17 novembro 2005

Um capítulo de meu livro

XXI

Francisco entra no quarto e encontra somente a luz do abajur acesa. Regina está abaixada procurando alguma coisa em uma das gavetas. Ele se aproxima e se agacha pousando aos mãos na cintura dela. Ela sorri, sussurrando baixinho "o que você está querendo?". Ele fingi não ouvir, levanta-se e estende as mãos na direção da mulher. Ela agradece levantando-se. Lentamente, com as mãos dela pousada nas suas, ele as escorrega por suas costas, deixando as suas soltas para imitar o movimento, ela fecha os olhos por um segundo, como agradecimento à carícia. Ele aproxima-se beijando-a calorosamente. Ela sente os primeiros sinais corpóreos da excitação e interrompe o beijo, deitando sua cabeça no ombro dele que por sua vez começa a roças seus lábios na nuca dela. Com ela entregue, ele a leva na beira da cama e olhando-a percebe um gosto e um cheio agridoce no ar. A pele parecia pulsar, bolir, mover os corpos, expelindo hormônios.

Todo o ambiente parecia compor esse sonho, os tabus começavam a ruir. Os sentidos afloravam cheiros, sons, toques e fluidos. Ele passa suas mãos nas costas dela, primeiro por cima da blusa, depois em forma de carícia e mais lentamente, acha sua pele. Ela pousa a mão na parte interna da coxa dele. Ouvem-se sons, talvez música, talvez celeste. Novamente, os lábios se encontram num pedido. Outra vez, eles se distanciam num lamento. Olham-se, amam-se no olhar. O movimento das mãos dela revela, exprime a ação que ele aguardava, para suavemente, deita-la a cama. De baixo, ela clama que os sublimes e etéreos momentos universais venham e incorporem-se a esse amor que ela batalha todos os dias. Ele, pedia a Baco, que todos os amores dele se concentrassem somente nesse instante. Despem-se, acariciam-se, tornam-se um e de toda a ação em seu leito nupcial a vista é de apenas uma das mãos, que ela ergue, com os punhos cerrados, contraídos. Os movimentos ganham ritmo e assim como as peles, começam a pulsar, a bolir e a reclamarem-se cada vez mais. De olhos fechados, ou abertos, eles de longe vislumbram a perfeição. Encontram-se num campo azul e vermelho, quente, cheio de gente, suado, ventante.
Vêem flores cor de laranja, amareladas. Nuvens, amendoins, vozes. Pedidos, chamados, clamores. O ritmo acelera-se, cada vez mais e mais rápido, as pessoas encontram-se, falam-se e saem, o tempo esquenta, vão ficando os dois, sozinhos, despidos, vislumbrando todo a ação do mundo. Sentindo os prazeres fugazes, que todos os poetas sempre disseram existir. O êxtase está próximo, os movimentos da pélvis dele, esquenta os dela. Estão no fim, no começo do mundo, a pele já não basta, o corpo já não pensa, a mente, que mente?. Tudo é movimento, tudo é corpo, tudo é calor, é suor, é despudor, é amor, é pele. Um grito:

Mãe...vem cá.

Interrompem. Olham-se. Um beijo. Mas já é tarde. Ele penetra-a de novo e depois de alguns instantes, eles encontram Deus. O momento sublime do sexo. Orgasmo ou gozo. Juntos. Eles tinham razão, o céu é o limite.

Ele a beija, vira-se. Ela vai Ter com o menino no quarto ao lado.

Queria água, só. E o dia dormiu.

03 novembro 2005

Acho que sou eu

Minha mãe Édipiana
Achou um pai Vitoriano
E o casou catolicamente
Amaram-se a lá Baco
Esperaram como Penélope
E encontraram como Alice

E eu nasci como Clarice
Com uma festa de Dionísio
Que eu dormi à Cinderela
Onde sobrei como Estorvo

Assim, o pé de feijão cresceu
Porém, sem galinhas de ouro
No entanto, com muito de Eisntein
Nieztsche, Marx, Sartre
Agia como Dom Pedro, o primeiro
Ou como Cazuza, ou como Rimbaud
Fôra maldito um tempo...

Ora, a vida é juntar Josés
Um Silva daqui, ou Souza de lá
E aos poucos foi se formando um ser
Que com tudo isso, mais eu sozinho
Carente, sem Deus, com alma
Tornou-se um alguém
Um Luiz

Luiz Antonio Ribeiro
4/11/05