30 abril 2009

razão da esquerda

Não é mister que se defenda porque não é preciso defender aquilo que se quer que diga. O mundo prova que temos razão, o mundo prova que tudo não funciona da maneira que está e que tudo pode funcionar do jeito que projetamos. O que me incomoda, o que não aceito é que continuemos a andar assim, pelos cantos, com o discurso agarrado na boca, com vergonha de acreditar no que acreditamos como se estivéssemos acuados, sem coragem para provar nossa certeza, como se passáros fôssemos e não saíssemos do ninho apesar da promessa da primavera. Meu pai nunca me disse que devia brigar quando estivesse certo, mas minha mãe sim, ela foi apaixonada. Ele é a direita, ele quer a ordem e a manutenção, ele de certa forma é deus, mas não Jesus pois este veio pela espada. Minha mãe e toda mãe é a esquerda, nossa lembrança mais antiga, a primeira a depositar-nos o melhor sonho. E hoje, por medo da morte ou por medo da mudança ou por medo do risco, muitos de nós desiste no caminho. É por isso que me sinto na obrigação de discordar de tudo que dizem e afirmar nosso sonho, porque como disse saramago, andamos cabisbaixos como se não tivéssemos razão. A verdade é que nunca tivemos tanta!

29 abril 2009

ela

Loira, linda, olhos azuis
tão bonita que parece de mentira
por isso eu não acredito nela
tão inteligente, perspicaz
capaz de me fazer esquecer das coisas
por isso que eu sempre chego atrasado
magra, esbelta, cheia de curvas
que parece nem existir nesse mundo
por isso eu acho que ela é um et

por isso que tão especial
tão estranha e sem definição
que acho que ela é minha
só minha e o que minha imaginação dela
- loira, linda e de olhos azuis -
fez

II

Dois meninos conversando.

1 – Eu me caguei.
2 – Eu me caguei ontem.
1 – Tem dias que acontece. Mããããe!
2 – Eu prefiro mijar.
1 – Também. Suja menos.

Joana entra.

1 – Mãe, eu me caguei.
Joana – De novo? De novo? Você é um cagão. (sai com o menino)
2 – Droga, me caguei também. Mããããããe! Mãããããe!

Entra a jovem.

2 – Mãe,eu me caguei.
Jovem - De novo? De novo? Você é um cagalhão.

28 abril 2009

aniversário

Uma vez por ano era seu aniversário. Era batata, estava tudo normal, daí um dia as pessoas começavam a abraço-lo, deseja-lo tudo de bom, felicidades, que ganhasse muito dinheiro, tivesse juízo, mulheres e mais, porque as pessoas sempre achavam tudo pouco e acabavam a frase com “enfim, tudo de bom no mundo” e ele sempre queria que esse dia acabasse mais rápido, porque só o fazia lembrar que nunca teria felicidade, dinheiro, juízo, mulheres, muito menos tudo de bom no mundo.
Era um dia que lhe enganava, lhe fazia sentir-se especial, querido, desejado e centro das atenções sem motivo, o que para ele era tão bom, já que passava a vida se esforçando para que lhe dessem atenção e sempre era tão cansativo. Muitas vezes ouvia o renato russo cantar que o mundo era tão complicado numa música absolutamente feliz e pensava: “que merda, ele é feliz e o mundo dele complicado. Eu não.”
Depois percebeu que nada disso que pensava era verdade. Ele é que gostava tanto de sua vida e tanto do que fazia que não queria que nada daquilo passasse e sempre que começava a passar fazia um esforço imenso para que não fosse, mas ia. E ele ficava sozinho. Daí ele construía tudo de novo, pedra por pedra, sentimento por sentimento, porque os sentimentos sim são de pedra, pois nunca se quebram até que..zuum, se foi tudo de novo. No fundo, era tudo feito de reflexos, de espelho, de reprodução, de tentar fazer com que tudo voltasse pra um mundo cheio de janelas, um mundo que já era. Nunca voltou. Nem ela.

27 abril 2009

o picolé

No meio da rua dois cachorros brincavam. Pequenos, frágeis, ficavam a se cheirar, morder cada vez mais forte até doer e rodar ao redor do próprio eixo. Estavam bem alimentados. Atrás deles, em pé, conversavam uma mulher e um homem, donos dos respectivos animais. Falavam deles, de como comiam, viviam, brincavam, mijavam, sabiam com detalhes cada atividade diária deles, e agora já não podiam precisar se foram eles que impuseram aos cães essas atividades ou se foram eles próprios que as escolheram para si. De qualquer forma, é provável que nenhum deles estivesse disposto a alterar essa ordem.
Primeiro, passou ali uma mãe puxando pelo braço um menino melequento, barrigudo e de grossos óculos.
-Que péssima mãe! - disse a mulher
-Péssima e ninguém fala nada. - responde o homem
-Como pode meu deus, como pode...

Depois um carro vermelho cruza a rua e buzina para enxotar os cachorros.
-Olha como dirigem – diz ela.
-Como monstros assassinos – ele.
-Podiam matar alguém.
-E ninguém faz nada.

Permaneciam ali defronte dos cães a falar do que cruzasse a rua, como se houvesse tempo, não esse que percorre nossas vidas tecendo relações, mas um outro relativo às coisas dentro delas mesmas, em relação a si próprias, como se fossem o apocalipse do mundo: um mundo sem fim. Quando vira na esquina um homem forte, alto, gigantesco. Vem com passos pesados que podem ser sentidos ali onde estavam homens e cães. Esses correm para dentro, acuados, enquanto que aqueles permanecem estáticos, pois pareciam hipnotizados pelo olhar, um olhar que agora parecia estranho. Mais de perto podem ver que o homem se veste com uma calça jeans e uma camiseta grande demais para seu gigantismo, o tênis vermelho tamanho 48 parecia cruzar o horizonte. Podia-se ver também que na mão dele estava um picolé de uva, pela cor roxa, que parecia minúsculo entre seus dedos. Na primeira mordida ficou a impressão de que todo picolé se fora, mas não, ele crescia na medida que o homem se aproximava.

gran torino



Meu interesse por cinema começou tarde, uns quatro atrás só quando eu já tinha meus vinte anos. Gosto disso porque não vi bergman com 17, via sim o chaplin que desde pequeno era uma grande paixão. O bom de não ter visto esses caras muito novo é que já pude ver com uma maturidade maior, apesar de que sempre fica em mim aquela sensação de que perdi muito tempo.
Disse tudo isso pra dizer que só conheci o Clint Eastwood depois de 2004 e fui assistir só os últimos quatro filmes dele e achei todos uma bosta. Menina de ouro eu desisti no meio. Só que como sou bonzinho, deu uma chance e fui assistir os dois últimos. "A troca" é um saco e a angelina jolie é um porre. No entanto, o que me chamou atenção foi "Gran Torino" É o primeiro filme dele que eu gosto e achei sensacional, espetacular, tô até agora espantado com a forma que ele representou sua personagem. Pra mim, soou como mais um filme sobre fazer o que é certo e não o q é bom ou mau e isso me faz perceber como devemos discutir isso mais, devemos pensar nisso e entender o que isso quer dizer. É meio que tirar uma ordem divina, mística ou científica das coisas e colocar uma ordem ética, ou melhor moral livre, porque nem sempre fazer o bem é bom e fazer o mau é mal. É preciso se achar um certo e não um certo relativo, mas um certo universal, um certo de todos e por mais que isso pareça utópico não é. O certo universal é algo que muitos até poderiam não fazer, mas mesmo negativamente todos de alguma forma vão admirar.

18 abril 2009

telefone

Estava na cabine telefônica com o fone na mão ouvindo o som da máquina junto com barulhos de carros na rua, chovia de leve, chuva fina de dia de nuvens altas. O cartão estava no bolso, decidia ainda se ligaria, mas como já sabemos, já havia ligado porque o passo já fora dado, no entanto, é sempre necessário retomar os momentos anteriores ao agora, não que eles nos expliquem, mas eles são a própria fabulação, não há nada que já não seja cinco minutos antes de ser.

17 abril 2009

maria eliza

maria eliza
ó maria eliza
que desliza na prancha
que se afoga na pança
que amarra a margot
e come scargot
mas gosta de arroz
pois,
não gosta de strogonofe
porque fede,
assim como ela
que não vai se auto-comer

15 abril 2009

gigante

No meio da rua dois cachorros brincavam. Pequenos, frágeis, ficavam a se cheirar, morder cada vez mais forte até doer e rodar ao redor do próprio eixo. Estavam bem alimentados. Atrás deles, em pé, conversavam uma mulher e um homem, seus donos. Falavam deles, de como comiam, viviam, brincavam, onde mijavam e cagavam, sabiam com detalhes cada atividade diária deles, e agora já não podiam precisar se foram eles que impuseram aos cães essas atividades, ou se foram os cães que as escolheram para si. De qualquer forma, não estavam dispostos a alterar essa ordem.
Primeiro passou ali uma mãe puxando pelo braço um menino melequente, barrigudo, babado e com grossos óculos.
Que péssima mãe! - disse a mulher para o homem.
Péssima e ninguém fala nada. - respondeu.
Como pode, meu deus, como pode...
Depois um carro vermelho cruzou a rua e buzinou para enxotar os cachorros da pista.
Olha como dirigem. - disse ela.
Como monstros, assassinos. - Respondeu ele.
Podiam matar alguém.
E ninguém faz nada.
Permaneciam ali defronte dos cães a falar do que quer que fosse que cruzasse a rua, e se houvesse tempo, não seria esse que percorre nossa vida, mas um outro, mais relativo ao tempo que as coisas tem em si, como se fossem o apocalipse do mundo: um mundo sem fim.
Quando vira na esquina um homem forte, alto, gigantesco. Vinha com passos pesados que podiam ser sentidos ao longe, onde estava o homem e a mulher. Os cães correram para dentro, acuados, e os dois humanos permaneceram ali, pois mais do que nunca pareciam hipnotizados pelo que olhavam. Mais de perto, puderam ver que o homem está vestido com uma calça jeans surrada e uma camiseta grande demais até para seu gigantismo. Seu tênis vermelho talvez 48 ou mais parecia poder cruzar todo o horizonte em poucos passos. Via-se também que na mão dele estava um picolé de uva, pela cor roxa, que em sua mão parecia minúsculo. Na primeira mordida ficou a impressão de que todo picolé se fora, mas não, ele crescia na medida em que o homem se aproximava.

14 abril 2009

hamlet, nosso.


Sempre e sempre nos debatemos com as formas. Tudo o que se vai dizer está selecionado, maturado, pronto para a descoberta que há de ser feita nas primeiras linhas, mas não consigo encontrar a forma de dizer. Às vezes apelo para trocadilhos vazios, como quando digo: “a maneira de escrever deve ser maneira”. Enfim, a história que tenho é a história de Hamlet, imaginei ela inteira tal qual ela é sem minha interferência, mas imaginei, pensando na idéia de “o teatro do mundo” do Shakespeare que hoje em dia temos as personagens da trama misturadas em todas as situações da vida. Não é raro ver um ‘irmão’ ‘matar’ o’ rei’, pelo amor da ‘rainha’ para ‘desposa-la’. Os afetos hoje são tão raros que o ‘incesto’ aparece em quase todas as ‘relações de intimidade’. E as aspas são tão necessárias que aparecem em quase todas as palavras. Quem é em sã consciência que não vê ‘espectros do passado’ vindo interferir no presente e quem não ‘enlouquece’ ao refletir que ao mesmo tempo deve se ‘vingar’ pelos males que lhe foram feitos e assim restituir alguma coisa e por outro lado se deve manter ‘virtuoso’ perante os outros e o mundo? Quem nunca chegou ao ‘ser ou não ser’? E essa pergunta pode se aprofundar mais ainda: Quem é que ao enlouquecer não fez outra pessoa enlouquecer também? Quem não mandou um ‘amor’ se trancar a todos, não confiar em ninguém, e ao se auto-intitular canalha mandar uma ‘inocente’ para um ‘convento’ e lá se proteger de tudo e de todos? Mais aspas foram usadas. Acontece que não há ordem no mundo mesmo, não há nada que deva ser restituído, há somente uma seqüência aleatória de fatos que não devem ser levados em conta como cadeias de acontecimentos, nem como passagem temporal. Então ser ou não ser passa a ser uma decisão de segundos para segundos, com conseqüências que podem punir, mas jamais consertar o passado ou preservar o futuro. E para Hamlet só resta seguir um destino desconhecido que parece amarrar sua história, mas que não o faz, gera dor, sofrimento e morte mas nunca nem por um instante serve para redimir uma vida ou uma injustiça, e o resto...o resto todos já sabem.

13 abril 2009

talvez até eu tivesse votado na ivete


Hoje assistindo "os melhores do ano" no domingão do faustão algumas coisas me pularam na cabeça. Cada vez que três candidatos apareciam, eu chegava a duas conclusões: primeiro, um merecia ganhar e segundo, um outro que não era o que merecia, ia ganhar. Depois disso resolvi observar a opinião das pessoas e numa sala de cinco pessoas, geralmente quatro concordavam que um merecia e o outro achava que não, daí se conclui que ou um país inteiro deveria refletir isso e mostrar esse resultado micro no macrocosmos, ou que na verdade, aquela sala representava uma minoria absoluta em relação ao nosso povo. Como nenhuma das duas respostas me pareceram sensatas, continuei pensando sobre o modo de avaliação e meio que concluí por alto, como forma dialética de pensar, que esse resultado aparece como uma transposição de mídia. Ao votar na internet a nossa recepção sempre desatenta e difusa tende a clicar no nome que mais nos chama atenção, no mais conhecido, no mais tarimbado e no mais ouvido. É como se existisse um déficit de reflexão e atenção, e na hora de clicar em cantora vai e...foi, clicou na ivete sangalo. Daí na televisão ela recebe o prêmio e todos ficam com aquela cara de: "po...de novo a ivete na tv falando as coisas da bahia, que saco." É inevitável pensar que, assim sendo, talvez até eu tivesse votado na ivete.

Pra vocês verem a lista, os vencedores foram:

Murilo Benício – ator

NXZero – banda

Patrícia Pillar – atriz

Seu Jorge – cantor

Cauã Reymond – ator coadjuvante

Ísis Valverde – atriz coadjuvante

Victor e Leo – melhor música

Mariana Rios - revelação

Ivete Sangalo – cantora

Bruna Marquezine – atriz mirim

Felipe Massa – esportista

D’Black – revelação musical

Patrícia Poeta – jornalista

Miguel Rômulo – ator revelação

Katiuscia Canoro – humorista


fonte: http://tvglobo.domingaodofaustao.globo.com/programa/2009/04/12/confira-os-vencedores-dos-melhores-do-ano/

12 abril 2009

gravávida

A rude abordagem do engravatado automaticamente fez com que o rapaz de traz do balcão tomasse antipatia, até nojo daquele homem que na sua frente apenas lhe pedia um café. Depois disso já não podia mais trata-lo normal, com simpatia, mas apenas lhe servir como quem faz um favor, como quem por ter um coração maior e melhor é capaz de agradar a quem lhe faz mal. Não era pelo dinheiro, nunca é, o dinheiro é sempre a desculpa, é sempre o motivo que ninguém duvida, porquê afinal de contas quem em sã consciência irá dizer que feito por dinheiro não é feito com a razão?
Acontece que há dessas coisas no mundo, com a lógica e com as conseqüências é possível se tudo concluir, ainda mais que com a má vontade que o rapaz serve o café, deixando-o até esquentar mais do que devia, irá ao invés de acalmar o engravatado nervoso deixa-lo mais descontrolado ainda e assim, ele não acha gentil descarregar no pobre funcionário da padaria e irá xingar seu secretário assim que chegar na empresa, dizendo-lhe que havia feito qualquer coisa errada, mas algo sério que mereça uma reprimenda grande, então o funcionário chateado por se sentir desvalorizado vai chegar em casa cansado, triste e também com uma certa raiva e vai por um motivo qualquer dar um soco na mesa ao ouvir a notícia de que se time tomou um gol. Esse susto vai acordar sua esposa grávida que dorme no sofá, e não sei se pelo susto ou por acaso, entrará em trabalho de parto em quinze minutos.

09 abril 2009

a toti

Nunca falei da toti aqui. A toti é meu gato, quer dizer, minha gata, não tenho foto dela no computador, só no celular, quanto puder venho aqui, edito e boto a foto dela, ou não, porque tirar foto com ela sempre foi um sacrifício. Arisca, não gosta que cheguem muito perto dela.
Sua história se confude com a minha ou eu prefiro que se confunda, para assim me sentir mais perto dela agora que estou longe.
Era outubro, o tempo ao mesmo tempo que esquentava, deixava chover. Um dia meu pai chega em casa contando que haviam soltado uns filhotes de gato no posto de gasolina em frente à minha escada e que um deles havia subido parte da escada e se instalado numa manilha desativada. Ele desceu logo com um pote de leite, e depois trouxe ração. Eu nunca fui desse tipo de cuidados, sempre fui mais afetivo, carinhoso, brincalhão que cuidadoso, por isso passava ali, tentava brincar com o gato e ia embora. Digo tentava, porque o gato, agora já sabem que é a toti, era muito arisco, e não deixa ninguém chegar perto. Quando botavam a comida dela, ficava lá dentro e só saía para comer quanto não estivesse ninguém rodeando.
Um dia, chegando da aula resolvi sentar no degrau do lado da manilha. Fiquei conversando com a toti, falando que estava cansado, que essa vida de estudante matava, mas claro, brincando, quando resolvi pegar um graveto, ou melhor era mais uma folha, um mato, e brincar com ela. De repente, ela sai lá de dentro e vem para o degrau brincar comigo, pensei na hora: "essa gata vai ser minha". Agarrei ela no colo com força e subi as escadas correndo. Entrei em casa e falei: "mãe...mãe...trouxe ela pra casa.", e assim que botei-a no chão ela correu pra debaixo da geladeira onde ficou toda a tarde. Ela era minha, escondida, mas minha.
Não lembro de como apareceu seu nome, mas tenho milhões de lembranças dela. Desde o dia em que ela foi castrada e passou dias longe de mim, acho que porque se sentia suja, ou invadida, o que me deixou triste, até o dia que voltei de cabo frio e ela subiu no meu colo, sentou e dormiu, acho que a única vez que ela fez isso.
Gosto quando vou coloca-la para dormir, fato raro, e ela desce sozinha o caminho que sabe de cor, indo direto pro banheiro, sentando na sua almofada, gosto quando ela senta do meu lado quando vou ver televisão ou filme no sofá de baixo, mas claro, sem deixar que eu faça muitos carinhos, gosto quando ela mia quando minha mãe começa a cortar carne e gosto quando ela caça pererecas, come as as patas e deixa o pobre bicho agonizante no quarto.
Esse post é mal escrito e incompleto por si só, pela situação. A toti está viva, em Petrópolis, com 13 anos e começando a ter dificuldades para pular janelas, correr. Tem preferido ficar dentro de casa. Ela ainda vive uns 3 anos ou mais, mas mesmo assim a idéia de não te-la em casa, faz da minha família uma coisa menos feliz, faz da minha casa um lugar mais vazio, faz o meu jardim mais silencioso. É que minha vida, de certa forma, se for contada vai ter uma parte que vai ser eu e a toti, a toti e eu.

07 abril 2009

Final do BBB

Eis que em poucos minutos acontece a final do Big Brother Brasil, edição número nove. Quando eu começo um texto assim, quer dizer que ainda estou elaborando minha maneira de dizer o que quero. Vamos lá. Primeiro, quando se fala em reality show, na maioria das vezes analisamos duas coisas: "talento" e "merecimento", como o BBB é uma programa que exclui o talento e faz as pessoas ficarem três meses sem fazer o que sabem, para não fazerem nada, só nos resta o merecimento para análise. Depois, temos que pensar de que forma devemos validar esse merecimento. Será que é por quem joga melhor? Por quem tem mais coração? Por quem teve a vida mais difícil?
Eu dou uma dimensão mais política a isso, caso não desse o programa não me interessaria. Eu vejo o bbb como uma forma de premiação social a algum perfil que exista. Como se de alguma maneira, na nossa cabeça estivéssemos distribuindo renda para aqueles que para nós precisam de uma retribuição pelo que não costumam ter na vida, por isso é comum ganharem os mais pobres, o sertanejo, o malhado burro, ou aquele sumido quem nem fede nem cheira. Enfim, as variáveis são imensas, então vamos analisar essa final de agora.
Francine chega na final com o Max porque juntos formaram uma dualidade. Ele razão, ela emoção. Ela sozinha não teria chance, ele sozinho talvez tivesse alguma, mas menos do que com ela. O Max tem exatamente um perfil contemporâneo: homem descolado, racional, não apegado a sentimentalismos bestas que levam a lugar nenhum, tatuado, inteligente, perspicaz e capaz de analisar às pessoas como formas em movimento no espaço, por isso conseguiu lidar tão bem com as adversidades que teve. A Ana por mais que visse ele como ameaça jamais teve coragem de brigar com ele, e foi brigando com todo mundo, dando a ele cada vez mais força e singularidade. O Max poderia ser considerado um Iago do bem, alguém que da periferia domina o centro e chega ao resultado esperado. A Francine nesse caso, participa sendo a desdêmona que dá sentimento ao plano que seria só seco e triste demais.
Assim sendo, não poderia deixar de dizer que a Priscila também chega na final como resultado do plano do próprio Max, mas também não foi só isso, então agora é a vez de falar dela. Priscila chega na final fortalecida por ganhar a última liderança e quando todos estavam sentindo a pressão de um paredão ela podia se manter relaxada, e às pessoas puderam ve-la com mais atenção ainda. Minto, já haviam visto. Ela, a gostosona, no perfil mulher-melância-te-como-a-noite-toda, era esperada lá dentro para fazer isso: ficar bêbada, rebolar, falar besteira, ser chata, eliminada e ir pra playboy, e ela foi vencendo cada pequena barreira que apareceu, foi mostrando que tinha até alguma inteligência, bom jeito de conversar com os outros, de lidar com brigas sem deixar rastros, de saber ignorar bobeiras, mostrou um jeito feliz de existir e ser, o que perto do Max, mais inteligente e logo mais pensativo, acabou sendo um ponto a favor dela.
E a final vai ser assim, a escolha entre esses tipos de pessoas. Uma escolha absolutamente imprevisível, o que é surtante para escrever poucos minutos antes.
Havia aqui uma opinião minha, preferi suprimir, prefiro deixar um esboço: o que é mais importante para o Brasil: a reafirmação da bunda ou a superestimação da inteligência? O corpo ou o pensamento? O jeito de sorrir, de brincar e de viver ou a frieza, o calculismo e a instrospectividade? Uma força exterior que escapa sincera para todo canto ou uma certa interioridade que chega do lado de fora como graça, brincadeiras, mas nunca como verdade. Ela é a bunda de verdade, ele é o riso de mentira. Os dois são absolutamente verdadeiros. Quem ganha?

objetos quase ou citações

Como se sabe eu odeio citações, porque geralmente elas que no contexto são usadas em casos particulares ao serem destacadas ganham um valor universal quase que taxativo, que incide diretamente para dentro de si mesma, como um provérbio, numa atitude absolutamente autoritária, de signos fechados e incontestáveis. Uma muito usada que me irrita profundamente é "tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas.", frase do pequeno príncipe, livro até gostoso de ler e com boas reflexões. Essa citação é péssima, porque acho que quase ninguém quer ser eternamente responsável por nada, até um assassino pagasua pena e depois fica livre, ser eternamente responsável é praticamente dar um atestado de prisão perpétua, ou até uma pena de morte. Na verdade, quem usa essa frase está querendo dizer que é incapaz de se tornar uma pessoa menos triste e passa a responsabilidade para outros, como se isso fosse possível.
É tipo dizer "conheço o sujeito como a palma da minha mão". Olha que coisa horrível, isso no fundo significa: "desiste de tentar me surpreender, porque não vai conseguir", e o pior é que tem gente que acredita e se acomoda.
Para terminar esse belo post, como sempre padoxalmente ao que eu acabei de dizer, vou usar uma citação do Saramago, óbvio. Em algum momento de um conto, ele diz: "tudo são objectos. Quase." O que tento dizer é: ao se citar tenta se apreender, segurar o outro como um objeto, e no fundo tudo são objetos. Quase.

06 abril 2009

tapetes

Vamos com calma, essa é uma narrativa de ficção. Até agora eu estava falando do big brother e esse 'eu' é um narrador, mas a narração começa agora: a sala tinha o tamanho exato que ele precisava para fazer o que queria. Ainda não sabia o que faria, mas sabia que o que faria teria e deveria caber naquela sala. Longas janelas, mas pouca luz, muitos tapetes e poucos móveis, poucas pessoas a espera. Era uma tapeçaria. Ele se sentia como um europeu indo ás índias comprar especiarias, se sentia aventureiro por comprar um tapete. Agora ele descobriu o que faria, iria comprar, antes preferia só olhar pelas janelas e pela pouca luz, pela sala branca com muitos tapetes e pensar, que como aventureiro devia fazer algo ali. E decidir comprar o tapete era um gesto simbólico pra ele, em algumas culturas tapetes podiam voar, em outras eram considerados ornamentos caros de alto valor. Caro ou voador, decidir comprar um tapete lhe fazia alçar vôos imensos pela sua imaginação, ou criatividade se como imaginar entenderem como um vagar ao outro, enquanto que a criatividade seria vagar por si mesmo. É que por mais que ele estivesse longe dos pensamentos mais históricos e imaginativos um tapete ainda era um tapete. Linha junto de linha que servia para botar o pé.

até que

havia amor, mas o primeiro que disse 'eu te amo' perdeu.

a lua

Vou percebendo aos poucos que esse blog está cada vez mais anônimo, mas não de mim porque cada vez me exponho mais, mas dos outros que cada vez mais aparecem menos aqui. Cada dia mais sou eu falando de outros que estão distantes. Como a lua.

05 abril 2009

perfis

O paredão do BBB hoje foi a escolha de um perfil: por um lado o sentimentalismo, as lágrimas, o amor, a inocência, a esperança, até uma certa cegueira e não percepção completa do mundo do lado da ana, e por outro a razão, a racionalidade, a amizade, a inteligência, o calculismo, e a percepção de como se viver um mundo que pode lhe engolir se você não resolver engolir também representado pelo max.
Venceu a razão e minha esperança de que algo dará certo na minha vida aumenta.