25 dezembro 2010

O natal

Se eu não faço um post de Natal fico incomodado. E pra mim o natal tem uma questão dupla: por um lado é uma festa superficial, de contato com pessoas que não somos tão próximas e de quem não somos obrigados a conviver. Mas se é assim o Natal, também é da possibilidade que nosso calendário dá de nos aproximarmos dessas pessoas, de nos deixarmos tocar por um sentimento calmo e bom de que tudo é harmônico e faz sentido e, principalmente, de que viver faz bem.
Sei que a vida não é feita disso, pelo contrário, ela é árida, dura, seca e na maioria das vezes ruim, mas isso faz parte de um engajamento necessário para transformação. Se aceitarmos que ela é ruim, podemos mudar, se nos deixamos tocar por esse sentimento bom, ficamos achando que tudo deve estar como está.
É uma excelente duplicidade: se sentir bem, apesar de saber que o mundo não é bom assim e poder transformar nossa vida e a de muitos. O natal é político, ou poderia ser.

19 dezembro 2010

isso idéias nisso

Faz tempo que não faço isso. Abrir uma página em branco e me deixar escrever qualquer coisa que me venha à cabeça. É uma pena que quase todas nossas idéias morram ainda antes que se possa vislumbrar, ainda que a distância, a concretização delas. Bom, na verdade, quando a gente pensa, elas estão claras e belas, já as vemos prontas e perfeitas, mas alguns segundos depois elas nos escapa e voam não sei para onde. Seja porque nosso ônibus chegou, ou porque um barulho incomum na rua chamou nossa atenção, ou pela bela moça que passa com um forte perfume, ou porque uma música soou em uma cabine policial e isso é ironicamente belo.
Nossas idéias são como sobremesas. Não servem pra saciar nossa fome de vida, mas para adoçar nossa saciedade. Essas idéias, quase que sempre mirabolantes, dão um gás pra encarar o asfalto, na verdade, elas abrem um buraco negro na rua, e nos carrega pelos braços pra um outro lugar. Quando se vão, resta-nos somente nós próprios e uma vontade de escrever ou contar pra alguém. No entanto elas somem, evaporam, desvanecem e fica-nos uma sensação de fracasso, de perda, de esquecimento. É triste. Talvez a morte seja o fim de nossas idéias, ou então, finalmente a concretização da nossa maior e recorrente delas. Imagina se a gente não estivesse aqui?, atire a primeira pedra quem nunca pensou nisso.

Sim, é de propósito que eu começo o texto com isso e termino com nisso, mas não, não atirem a primeira pedra. A primeira pedra é sempre do culpado, todas as outras são de Maria vai com as outras.