas uma cifra, uma senha – promove espaços em crise, lapsos, vazios, descontinuidades, velocidades, repetições sem diferimento? O que ele impede?

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Sobre educação. Deleuze, via Focault, parece propor um olhar para escola – na passagem da sociedade disciplinar para a sociedade de controle – não mais como o lugar de poder clássico: de cima para baixo, em uma pirâmide de estruturas, mas no dissolvimento do poder em uma continuidade. Chega a dizer: na sociedade disciplinar tudo está sempre começando, na de controle nada termina. Ou seja, a educação se torna um processo que, via capital, vai se estender para a todas as instâncias da vida, com um valor como uma cifra, uma senha. Um continuum vazio. O que isto impede?

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Quando penso em cultura digital e ensino penso que uma nova forma de estar no mundo, no caso via tecnologia digitais, requer uma outra pedagogia, ou seja, uma outra maneira de formação e adaptação de seres ao mundo. Como podemos pensar em uma pedagogia digital? O que o mundo digital nos oferece que pode ser o cerne desta pedagogia?
Conectar pessoas? O aprendizado, no fim das contas, não seria um desdobramento de possíveis conexões? E sendo os espaços de cultura digital lugares de interação, não seria a tarefa de “conectar pessoas” a grande tarefa da educação digital? Penso em: diminuir hierarquias, possibilitar uma ausência de memória – como pensa Donna Haraway em Antropologia do Ciborgue – das estruturas opressivas da sociedade, possibilidade de criação de zonas de contato e, portanto, zonas de afeto. 
Conectar pessoas: não seria a educação, na cultura digital, o lugar de procurar uma outra pedagogia, ainda não explorada, mas que se baseie naquilo que os novos tempos ainda pode nos oferecer? Não seria um caminho de...novos afetos?

Ver: https://www.youtube.com/watch?v=3gSSNHO1dDs

A educação e o audiovisual: Algumas perguntas, algumas reflexões


Em nossa última aula, uma coisa que me chamou atenção foi o fato de que tivemos contato com outros modos de educação a partir de vídeos filmes, ou seja, tecnologias audiovisuais, algumas delas mantidas em redes sociais como o Youtube. Sei que esta constatação parece banal, dado o título de nosso curso e sei também que esta talvez não seja a principal mídia ou forma de propor ou propagar modos outros de se fazer educação. Entretanto, percebi que, de certa forma, há uma relação estreita entre educação e o audiovisual, tanto em programas institucionais, como em documentários e até filmes de ficção a respeito do tema. Acho que isto tem muito a dizer sobre o próprio tema.
A primeira pergunta que me faço é: como o audiovisual trata a educação? E a partir disso faço uma série de questionamentos: É possível dizer que, de um lado, modos ditos alternativos de educação são tratados com certo exotismo, ou seja, como se fosse uma particularidade de um local, de um povo, de um grupo ou da ideia genial de um sujeito em determinado espaço? Se sim, é possível concluir disso que, nesta trilha, esta educação, apesar de revolucionária e que poderia dar outros tons a educação no mundo, acaba por ficar restrita? Refaço a pergunta: Será que, com todas as boas intenções e com as boas ideias, algumas dessas obras, não tratam outras formas de educação como “revolucionárias” e, portanto, coisas distantes, da ordem da utopia – aquilo que é sem lugar – ao invés de tratarem como políticas públicas possíveis e ao alcance de cada um?
A outra pergunta que me faço é se, por outro lado, o cinema americano, de cunho obviamente capitalista, embora este termo precisa, sempre, sempre ser melhor explicado, além da visão pautada no indivíduo, não tratou de fazer a educação como o lugar de refazer o desacerto? Tento me explicar: há uma tradição do cinema americano que povoa o imaginário de pessoas ao redor do mundo cuja trama gira em torno de: uma turma tem uma série de problemas, são desordeiros, grosseiros e não dão atenção a educação. Eles depredam o espaço público e expulsam um a um todos os professores, até que chega, de repente, um professor ou professora que, aos poucos conquista e faz surgir “o lado bom” dessas pessoas. “O lado justo”. “O lado humano”. Será que não há neste cinema, me pergunto: a tentativa deliberada de dizer que a educação não é um projeto coletivo, ou seja, não faz parte de uma ideia compartilhada, se não por uma nação, mas por um grupo de pessoas que pensam a área e que, portanto, são capazes de, juntas, refazer a ordem das coisas? Será que não está em nosso imaginário de que “professores são heróis que devem ser valorizados” justamente o problema de que, se alguns devem ser valorizados ou não devem, incorporando mais uma vez a lógica meritocrática, logo, do capital?
Neste ponto, a partir desses dois lados que apontei, apesar de vislumbrar o fato de que podem existir outros que não observei aqui, minha pergunta é: como pensar a educação por fora destas duas chaves: de um lado, a educação revolucionária, mas distante, de abrangência micro em relação a maior parte da população e, de outro lado, em uma educação que se faz em todo lugar, nas comunidades, nas grandes cidades e no campo, mas de força centrada no indivíduo, meritocrática, com uma série de subjetivações capitalísticas, feitas por seres isolados diante de mundos isolados?
Para finalizar, deixo, mais uma vez, uma pergunta: Talvez, pensar a educação não seja pensar em uma questão de forma? Como abordar educação e como apontar para o ato de educar, talvez por um viés Deleuziano em que o ato de educar se daria como uma matéria sempre informe em constante formação e transformação – num movimento de territorialização e desterritorialização - com viés coletivo, que se dá a partir de semelhanças, do múltiplo, de junções, de hospitalidades, de planos comuns, ao invés de pensar, como na linha freudiana, naquilo que falta, naquilo que não temos ou naquilo que temos, mas que ainda nos falta para melhorar. Pensar na forma, como uma força mobilizadora, talvez consiga desestabilizar os dois pontos apontados acima ou, quem sabe, começar a traçar linhas que poderão ser compartilhadas, nem que seja por nós, aqui, numa sala de aula.