29 julho 2009

ok

E aí, cara!
e aí...
tudo ok?
tudo ok e contigo, ok?
não. tá tudo desok,
nok,
inok,
unok,
aok,
antiok,
exok...

28 julho 2009

minha menina

sonhei com a minha mulher
nele era só uma menina
e eu não era eu
era um menino eu
e de cá fui pedófilo dela
fui pedófilo de mim mesmo
lá era só sonhador
que amava minha menina
como ela me amava
esperando que ela crescesse...

daqui era só minha mulher
querendo que eu a amasse
como amava a menina
e eu que não era mais menino
e não era mais sonho
não podia amar a menina
nem podia amar a mulher
podia, com minha mulher,
sonhar que amava a menina
e, no sonho, com a menina
sonhar que ela virasse mulher

mas eu - homem e menino -
sofria problemas de identidade
e a minha menina - mulher
cada dia mais linda
e mais feliz

26 julho 2009

pergunta

sempre que me dizem:
pensei em você o dia todo,
eu fico pensando:
pensou em mim até cagando?

24 julho 2009

o aperto

Uma vez quando estava com ela eu soube que iria me despedir. Era sempre igual: eu a deixava no portão do prédio, dava um beijo e ficava olhando ela subir, sumir, entrar. E ali eu começava a cronometrar os segundos até o dia em que a veria novamente, mas não sofria, sentia um misto de liberdade e paixão, desejo e medo, felicidade e paz, porque da paz também se fazem problemas. Mas uma vez, só uma, ao ve-la andar percebi que um dia aquela ida dela seria para sempre, percebi isso e consegui me sentir fora de mim e perceber que cada dia que eu a deixava no portão estava mais perto do dia que eu nunca mais a deixaria no portão, do dia que ela teria que entrar pelo portão sozinha e entrar sozinha e deitar sozinha e dormir sozinha, ou que ela teria que encontrar outro pra leva-la até lá e repetir o que eu tinha ensaiado e encenado por um tempo. Nesse dia senti um aperto e percebi que o amor era esse aperto mais que tudo, mais que ela indo e eu ficando, mais que o portão separando, mais do que ela sentia. Percebi que o amor era eu e o meu aperto, porque o andar dela seria igual, o sono também, eu que não estaria mais lá e quem sabe um dia, talvez também não meu aperto.

dar valor

Sempre ouço dizer que é preciso "dar valor" às coisas. Dar valor à mãe, dar valor à comida, ao dinheiro, ao amor, às pequenas coisas da vida, à saúde, a poder viajar todo final do ano, ao acordar, mijar e não doer, ao sair e voltar de casa, ao emprego, ao carro, às férias, aos domingos, à namorada. Enfim, seria preciso dar valor a quase tudo que se tem, porque não dar valor seria ser ingrato e precipitar um futuro onde não se terá. Pra mim isso sempre soou meio como bobagem porque só se diz para se dar valor áquilo que não se valoriza. Quanto mais se diz para valorizar, menos valorizado é. Porque dar valor é dizer que algo merece algo que não tem, mas deveria ter, no entanto quem será que deve dizer aquilo que devemos ser gratos? Não seria a gente? E dizer que valorizo não é muito diferente de valorizar? Muito vão dizer: "só se dá valor quando perde", o que para mim é exatamente o contrário: quando se perde se percebe o valor que havia e que não há mais, há um vazio zero, logo o vazio não está na falta de valor, mas na necessidade de preencher o vazio com outro valor que nunca poderá ser aquele. Cada valor é único e nada pode mudar. O que me volta àquela eterna resposta: só uma coisa explica a própria coisa. Só se valoriza a mãe, quando se está com a mãe, quando se escolhe estar, só se valoriza a saúde quando se corre pela rua e chega feliz e não cansado, só se valoriza às férias curtindo todo dia, dormindo muito e se possível viajando. Dar valor é então fazer aquilo que se faz, falar aquilo que se fala, comer aquilo que se come e dormir aquilo que se dorme, ao invés de falar quando se está com fome, dormir quando se quer falar, fazer quando se quiser comer, etc. Viver é viver, encher o saco é encher o saco, escrever é escrever. Por isso sempre valorize ao dar valor, mas nunca diga que se valoriza o outro, porque o valor está nele mesmo, assim como cada coisa...

12 julho 2009

a vida como louça de cozinha

A vida nada-tudo mais é que louça de cozinha. A gente gasta mais tempo lavando, limpando e desengordurando do que aproveitando o paladar, o gosto da comida. Muito mais do que pensando no sabor do jantar. Ali na pia tem tanta sujeira e tanto resto que a gente pensa que é impossível se ter sujado tanto, e vem aquela sensação de que se vai limpar mais do que sujou, que vai consertar mais do que errou, que vai chorar mais do que sorriu, que vai matar mais do que morreu. Além do que a gente vai pra mesa sabendo que vai ter que lavar depois. Mesmo que se decida que cada um lava o seu prato, alguém vai lavar a panela, alguém vai limpar o fogão, alguém vai limpar mais e isso é tão injusto, que chega a sufocar. Depois é a sensação que mesmo passando um tempo lavando e de tanta água que passou pelas mãos, elas estão mais secas do que nunca, ásperas, envelhecidas e que não demora pra se sujar tudo de novo.

07 julho 2009

music and me

Eu não quero cair nesse sentimentalismo ao redor da morte de Michael Jackson, só gostaria de deixar claro o que nós fizemos com ele, o que o mundo fez com ele, com aquele cara que parecia um menino ao cantar, ao falar, muitas vezes transformamos ele numa personagem de circo, num animal de zoológico, ficamos orbitando cada passo para saber qual era a próxima ação dele. Lamento por tudo que ele passou e que fizemos ele passar, mas não vou cair no sentimentalismo. Quero só deixar uma música aqui, que pra mim é a mais bonita dele, porque representa o que fazia ele cantar, ele se mostrar pro mundo. Quem sabe, essa ligação dele com ela - e só isso - tenha valido a pena tudo que ele passou na vida.

problema a mais

sempre que eu escrevo no computador, depois quando vou ler percebo que cometi vários erros, muitas vezes depois que já postei, muitas vezes depois de dias. Isso ao invés de me envergonhar, me deixa contente, é interessante incorporar alguns erros à escrita, algum escape, alguma dislexia, deixar algum problema entre o que eu pensei, o que eu escrevi e o que pode ser lido. É um problema a mais...E sim, eu uso muitas vírgulas, acho que em cada uma delas paro pra pensar e ver se devo mudar o que digo, deveria chama-las de vírgulas da preguiça!

e o sol caiu

Senta um pouco
E olha pra mim
Espera que passa
O tempo ruim

A gente conversa
Se você quiser
Até de manhã
Eu posso ficar

Já to atrasado
Mas posso ficar?
Junto contigo
Fica tudo melhor

Eu tava sozinho
Eu tava também
Eu tava tranqüilo
Eu não muito bem

E o tempo que passa
Quanto tempo passou?
Se ficar mais tarde
Eu não volto mais

Não quero voltar
Mas tenho de ir
Um sino que toca
Não quero dormir

Então boa noite
Se puder durma bem
E acorda mais cedo
E venha me ver

Ce vem amanhã?
Eu venho também
A gente se fala
Até mais, meu bem

03 julho 2009

I dream of murder

Liguei na HBO hoje a tarde e fiquei assistindo o primeiro filme que passou. Era um desses filmes com pretenso suspense com um caso de assassinato que será revelado no fim, entretanto esse me chamou atenção porque seguia a cartilha, fazia exatamente o que um manual de filmes de suspense e assassinato deveria ter: uma terapeuta com traumas do passado, uma mulher com um marido violento que sonha ter sido assassinada, um amante para a mulher que também veio do passado, um delegado de mal humor doido pra prender alguém, um paciente da terapeuta com cara de maluco e...como? um paciente? Tudo ia muito bem, até apresentar esse paciente, depois dele tudo ficou óbvio, porque era ele que ia ser o assassino, pois era o único que não fazia sentido ser. Daí o delegado começa a dizer que tem um psicopata aí que havia matado pessoas igual matou a mulher...

Acabou que vi o filme até o fim, mas tinha perdido a graça. O problema de filmes assim é que eles ou escondem ou mostram a chave para nosso entendimento. Interessante seria jogar com essas informações, num plano de revelar/desvelar que acabaria fazendo de um filme comum como algumas excelentes horas para se passar embaixo do cobertor sozinho sem pensar na vida que insiste em não ser boa.
By the way, o filme era "I Dream of Murder"