24 janeiro 2012

23 janeiro 2012

quietinha

tenho uma poesia inteira pronta na minha cabeça. Hoje, resolvi não escrever, resolvi deixa-la livre pra ser o que quiser. Quem sabe ela assim, quietinha, alce vôos muito maiores que quando no papel. Quem sabe ela amadureça, se forme e fique chata. Não sei, mas hoje vou deixar a poesia aqui, comigo e só.

22 janeiro 2012

domingo

domingo. domingo, né? (e digo domingo como se essa palavra fosse ganhar um significado para todos , mas sei que não, não vai.) e tem muita coisa acontecendo e eu tenho sempre tão pouco pra dizer.
A gente fica esperando um sinal da natureza, um sinal do mundo, um indício de que alguma coisa vai mudar e de que tudo vai ser diferente. Aí você é daqueles que tem esperança e vai se frustrando e frustrando até secar e nada mais ter pra sentir. Ou então você é daqueles céticos e aí, amigo, você vai perder tanta ternura, candura, pureza. Ou então nada disso: você vai sentar, ligar a televisão e fingir que o tempo não existe até faze-lo não existir. Deixa-lo matar sem saber, como um vírus invisível que te corta as veias pouco a pouco.
Tem também outra opção: nada.
só uma pequena outra coisa chamada:
domingo.

18 janeiro 2012

tênis



tênis é aquela parada: bola pra lá, bola pra cá. Qualquer momento de desatenção e outro vem em cima te cobrar. Se ficar nervoso, amigo, você tá sozinho na quadra, não pode falar com ninguém, se vira. Se você ficar puto, pior ainda, não há o que fazer, meu camarada, joga a raquete no chão, bica uma bolinha, no máximo, leva uma advertência, mas vai ter que voltar pro jogo. E é ponto a ponto, tudo igual, repetindo pra fazer diferente. Se você for cauteloso e ficar no fundo, pode tomar uma deixadinha na beira da rede, se você quiser acabar com o ponto logo e subir, pode levar uma passada no fundo. Se descansar o corpo, se resolver aproveitar, se sorrir, vem o outro e poff...ponto! Quando você vê o cara ganhou dois sets, tem um triplo match point a favor. E tudo que você pode fazer é desistir, apertar a mão dele e ir pra casa. Engraçado, tênis parece a vida.

17 janeiro 2012

trechos de mim

queria copiar um texto velho meu. Pegar algo que já escrevi, tirar um trecho e colar aqui. Isso, assim, como um estupro de mim mesmo. Como o roubo intencional daquilo que um dia me foi autoral. Eis:

"as meninas se fixam
transitoriamente entre
o que eu quero
e o que vou fazer

e o que era pra ser belo
agora é só disforme
como se o mundo assim
pudesse fazer sentido "

10 janeiro 2012

palavras extraordinárias

não existem mais palavras extraordinárias
todas são xulas, nulas, bulas, gulas, fulas,
e todas as intenções são más,
nenhuma delas, palavras ou intenções,
tem um fim divino porque o divino fim
é final demais pra ser adivinhado
pelo homem vivo.
o divino é de vinho demais,
dividido demais,
distraído demais,
e no mais, ademais, por detrás
daquilo que faz
a palavra comum, qualquer uma
isopor, televisão, cachorro quente,
bolsa de valores, prego, constituição,
qualquer uma delas serve a coisa nenhuma
serve a não, a nunca, a nada, a niente
a necessidade de ninguém para fim nenhum
e antes que o fim seja final que seja o início
do meio pra se chegar na tentativa da possibilidade
da incerteza da estrada do processo do caminho

e nenhuma palavra é extraordinária mais
só as intenções são grandes
e más.

entre o sentido, o sentindo e o não sentimento
existe o pedacinho do amor do céu
do amor do cão
do amor do ódio que ama amar o amor que odeia
existe a qualidade da não caridade que é o amor ao próximo
vítima da saudade que deveras sente pelo ser

não existem palavras extraordinárias
não existe nada demais
mas existe alguma coisa que eu não sei.

08 janeiro 2012

nosso último encontro

nosso último encontro
(repare nas palavras:
nosso
último
encontro)
não foi o último
porque nunca poderia ter sido.

quem nos visse acharia que era o primeiro
tanto era o sorriso de saudade,
o medo do futuro,
o susto do amanhã
e a incerteza de todo o resto que não era a gente.

nosso último encontro foi como uma pedra
um imenso iceberg
uma interferência dos planos do mundo.

foi como a apoteose da primavera
e a prova de tudo que a ciência diz
sobre os amores e as reações químicas
sobre os pudores e as armas biológicas.

nosso último encontro foi o que foi
(nosso
último
encontro)
e naqueles momentos,
últimos, nossos,
só existiu a gente.

02 janeiro 2012

videotape

eu queria fazer um texto com dois objetivos: 1 - falar sobre o tempo. 2- ser capaz de fazer chorar. Então peço que quem me ler que coloque ao fundo a canção "videotape" do radiohead. O link está aqui: http://www.youtube.com/watch?v=eNY3zTWDs9s
O tempo é bruto, é violento, único, mas apesar disso a vida funciona em videotape, funciona com um tempo visceral, caótico e não poético sendo incidido por vários momentos de nossa vida ao mesmo tempo. Sou capaz de estar em três ou quatro momentos agora, um aqui de short, sem camisa, banho tomado, cabelo ainda não penteado, outro na cama curtindo um momento de romance, nas horas que o eu te amo escapa entre suspiros, um outro passeando na praia com meus pais num dia em que saí de mãos dadas com minha mãe sem ter vergonha de o fazer e um outro em que sofrendo fui sozinho ao cinema e assisti um filme que me faz cair lágrimas tão pesadas que doíam pelo meu corpo. E estando nesses quatro lugares tenho saudades de todos, menos do de agora. Isso é o tempo.
O videotape não reprisa nada, ele reencena a vida, reescreve o mundo, reestrutura as palavras, os gestos e os sentimentos. Não há nada que não seja novidade e o tempo faz questão de que isso apareça a todo instante como um reflexo no espelho que se mexe e se mexe e se mexe, às vezes sem nem a gente saber que ele vai se mexer.
O choro. O choro e o tempo. Só o tempo é capaz de fazer chorar. Tem aquele primeiro choro, de emergência, o choro que te toma, que dá um sopapo na tua cara e você adora se jogar e deitar no outro da pessoa que te faz chorar pensando que queria morrer ali chorando, mas nunca perder a capacidade do choro. Tem o segundo choro, aquele distante, lágrimas por ninguém, diz hebert, cry for no one, dizem os beatles. Choro antigo, passado no século passado nas nossas vidas, mas que quando a gente senta e lembra, dos 4 momentos, juntos, os tempos todos, ele vem quase como um cansaço, e descansa, alcança a gente antes do fim do mundo e libera a paz.
O ano começa e com ele várias boas coisas, novas esperanças, novos jeitos de ver o mundo. Mentira. Sei lá, também, sei lá. É bom dizer sei lá, porque às vezes, né? Sei lá. Eu sei do choro e do tempo. Choro muito menos do que deveria, vivo muito menos o tempo como deveria. Uma chuva me prende em casa. Acho que esse final de texto está como eu gostaria, parado, preso no sem fim da linguagem, onde se abriga de um lado a escrita, forjando um tempo e as lágrimas presas em algum lugar de mim que nem sei. Ou sei. Sei lá. Que a vida seja um eterno videotape de novas imagens. Que o passado seja em tempo real.