27 fevereiro 2009

Foof - bai marai eleesa




“Cädi/”

“Oy, Rause”

“Pegael/”

“Numca”

“Por qeu/”

“El noa t asho gats”

“Memtiroas.”

“El noa minot”

“Evrybori laix”

“Rç. Verdaed”

“Sol 1 gemnio, fikdik”

“Çempre solb.”

“Rç”

“Entoa vose me asha gats/”

“El t asho gats demasi Rause”

“Açin vose m maat d vergonah, Cädi”

“Q foof vose, Rause ^^”

“El noa sol foof òó”

“Ë çin :D”

“Arhg. Shal Cädi”

“Shal Rause”

18 fevereiro 2009

crescer

não sei se é comum a todos, mas uma coisa que acontece muito comigo é quando acaba o filme ficar uma sensação estranha em mim, uma vontade de fazer algumas coisas diferentes, de fugir da rotina sufocante e das palavras óbvias, dos pensamentos comuns, sei lá, tentar escapar disso que parece cada vez mais nos pressionando pra um lado onde todos vamos, e que alguns costumam chamar de crescer.

17 fevereiro 2009

procurando redes

Em cabo frio sentado numa cadeira de frente para o mar quase sempre preocupado com o torrar do sol que me fazia arder principalmente na barriga sobressalente, tive muito tempo para pensar na vida. E não pensei. Quase nada de mim me chamou atenção, ou nada?
De tudo que por lá vi o principal foi um rapaz vendedor de rede e colchas, cara de novo mas já envelhecido, cor de queimado quente, um grande peso no ombro esquerdo e muitas piadas pra contar. A colcha custava 40 no primeiro preço e saiu a 10 reais no fim da conversa. Mas o melhor de tudo eram as piadas, certa hora ele disse:
"sabia q o celular foi inventado no ceará né?, por isso que quando liga fica 'procurando rede' ", eu encantado respondi "mas isso é baiano, po" e ele rápido: "que nada, baiano é genérico, qd liga aparece 'sem serviço' "
O melhor era que o tempo todo ele interrompia a conversa dizendo "fico falando e me esqueço de vender" e ameaçava sair. Acabou q não compramos nada com ele, porque já tínhamos comprado colchas parecidas, mas conhece-lo foi um grande prazer e de alguma maneira acho que sinto saudades.

04 fevereiro 2009

ao ser imaginário

Que seja feita a tua vontade
Quando maldade vem e me consome
Quando uma bomba matar no teu nome
Quando sentir culpa e ela for tua
Quando não der pra pedir perdão

Quando for chuva brava
Quando for leite coalho
Quando alguém ficar cego
Morrer, tiver dores, ou sofrer por amor
Quando alguém tiver medo
Seja feita tua vontade

Porque foi tua vontade
Quando o mundo inteiro virou dinheiro
Assim como quando na guerra
Morreram os que já há muito sofriam

Foi e é sempre tua vontade
Mas há que se dizer
Que além disso
Além de tua vontade
É tudo tua
responsabilidade

reine sobre mim


vi "reine sobre mim" e fiquei pensando em como as pessoas lidam com o sofrimento. Apaguei o post inteiro e resolvi só deixar isso: "Eu penso que a maior injustiça que fiz na minha vida foi reslver sofrer minhas coisas sozinho."

03 fevereiro 2009

padre ou puta

depois de ler esse meu último post, o do conto, comecei a pensar que todas as vezes que me referi à queda de energia, falei especificamente da falta de luz sem me ater que uma geladeira estaria descongelando, que um aparelho eletrônico poderia ter queimado, ou que até numa emergência não haveria um telefone sem fio ou um elevador a funcionar, ou seja, não liguei para a falta de energia, mas só para a falta de luz e agora percebo porquê, porque talvez o que eu quisesse dizer é que passamos nossos dias assim, faltando luz. Quem sabe eu estivesse pensando na cegueira de saramago, ou nas burocracias de kafka, é bem provável. Gosto muito de perceber que quando acaba a luz a gente percebe que acabou a luz não só de fora, mas uma outra da gente. O meu próximo passo a relacionar isso com nossa ligação com outras pessoas, e ainda prematuro começo a dizer que a gente só sente que ama, quando resolve olhar para o amor, ou resolve sofrer quando resolve olhar para o sofrimento, assim como só nos vemos quando estamos no espelho. Quem nunca olhou pro amor só poder ser padre ou puta.

01 fevereiro 2009

luz

Na primeira vez que eles ficaram sem luz, só houve escuridão. Não restou nada na cidade, os cafés se silenciaram, os postes deixaram de mostrar os pingos da chuva que caíam, os que bebiam nos bares resolveram pedir a última da noite e partiram aos esbarrões pela escuridão até em casa onde aos tropeços resolveram dormir. Nos postos de saúde, hospitais e delegacias os geradores foram ativados, mas os rádios, as tvs e as leituras foram interrompidas: o mínimo de luz seria suficiente, era preciso economizar. O céu estava encoberto, era noite e não havia estrelas, a lua era nova e pouco conseguia iluminar por detrás das nuvens. Era agosto e ainda restava um frio seco pelo ar.
Foi estranha a sensação de Antero que estava em seu quarto no momento da queda de luz sentado numa cadeira a olhar da janela para o movimento da rua. Teve vontade de conversar, de telefonar a alguém, de se movimentar ao ver que tudo agora estava escuro. Levantou-se e ligou para sua prima perguntando se a luz havia também acabado por lá, ela que parecia já ter adormecido demorou a responder, mas confirmou, o que fez Antero apenas dizer: “acho que foi geral então.”, desligando o telefone sem mais palavras. Voltou até a janela e viu as últimas luzes da noite partirem: a dos faróis dos carros e ônibus que ainda passavam. A impressão que teve era a de que todos tentavam fazer barulhos, talvez para ativar um outro sentido que não a visão, e aparentemente este seria a audição. Antero percebeu também que se fazia barulhos, ruídos, mas se evitava conversar, os assuntos que antes eram importantes se tornaram secundários: as histórias de amor, as doenças de família, os casos da novela, as dores mal curadas, todas elas aos poucos foram se calando e o assunto era apenas o murmúrio da falta da luz, da ausência dela e dos possíveis motivos dessa queda repentina. No quarto ao lado um menino começou a tocar violão, fora isso mais nada acontecia. A cidade em pouco tempo dormiu, dessa vez mais cedo que o normal.
Pela manhã aparentemente já não se lembrava do incidente da noite anterior, a luz já estava a funcionar e os barulhos dos ônibus trouxeram o dia com o calor, a iluminação e os cheiros comuns à todas as manhãs. Antero havia ido trabalhar e pouco se recordava do incidente que pelo visto havia sido repentino, quem sabe alguma manutenção no sistema, coisa pouca, não haveria porque reclamar, pensava ele sem vontade de comentar disso com outra pessoa.
Trabalhara normalmente, almoçara no mesmo lugar de sempre, assistira o jornal e agora sabia todas as notícias de seu time. Havia tido um dia comum, como foram os seus últimos meses, principalmente depois de se ter formado no mestrado e passado o resto dos dias a trabalhar e pensar no que mais poderia sua vida se tornar. De saída do trabalho, organizou sua pasta e separou algumas coisas para fazer em casa, pois não gostaria de além de sozinho ainda ter que passar por momentos de falta do que fazer, ou de inventar o que fazer, pensava que primeiro se masturbaria, depois veria algum programa estúpido na televisão e voltaria mais tarde para a janela, a observar a vida daqueles que ainda tinham coragem de viver. E foi o que fez, saiu pela porta do serviço, comprou um café para viagem, alguns sanduíches e entrou em seu prédio sem falar com o porteiro que apenas havia lhe acenado com a cabeça. Horas depois estava ele na janela quando em ponto, no mesmo horário da noite anterior, a luz acabou novamente.
Dessa vez o incômodo foi ainda maior que na outra noite. Havia a repetição, a dúvida e a possibilidade de que isso viesse a acontecer todos os dias, e aí como seria? Antero começou a pensar que deveria ter visto televisão antes, deveria ter feito o que trouxera do trabalho, deveria ter tomado banho, meu deus, sem tomar banho?! E tanta coisa deveria ser feita, mas ali ficou ele sentado na janela a olhar a pouca luz dos faróis dos carros e hoje da lua que aparecia aos poucos, pois o tempo ainda não havia melhorado de todo. Ficou ali por horas até que o violão do menino ao lado começou a soar, então ele se levantou, pegou um copo d´água e pela primeira vez apreciou a vista, pode olhar, não o fez para se ocupar, mas para entender o que se passava com a rua, com as pessoas nela, e por fim, com ele.
Nos dias que vieram a luz voltou a faltar, e ao contrário do que se esperava, não houve tantas reclamações. Parece que as pessoas haviam se habituado à falta dela, e agora à esperavam, em alguns bares foram marcadas audições de violão e piano, nas igrejas foram marcados cultos para essa hora e namorados iam para as praças fazer aquilo que não gostariam que fosse visto. Claro que alguns assaltantes aproveitaram para ganhar uma grana extra, mas sem poder ver que haviam sido assaltadas, as vítimas se tornaram mais tranqüilas. Durante o dia tudo parecia normal, mas chegava à noite e a cidade começava a se transformar, até Antero uma vez solitário, passou a ser mais sociável, claro que pelo dia, já que a noite passava horas e horas a contemplar aquilo que havia do mundo que era só dele e não construído para ser. Era Antero, o mundo e o violão do menino.
Até que se descobriu na empresa de distribuição de energia elétrica, a única que havia tido prejuízo com o caso, que a falta de luz era brincadeira de meninos que sempre à mesma hora cortavam um dos fios que transmitia a luz para a cidade. Assim, tudo foi restabelecido e a fiscalização preparada para que tal não se repetisse. Aos poucos tudo voltou ao normal nos cafés, nos bares, nas delegacias, hospitais, nos bombeiros, nas farmácias, nos bingos, por todo o lado, mas alguma coisa havia mudado, pensava Antero, pelo menos na casa do menino onde todo dia na mesma hora as luzes eram desligadas e o violão começava a soar. Ele então resolveu que essa seria uma hora especial em seus dias e continuou a diariamente ir até a janela ver o movimento dos carros e das pessoas e ouvir o menino tocar. Só que nessa noite foi diferente, além dele, do mundo, do menino e do violão, pela primeira vez naquela semana no céu havia estrelas.