28 janeiro 2008

as time goes by

O mundo acordou em cores e disso eu preciso falar. Nada de novo no mundo aconteceu, porque nada há para acontecer, mas mesmo estava tudo melhor. Não porque eu tenha mudado, ou porque o verão coloria mais as coisas, pelo contrário, até estava nublado e o carro estava cheio de gotas de um orvalho da manhã. Era eu, na minha melhor parte: naquela que eu não entendo. Lembra quando eu disse nunca brigar? Nesse dia eu parei de brigar comigo e ao entrar no carro e estar sozinho a ouvir uma música em volume baixo para não abafar os sons da cidade, me fez entender melhor a vida. Escapou tudo que eu pensei, mas foi bom demais e me sobrou agora a sensação. Então, agora, lembrando e continuando comigo percebo que tudo que ouço é verdade, que tudo que vejo é verdade, que tudo que está ao meu lado é meu, bom, meu, e eu escolhi. Quero rever a cena do piano de Casablanca. No matter what the future brings, as time goes by…

25 janeiro 2008

1900

Por acordar cedo, com sono, cansado, por ter estado sozinho e senti-lo sempre, ao vir escrever sei que cada frase será pesada e lembrará qualquer coisa de 1900.

22 janeiro 2008

heath ledger


E quando ele morre tanta gente morre com ele, tanta gente deixa de existir, é um genocídio sua morte, uma coisa meio estranha pra mim não acostumado a ver a morte de alguém que só conheci sendo o outro. E em quantos outros dele estaria ele, ou por quantas vezes teria eu o prazer de ver seus outros sem vê-lo, eis os mistérios das artes da vida e da gente: sempre alguma coisa fica irrealizada e tudo que já (se) foi se torna mágico, etéreo e sempre nos escapa ficando na gente pra sempre, mesmo escapado.

Platão

para Platão era "ver além"

15 janeiro 2008

fato

E quando me acabam as palavras e os argumentos o que me resta? Apenas um infinito silêncio e uma paciência que caso acabe me levará junto com ela para o fim de mim.

14 janeiro 2008

pois

Como se fosse possível pelo menos uma vez na vida dizer aquilo que não se pensou mais ousou sentir sem mesmo conseguir entender sem palavras, o menino tentou poder dizer para elas o que queria. Não disse, ou ao tentar dizer, sabia que não estava conseguindo e mesmo não olhando pra elas, sabia, e percebeu que sempre saberia, que a qualquer momento que tivesse palavras assim gentis e sinceras pra elas, elas agradeceriam e sorririam, uma vez que elas tinham a certeza de que poucas vezes na vida tal tipo de encontro aconteceria. E ele, acanhado por estar dizendo assim, tão rápido e tão verdadeiro, resolveu por pensar que nelas estava muito do que ele queria, não para si, mas para a vida dele, que na presença delas poderia se concretizar. E nesse vai e vem de pensamentos e nervosismos, ele percebeu que pouco precisaria dizer, ou mais nada, porque se elas gostassem não precisariam nem ler tudo, que na primeira linha estaria dito, não por mim nas palavras, mas no sorriso delas que infelizmente não chegarei a ver.

12 janeiro 2008

classificar

E toda vez que ouço – não te classifico – tomo isso como boa coisa, como aquele que sabe que o essencial é aquilo que não aparece ou aquilo que vaza e que no fundo sentimento é isso mesmo, mas depois acabo por perceber que não. – não te classifico – é só a forma de ser um asterisco, um aparte, um post scriptum, um epitáfio e minha inclassificabilidade acaba por ser aquilo que me classifica, a regra do que eu sempre fui e que hoje com toda força me reafirma, tanto que me faz já nem ousar reclamar outra coisa pra mim.

07 janeiro 2008

suspira. Depois

De pileque, trôpego pelas escadas numa dissimulação imperfeita ajudada pela escuridão da noite, ele chega em casa. Troca algumas palavras com quem ainda não dorme, ou com quem nunca dorme, ou com quem sempre espera. Tira o tênis sujo, para as meias precisa de apoio da estante e em segundos tira a calça e a blusa e fica de cueca, escolhendo qualquer bermuda e qualquer camisa, principalmente aquelas que não escolheria para vesti-lo naquela noite de sono. Senta-se a cama, olha para frente, num ponto da janela com alguns adesivos e respira. Depois suspira. Depois de um silêncio, volta a respirar com a força de um suspiro. Tenta pensar e não pensa, apenas aguarda que todos se deitem, o que demora apenas alguns minutos. Levanta-se, dirige-se ao banheiro e se percebe no espelho com a pupila dilatada a escovar os dentes sem respiração e com sono. Volta-se ao quarto, se senta na cama e olha novamente o adesivo e respira. Depois suspira. Depois de um silêncio, volta a respirar com a força de um suspiro. Deita-se, mas ainda muito demoraria a dormir.