29 agosto 2005

Conto não...

-Me conta?
-Não posso, é segredo.
-Me conta?
-Não vai dar.
-Me conta?
-Conto não.

Ela perguntava para ele. Obviamente, ele era apaixonado por ela, mas não dizia, nem pensava em dizer, mas sabia de cor todas as palavras que usaria se fosse dizer. Ela, não amava. Não que fosse incapaz, ou fosse insensível; ela simplesmente, era não sentia a paixão, ou amor, o que quer que seja, de forma ordenada. Ela saia sentindo um monte de coisas ao mesmo tempo, e não definia se era amor, tédio ou prisão de ventre. Já ele, só queria ela.

-Não vai contar mesmo?
-Já disse que não. Vê se num enche...
-Olha que eu vou ficar chateada contigo.
-Fica.
-Você quer isso mesmo?
-Se é isso que você quer...

Ele não queria, nem ela. Mas ele sabia que ela sabia que ele não faria isso, por isso ele fazia, porque sabia que fazer charminho causava alguma coisa nela, próximo da raiva, mas ainda sem nome. Ela tinha raiva, mas era só, vontade de esganar ele. Ele tinha vontade que essa raiva virasse outra coisa.

-Tem certeza?
-Não tenho certeza de nada.
-Então você num vai contar mesmo?
-Está bem, mas não reclama depois.
-Não, não. Diga...
-Eu te amo.
-Isso eu já sabia.
-Já?
-Claro. Está na cara.
-Então por que você nunca fez nada?
-Sei lá.

Sei lá. Muito confuso o amor. Se alguém odeia alguém, deixa isso claro, quer fazer o mal, contar para os outros, mas quando a gente ama, a gente deixa aquilo guardadinho com a gente. A gente não espalha esse amor por aí, ele fica vagando pelas idéias como forma de carinho, gratidão e provocações.

-Mas tem outra coisa, também.
-Me diz.
-Não. Eu já disse demais.
-Poxa.. me conta, vai???
-Isso não.
-Conta?
-Conto não.

Luiz Antonio Ribeiro
30/08/05