30 junho 2009

things to say

we have to talk, we have do play
there's nothing to deal
just some things to say

I know we may fight a parcial day
we don't need a kiss
maybe not today

28 junho 2009

livro de jó

A história bíblica de Jó, sem meias palavras, é a história de um homem cuja humanidade lhe é tirada para que se teste sua fé, assim deus lhe tira a riqueza, os filhos, a esposa e por fim lhe causa uma doença, uma praga que toma todo seu corpo com feridas. No fim, Jó passa pela provação divina e tudo que tinha lhe é devolvido em dobro para demonstrar a bondade divina.
Se fosse possível exprimir o que essa parábola me passa teria de dizer que é horror, pavor, terror. Não se trata de um teste para fé, se trata de um freak show de destruição de tudo que um ser tem de homem para que ele sinta como deus é poderoso e pode agir na vida dele. Se um deus precisa criar tantas feridas, tantas dores e tantos sofrimentos para demonstrar seu poder e para testar a fé, ele é no mínimo um deus assassino, um deus cruel, que dá maus exemplos, que controla os corpos e não se importa com a sua alma, mas sim com o q você faz em vida. Os amigos de Jó de tanto temerem deus não são capazes de enfrenta-lo, de pensa-lo, de transforma-lo em vida, tudo ao redor desse deus é morte, é sofrimento, só a mulher é capaz de desconfiar disso tudo, de ver que há um plano de dor, não um plano de libertação. Essa é uma parábola que incita o masoquismo, o suícidio, o sofrimento e a eterna necessidade de ser subjugado e o pior de tudo, faz com que aceitemos isso com sorriso no rosto, com esperança, como se um raio de luz nos cruzasse no fim e fizesse que toda dor virasse apenas lembrança, pois um dia, que provavelmente nunca chega, viveremos eternamente ao lado dessa luz que nos guiará e será para sempre nosso lar.

27 junho 2009

sábado

as paredes estão frias: na cama, recostei nelas e senti. A cortina fechada para tudo lá fora e a cueca verde provam a falta de vaidade, ou cuidado, falta de alguma coisa que não tem nome. A unha do dedo anelar roída incomoda ao escrever e a frase se torna mais lenta, mais precisa, mais cerebral do que devia. A barriga estufada de cerveja e o estômago de comida, as costas ainda lembram uma natação feita há muito tempo. É sabado, tem gosto de sábado e clima de sábado, só não tem a companhia típica de sábado, mas cerveja é fato que lá estará e eu também...

25 junho 2009

crença

eu acredito no amor como acredito num shopping, numa couve, num elefante, num monge, num filme do godard, numa pizza requentada, numa filosofia barata, num porre de cerveja, num cinema solitário, num choro num filme idiota, num passeio solitário, numa saudade, numa facada nas costas, na eterna raiva que sempre vai ser feliz, numa peça de teatro que queria contar, num matança generalizada num morro qualquer ou num filme do Stalone, mas pelo menos eu ainda acredito no amor...

24 junho 2009

atualiza

Atualiza
Atualiza que ainda não tá bom
Mas atualiza rápido que tem mais gente atualizando
Até Jesus tem que se atualizar
Ele devia voltar pra atualizar as metáforas
Transformar um 486 num palmtop
Com foto, canetinha e tudo
Ia ser complicado, ele teria que ter orkut
Mas não podia mandar muito scrap
Porque ia parecer tia chata e velha
Mandando boa semana com uma frase do Mário Quintana
Que provavelmente vai ser da Marta Medeiros
Jesus se tivesse twitter ia ter que aprender a falar pouco
Nada de subir em pedra e falar -
Pedras caem e com elas rolam quem ainda acredita
As pedras suspensas são esfinges
E eu já nem entendo –
Mas andar de avião e tratar bem aeromoça

Enquanto eu falo de Jesus morreu um
Rezava por ele e morreu mesmo assim
Enquanto eu falo e um reza morreram dez
E Jesus só morreu uma vez

Um problema é a solidão política
Porque tem sempre uma maioria para falar mal de tudo
A pasmaceira geral se instaurou como eles queriam
Elogiar político é matar mãe
Comer cabrito na moita
Chutar o mendigo que não tentou te roubar pra dar exemplo
Porque dar exemplo é importante
Por exemplo:
Se alguém cair num buraco na rua o que fazemos?
Rimos da cara dela, ajudamos ela a levantar, seguimos em frente ou reclamamos com a prefeitura?
Enquanto pensamos morreram mais dez,
Enquanto ela, que caiu, podia ter sido atroelada
E foi, agora ela sangra, mas ta tudo bem, vai estancar

E Jesus só morreu uma vez....

23 junho 2009

controle

apesar de tudo
é quando não é nada
que é calmo
sempre que é alguma coisa
é mais do que devia
foge do controle
com t-role
com tro lê
foge
e não volta nunca mais

tratado

Atravessou a rua, o passo torto
o asfalto estufado, o estômago embrulhado
tanta gente que corria num bater de ossos frouxos
e o trocador sorria pra gostosa que passava
tinha um chuveiro na praia poluída
e a água que descia secava antes que caisse
e naquele mesmo sol um menino dormia
um papelão protegia a cara dele
mas como sempre em pouco tempo choveu
o peito protegido pela santa
e o celular com câncer que a menininha fala
e a roupa engomada que amassa na mala
feito qualquer outra malha,
também rasga se levar um tiro, um bico
um soco enviesado
e a cara é sempre mesma, o hematoma passa
o sangue estanca, o plano de saúde paga
a cirurgia, o médico, e volta a ficar gostosa
mas a roupa que rasga é indigna, faz dela uma puta
quando cachorro quente é barato
a gente deixa fazer mal
ninguém se importa se dá úlcera ou coceira
se está suja a orelha que ninguém vê
ninguém se importa com nada,
ao menos que alguém mexa com seu cu
porque sagrado só o cu
e mais sagrado que o cu só o cu da mãe
então se você atravessa a rua
com o asfalto estufado
o estomago embrulhado
batendo ossos no chuveiro da praia
na chuva, com câncer, no celular
rezando pela santa
ninguém se importa,
ninguém tá nem aí
pára de chorar, idiota
num tem ninguém vendo
ninguém aí, ninguém aqui
se quiser aparecer
ou ganhar dinheiro
não chora
vai dar o cu

21 junho 2009

chorume


Dois rapazes em cena sentados num banco.

Você entende alguma coisa?
De que?
Das histórias, do que se conta...disso...
não.
Nem eu.
É que tudo me parece tão sujo.
É que tudo me parece tão banal.
Tudo xurumela.
Você sabe de onde veio essa palavra?
Que palavra?
Xurumela.
Sei.
De onde é?
É de chorume, aquele caldinho do lixo.
Claro que não.
É sim, chorume, churume, xurumela.
Claro que não.
Então de onde veio?
De churros. Um rapaz estava comendo churros, o recheio caiu e ele ficou todo melado, daí ele disse “Churros Mela”.
Churros Mela?
é...daí ficou churros mela, churromela, xurumela.
Ahn...
Você entende alguma coisa?
Do que?
Das histórias, do que se conta...disso...
não.
Nem eu.

15 junho 2009

flect

o que calado digo
complico, firo corto
jogo, embargo, dilato
é que hoje, ontem, amanhã
é sempre o que é sempre
o que é sempre o que é sempre
e se repete, tapete, carpete,
joanete, marioenete,
salada ou gilete
pega o estilete
e flect

14 junho 2009

ronaldo

Sentiu na superfície da pele a dúvida: não escrevia porque intensamente vivia em linguagem o que poderia escrever ou porque havia um silêncio entre o que não se pensava e o que se poderia escrever? De verdade mesmo, sentia frio e dor na ponta dos dedos sempre que digitava por mais de cinco minutos, também era verdade que estava fazendo muitas coisas e separando tempo demais para a preguiça, mas agora na frente do piscar da tela que se insinuava já apareciam novamente milhões e milhões de personagens, alguns bem completos, com corpos frases e tudo e outros ainda superficiais, como animais, com apenas algumas poucas sensações. Percebeu, entretanto, que para que eles se fizesse havia também de haver um outro ele, pois esse que jazia agora era ainda muito primeiro, muito esgotado, muito cansado, muito comum e muito óbvio, era muito acumulado, assim como falava muito muito. Por fim, depois de pensar e pensar não conseguiu decidir o que gostaria de dizer, escreveu algo ruim e torceu para que ninguém lesse. Dizia porque era dia...

04 junho 2009

a chuva

tudo que eu disse sempre foi em silêncio
e tudo que eu não disse foram bobagens que eu falei