28 outubro 2007

“Mas não,

nenhum amor é incondicional. Então, acreditar na incondicionalidade é decididamente precipitar o fim do amor, porque você acredita que esse amor agüenta tudo, que de um jeito ou de outro você acaba fazendo esse amor passar por tudo.”
Michel Melamed

25 outubro 2007

fica

Quase que perdi a cena enquanto a pequena
Pintava seu quadro de nossa história
Que ela moldava do jeito dela e não pedia ajuda
Imensa astúcia a da pequena que não sabe o que quer

De blusa listrada e de sandália não sabia
Que era muito o que sentia e que pedia
E não era culpa minha se não tinha
Tanta vida e tanta glória e tanta coisa boa pra dizer

E eu em meio a tudo isso
Ou até apesar disso
Só sabia de uma coisa e repetia
A mesma frase num cartaz assim escrita
“vai..vai...vai...mas fica”


Luiz Antonio Ribeiro
26/10/07 - 1:30

23 outubro 2007

anotação de aula

o encatamento pelo objeto se dá no depois, através da memória, pois enquanto está presente ele está preso, faz parte do hábito. (existe o mundo do hábito com seus objetos de entretenimento, e um mundo mais abaixo da superficialidade do cotidiano, um mundo dito da "realidade", que só é percebido quando os hábitos deixam de entreter.)

20 outubro 2007

deixo-os

As vezes percebo de um jeito bastante forte, ainda que pueril, que tudo que fiz na vida até hoje foi gastar-me. Gastei meu corpo e minha saúde com comidas extravagantes, com bebidas altamente calóricas ou alcoólicas, com corridas desnecessárias, com excesso de sol, as vezes de chuva, com uma inércia absoluta daquelas de dar dó. O meu tempo gastei com esperas em dentistas, filas, cinemas, ou com conversas demais, ou aulas demais, ou sono demais, e fui gastando aceleradamente, com muito esforço de gasta-lo pela vida a fora e com eficiência, até que algumas vezes percebi que ele não é gastado, mas ele próprio se gasta na gente e continua a gastar-se. Percebo que gastei meus sentimentos, jogando-os nas horas erradas, nos dias errados, nos amores errados, gastei-os com tanto prazer e felicidade num momento que me parecia tão válido e propício, mas que hoje ao me mover a gasta-los percebo que eles já estão gastos, como se feridos houvessem cicatrizado, deixando marcas. Percebo que meus sentimentos estão gastos porque neles já não posso mais confiar, percebo que eles não são vivos, ele sse força a viver e eu o forço a viver, enquanto que ele mesmo não se faz de vivo, e talvez nem mesmo exista, entretanto penso que devo agradecer por assim ser, pois pelo menos penso sobre eles e sou sincero com eles. Deixo-os sempre em jogo, abertos, como chuteiras velhas à espera do camisa onze que chega, deixo-os em mim, onde sempre os levei. Deixo-os para sempre poder usa-los, deixo-os como quem deixa uma casa, ou uma esposa, deixo-os podendo sempre voltar. Mas deixo-os.

03 outubro 2007

de ir me

Não creio em nada, nem na escrita, não creio. E é essa descrença que me faz falar de coisas que não tenho parte nem domínio nem entendo. Na verdade, não falo sobre nada porque em mim não há voz, há em mim somente um eu que não consigo identificar, logo não consigo pensar, logo não consigo enunciar, não existe o meu enunciado, só minha enunciação. Repetir sempre é necessário. E falo porque a voz é aquilo que mais contém o meu silêncio e sempre que eu silencio eu falo tanto que acabam por pedir que realmente fale, então vivo nesse paradoxo: dizer para não dizer e não dizer dizendo, e assim, tenho de ir me confortando em não fazer ninguém ouvir, porque é necessária uma outra escuta que não a de ouvir. Acho que estou estudando isso demais, estou entendendo isso demais, estou me aprofundando e me silenciando demais, chegarei ao tempo que direi com um olhar mil palavras e minhas profecias de dimensões bíblicas estarão num mover das mãos, aí chegarei lá, e poderei perceber que na vida alguma vez fiz teatro. Acabo por, sempre, crente que consegui, a formatar níveis daquilo que eu deveria ou poderia, ou conceberia ter dito, se a minha vida fosse essa, pois se fosse, estaria eu limitado a muito pouco. Ainda bem que até agora ainda não fui eu.