30 novembro 2008

sentimento bom

Acredito que todos querem fazer seus sentimentos ficarem bons. Senti-los uma vez e de alguma maneira faze-los ficar melhores, como se fosse possível aperfeiçoar qualquer coisa que se sente. Bom, nisso eu acredito e muito. E percebo que sentimento bom só vem depois, de madrugada, e quando a gente está sozinho. À dois sentimento sempre dói, vem meio já com uma sensação de perda, vem com um aperto no peito estranho, que não gosto nada, tanto que tento cada vez mais tirar de mim. Só as vezes dá certo.
Porque sentimento não nasce do nada, se nasceu fato que vai embora do nada. É coisa que se luta, que se nega, e vai ganhando, e galgando degrau por degrau. Quando aparece pronto a gente num dá valor, quando é fácil demais parece sempre pouco, por maior que seja.
Acredito cada dia mais que um sentimento bom não aparece e não existe sempre, que quando vem a gente quase pede desculpa por ele ter vindo de tão raro que ele é, e acredito que o perdão é uma das melhores formas dele aparecer, porque é no perdão que se renovam as forças, ou é nele que elas se testam. Antes disso é só banalidade e por mais que elas divirtam, na maioria das vezes num tem graça em nada e é nessas horas que eu entendo que sentimento bom, qualquer um, é sempre mais que bom, e se não for real a gente inventa.

28 novembro 2008

amigo

ter amigo é chutar pedrinhas até em casa...

a certeza

A certeza é uma das melhores coisas da vida, pelo menos pra mim. Porque pra mim, certeza é a fé que eu não tenho movida pela razão que é só o que me resta. Então ter a certeza de alguma coisa para mim é como assistir o filme de minha vida depois de morto, como se eu fosse capaz de prever exatamente tudo que vai acontecer, por isso que eu sempre alerto as pessoas e mantenho delas uma distância segura para analisar os fatos, por isso que muitas vezes passo por malvado, porque transformo a ilusão delas em decepção, mas no fundo, só estou tentando evitar sofrimentos, porque sei exatamente o que eles fizeram em mim e podem fazer nos outros, então ter certeza é saber olhar para o mundo com os olhos de um anjo e desculpar os erros, desculpas as vaciladas, principalmente porque se sabe onde tudo vai acabar. Se isso for ter fé, eu tenho, embora eu não tenha certeza disso. Ainda bem que eu me arrependo...

27 novembro 2008

mais feliz

Alguém gritou na sala.

A sala da minha casa é de decoração absolutamente clean, sabe? Resolvi que teria o mínimo possível lá dentro, por isso pedi que botasse um janelão, o maior que pudesse, para aumentar a vista, aumentar a cortina, mas economizar em móveis e quadros. No chão um grande tapete bege, com muitos pelos pra ficar bem macio e também poder servir de refúgio, um sofá bege, um banco bege com rodinhas, na frente um rack, com a televisão e os aparelhos da época, uma mesa com tampão de vidro, umas revistas, uma parede roxa, só uma e um quadro nela, que preferi que fosse abstrato para que não tivesse nenhuma referência. De nada nem de ninguém.


Agora eles passaram pelo corredor, eu consigo ouvir os passos.


Escolhi praquele lugar de passagem tudo muito simples, um piso que fosse silencioso, uma pequena mesa para botar o telefone, sempre bom ter telefone no corredor, facilita os contatos. No teto um grande lustre caríssimo que consegui num antiquário que cobra tudo mais caro ainda, portanto esse caríssimo saiu baratíssimo, sabe como é, né? Num perco uma liquidação.


É um homem carregando um corpo de mulher.


Então, eu moro com um casal, sabe? Eles se amam muito, dormem no último quarto, o maior e mais bonito que eu mesma decorei. Ele é lindo, tem uma cama gigante com o melhor colchão da cidade, tem um tapete que eu gostaria de morar se fosse possível, tem uma balcão maravilhoso onde fica o computador dele, e na gaveta que ficam os segredos, as fotos escondidas que nunca poderiam aparecer. Tem também a arma dele. Isso só pude ver um dia, quando visitava minha amiga que mora em frente e da janela dela, vi a imensa janela daqui e ele estava com a arma apontada para seu próprio rosto. Ele parecia cego.


Tem sangue por todo o corredor.


Uma vez eles já brigaram, isso sempre acontece. Se não morrer ninguém para mim está bom, também porque não deveria estar? Eu moro aqui de favor, devo aceitar tudo que eles me dizem. Eu até aceito. O problema dessas brigas é que me tranco aqui, para não atrapalhar, para não virar testemunha nem cumplice de nada, porque é sempre assim, é só ouvir uma palavrinha que logo depois vem um de cada vez pedir conselhos, pedir que eu intervenha e dê pitacos. Deve ter sido uma queda, só isso. Ele não faria nada, e ela não teria se feito nada.


Ele bate na minha porta.


Muitas vezes, durante a noite ele bateu aqui. Queria alguma coisa, mas parecia perdido, depois de muito tempo descobri que ele era sonâmbulo e esse quarto era onde morava sua mãe, então ele quando pequeno corria até ele para se socorrer, era um espécie de abrigo, por isso ele tantas vezes bateu aqui, é por isso, claro, ela me explicou.


Abro a porta e ele está com a arma apontada para mim. Grito também, o que você fez com ela? O que você fez? Eu não tenho nada a ver com isso. Com a arma ele me empurra para a cama, eu paro de gritar.



Em alguns minutos ela foi estuprada, morta e jogada pela janela, a outra lá também. Ele disse que amava as duas antes de mata-las, acendeu um cigarro, cuspiu na pia, viu que saía sangue e se lembrou que era tuberculoso. Foi para a rua com a arma na mão e entregou ao primeiro mendigo que encontrou. Essa noite o mendigo compraria drogas e ficaria doidão, então chamou os amigos que viviam com ele na rua para uma festinha especial. Estava muito feliz, muito feliz.

26 novembro 2008

romance


Ando falando de romances sempre com muito cuidado, porque como já se sabe é na infelicidade que ele mais se alimenta e é na alegria que ele se sufoca. Um romance, então, nada mais é que a mistura de amor e paixão, que no fundo são a mesma coisa, perdoando-se as intensidades. Ele é a mistura porque é tudo aquilo que a gente não consegue saber e não consegue perdoar, na verdade, ter um romance é perdoar eternamente sem conseguir no entanto entender o porque de um perdão, é saber que não adianta fazer mais nada para que as coisas fiquem melhores e não adianta nem sequer imaginar que a pessoa está mudando, porque romance é permanecer naquilo que não vai mudar porque se mudasse, é como disse, já estaria começando a terminar.
Vendo esse filme reconheci um monte de necessidades minhas jogadas por aí, quase à deriva, mas que na verdade, eu ando escondendo muito bem, porque não quero que seja de ninguém, então ao fingir que elas não existem, elas deixam de se alimentar e hibernam em mim de preguiça, e isso já se reflete na prática em minha vida, nos meus atos. O que não quer dizer que não quero que tudo mude, é o que mais quero, as canções estão aí para provar o que eu digo.
Ao ver esse filme, que não me fez chorar, mas me alegrou, me deixou feliz e me fez valer a quarta-feira quase muda, porque agora o silêncio tem sido meu melhor amigo, percebi o quanto é legal para a vida ficar pensando nessas coisas que não tem solução, mas fazem um bem e um mal danado.

25 novembro 2008

a paixão por caetano veloso

Minha paixão por Caetano Veloso começou quando vi na tv bandeirantes o especial do dvd "noites do norte ao vivo". Lembro como foi uma coisa absolutamente louca, como se eu descobrisse a música e descobrisse todo o valor que ela deveria ter, e era algo muito presente pois eu não estava ouvindo um cantor morto que falava de um outro tempo, era o Caetano ali cantando músicas atuais e de outros tempos conversando sobre seu passado e sobre o presente e aquilo para mim era absurdo e complicado. Na mesma semana comprei pela internet o cd duplo que me custou 50 reais e depois disso fui virar fã e tentar ouvir o máximo que podia dele.
Daí a gente vai pro passado e vê ele novíssimo fazendo história com "alegria, alegria" e pensa que a melhor música do mundo está no Brasil e essa cambada de gringo tem tudo, talvez até algumas coisas melhores que a gente, mas que jamais podem ser comparados com um cara desses, pois é aqui onde tudo é tão diferente que as coisas podem verdadeiramente acontecer, e como diria o próprio Caetano: "pelo Brasil ser tão diferente, ele tem obrigação de ser experimental."

23 novembro 2008

Alice

Não tenho muito interesse em séries com temas pretensamente atuais. Digo pretensamente porque acho que a boa e velha fórmula de Friends do "espaço íntimo quase só com sofá" e o modo "uma doença que no fim é curada (ou não) e que serve para apresentar a vida das pessoas" do House, muito mais interessante que essas que se pretendem com "temas da atualidade." Não vejo Sex and the City e não acho nada de novo uma mulher querer far sexo com muitos homens e comentar isso com todas as amigas e nesse caso fazer ou não faz pouca diferença.
Entretanto, comecei esse post porque pela primeira vez assisti "Alice", a série da HBO. Aliás, assisti parte de um episódio e já parei para escrever aqui, e escrever falando mal. Não tenho nada a falar da atriz, nem da direção, é até tudo muito bem feito e bonito, o que me incomoda é essa tendência a querer parecer contemporânea. Primeiro, porque tem que ter drogas? Segundo, porque tem que ter sexo? Acho que pode até ter, mas isso quando for estritamente necessário para o roteiro, para a história, para a fábula. A cena de hoje que o irmão de Alice se masturba no banheiro cheirando a calcinha da amiga da irmã é muito mais bonita que as outras três cenas do episódio de namorados fodendo. Até a cena que esse mesmo irmão quer comer a amiga (ainda não acabou, não sei se vai comer, mas que quer, quer) é menos interessante. E isso não é caretisse. Quanto às drogas, faz tempo que não é mais "in" mostrar que os riquinhos de cidade grande usam drogas, aliás já fica até chato e eu automaticamente penso: "ih, alá, já vão ficar doidões de novo..." e perco o interesse.
Porém, o que mais me assustou nessa série foi a quantidade de tempo que celulares tocam. Sério, mesmo na cena que não toca o celular de ninguém, pode ser ouvido ao fundo uma musiquinha de algum celular tocando. Não sei se isso é prerrogativa ou eles estão fazendo propaganda da vivo, oi, claro ou tim, mas que fica absurdo, isso fica, tanto que muitas vezes acabei pensando: "não é possível, deve ser o meu".
Já houve coisas menos caretas e muito mais atuais.
(E o rapaz com certeza vai comer a mulher, ela já está bêbada rebolando na frente dele, pena que ela já mostrou o peito duas vezes no episódio o que tira um pouco da graça.)

22 novembro 2008

o anão

Um anão, por detrás da porta, tentava olhar para a fechadura. Imaginava o que haveria do outro lado, se era uma mulher que tomava banho, ou um homem que contava dinheiro, podia até ser um quarto vazio, chegava a pensar, entretanto continuava ali de pé, pois parecia ter ouvido um barulho vindo de lá poucos instantes atrás. Foi até a sala, adjacente ao quarto onde estava e pegou um banco para assim poder alcançar o bendito buraco. Quando postou ali o banco e subiu, foi que se deu conta que a porta estava aberta, pois algo tremera lá de dentro, mas já não havia tempo, um homem abriu-a com violência, tinha ódio nos olhos e uma veia saltava da testa. O anão, que por sinal era negro, tombou ao chão junto com o banco batendo com a nuca que no impacto fez um barulho oco. Já o homem enfurecido não quis saber da intromissão do pequeno, pelo contrário, saiu esbravejando porta à fora gritando nomes e palavrões e foi ouvido desde o bater de cada porta até o arrancar do carro, alguns minutos depois.

Com muitas dores o anão se levantou ainda tonto, desnorteado, com as pequenas mãos ajeitou o banco num canto, limpou a roupa que havia se sujado de poeira e com a cabeça baixa, meio de dor, meio de vergonha, entrou no recinto. Era um quarto comum, com uma cama, uma grande janela e uma cômoda. Junto à cômoda estava uma senhora de meia idade, loira e maquiada demais com as mãos dispostas no rosto. Chorava ruidosamente e com os calcanhares chutava os pés da cadeira que sentava. O anão esboçou falar: ‘A senhora...’ Mas foi quando ela aumentou mais o volume do choro, apagando o som que ele havia tentado proferir da garganta que só agora percebia que estava demasiado seca, por isso teve de pigarrear, chamando atenção da senhora que só agora lhe havia olhado. Baixou os olhos, pois ainda não havia pensado no que dizer, o que fez com que a senhora voltasse a chorar, agora se levantando e indo até a janela. Ele foi até junto da e mais ou menos da altura dos seus joelhos disse:

A senhora está bem?

Estou como estou, o senhor está vendo.

Lamento.

E ele está indo, veja! O carro já quase desaparece no horizonte.

Não posso ver, senhora. Não posso ver.

, disse baixando novamente os olhos. Ela balançou a cabeça, secou os olhos e dizendo ‘o que importa?!’ se virou de costas saindo da sala. Do banheiro, que provavelmente era ao lado desse quarto disse algo que o anão não conseguiu ouvir. Este então saiu do quarto, pegou o banco com as mãos para colocar onde tirara, quando foi interpelado pela senhora que dizia ‘vamos, estou saindo’, assim balançou a cabeça, largou o bancou e acompanhou-a pelas escadas que descia tropegamente, só agora percebendo que sentia pontadas na nuca e também no topo da cabeça. Impressionava-se com a velocidade com que a senhora fazia essa atividade, assim duplicou sua velocidade, tentando atingir o andar térreo antes dela ou junto dela, o que conseguiu não sem esforço, pois lá embaixo chegou ofegante e bastante molhado de suor fazendo-lhe a testa brilhar, enquanto que a senhora se mantinha religiosamente maquiada e bela. Antes de a senhora bater a porta, o anão ainda deu uma olhada para dentro e conseguiu ver uma menina jovem e uma empregada que saíam de um quarto de porta vermelha que não havia reparado quanto estivera lá dentro.

Dentro do carro tentou fazer algumas perguntas para a senhora, mas além da caixa de som do rádio que estava numa altura insuportável ficar logo ao lado de sua cabeça, o cinto de segurança lhe incomodava por demais, pois roçava em seu pescoço e começava a deixar uma grande vermelhidão que só ele reparava, pois a cor negra esconde dessas coisas. Foi quando já estava preste a num impulso chegar até o botão do volume do rádio, que viu a senhora dar a seta e entrar na garagem de uma igreja. Antes mesmo de sair do carro já foi recebida por um padre, branco de testa grande e pontuda, que lhe sorria com grande parte do rosto.

A que lhe devo a honra, senhora?

Meu marido, padre, de novo.

Os amores são assim, senhora, os casamentos também, muitas vezes são essas discussões que fazem a paixão.

Mas eu não sei, ele me tira do sério, me tira tudo, padre.

Foi só quando o padre chegava do lado dela que viu o anão tentando se desvencilhar do cinto de segurança, ainda dentro do carro.

Quem é esse...rapaz?

Ele me acompanhou até aqui, sozinha eu não teria conseguido.

Entendo.

O anão então saiu do carro, olhou para a senhora e para o padre. Não conseguiu muito bem ver o rosto dos dois, pois o sol vinha de cima e lhe ofuscava as cores fazendo-o lacrimejar.

Já que a senhora está entregue, acho que devo me retirar.

Mas já? O senhor foi tão prestativo, me ajudou tanto.

Foi um prazer, senhora. Além do mais, a senhora está acompanhada de um homem de Deus.

Tem razão, senhor, tem razão.

Pediu a benção ao padre, fez sinal com a cabeça para a mulher e se virou de costas, andando na direção da estrada. Ouviu ainda a senhora gritar ‘o que o senhor queria lá em casa, afinal?’, virou a cabeça disse que qualquer hora voltava e continuou seu caminho.

21 novembro 2008

174



Porta a dentro entrei no cinema, não tive que passar por nenhuma roleta porque ali não havia. Sentei na última fila na cadeira da ponta, quase que sem motivos, às vezes a ameaça pode não ser verdadeira, mas o medo sempre é real, é algo mais que químico, é traiçoeiro feito veneno. Sentei ali porque me sentia desprotegido para o que iria ver e sabia exatamente como sairia, além do mais, do fundo a tela ficava menor, o moço menor, tudo menor, talvez da altura máxima do que eu poderia suportar. Na vida, todas as coisas que me importam são rosas e são espinhos e eu com a mão direita, a que mais preciso, seguro em ambos de punho fechado e das pequenas chagas o pouco sangue se mistura com a coloração da flor. Já o moço não, ele não sangra. Ele é sagrado, porque já veio sangrado e por isso, nunca se mistura com nada na vida. Quem não sabe que ele não era capaz de ler, pode achar que ele passou pelo mundo a ler Kafka, mas ele não precisou, pelo contrário, experienciou na pele aquilo que era seu destino. E eu, ao fim do filme me levantei e saí rápido porque não me aguentava das pernas, fui ao banheiro, mijei, me olhei no espelho, ajeitei o cabelo e guardei o óculos, fui até uma pizzaria, sentei na mesa mais ao fundo que tinha, comi uma fatia, tomei uma coca e sozinho me dirigi até o ponto, onde peguei o ônibus para vir para casa.

15 novembro 2008

duas palavras

eram só duas palavras, depois delas tudo mudaria para sempre, por isso quanto drama havia nas pequenas duas palavras e a gente só entendia porque eram palavras, essa foi nossa forma de entender o mundo, de que importa um olhar torto, quando se tem as palavras?, acontece que as duas palavras sempre se calam e às vezes o mundo agradece por isso, porque somos capazes sempre de irmos além delas, ultrapassa-las sem nos deixar prender pelo vício de dizer sempre a mesma coisa, e assim que se faz história, se conjugando pequenas sobras do dia-a-dia, e hoje posso dizer que o dia amanheceu em paz.

13 novembro 2008

a chuva

Chuva sempre foi uma coisa boa para mim, lembro que quando criança gostava dela porque ela sempre representou o que eu sinto. Quando tinha sol demais eu me sentia estranho, a luz sempre ofuscava minhas vistas. Até hoje não consigo enxerger muito no sol, além disso me sinto muito menor no sol, me sinto mais frágil, sinto que o sol deixa toda gente grande maior, enquanto que na chuva não, eles mingüam, e eu...eu continuo assim, mas com um cúmplice, um amigo.
Lembro também que corria quase um rio e eu sentava na minha janela pra olhar sempre com espanto o tanto de água que descia, lembro que era bom isso, lembro que ficava horas assim. Outra lembrança é de quando num dia de chuva tentei me esconder para que ela não me visse molhado, não adiantou, ela viu e não se importou, pelo contrário, gostou do que viu e sorriu, este sem dúvida foi um dos melhores dias da minha vida.
Agora chove e isso não representa absolutamente nada, eu ignoro a chuva e ela não me atrapalha. Não estou fazendo nada mais do que deveria fazer, resolvi escrever aqui por puro tédio e não preciso mais de desculpas para sentir as coisas que de verdade nem sinto, pelo contrário até me forço a sentir. Chuva para mim é lembrança, que como de criança, é boa mas não é verdade e tampouco importa.

11 novembro 2008

vida e sonho

"Somos da mesma substância que os sonhos."
A tempestade - Shakespeare

Ou seja, está tudo aí, o mundo é nosso, a gente sai de uma quarto para entrar em outro, sai de um problema para entrar em outro, sai de um sonho para entrar em outro, porque se somos feitos de sonhos e sonhos sonhos são, a gente existe neles também, assim comos nos problemas e nos quartos. É sempre complicado tentar dizer que o sonho é mais do que é, porque é dar a ele status de beleza e tirar da vida a beleza dela, o que é absurdo, a vida é linda também, bela, perfeita, na medida em que irretocável, não se dá para mudar, mas vida também é sonho como diria calderon e sonho também é vida e a gente está aqui e lá e não pode ter a idéia de valorizar mais uma coisa que outra. É preciso sonhar como se vive, e viver como se sonha, por isso vejo pouca novela, porque elas misturam tudo, me confundem e sou fraco demais para ser confundido. Assim que sentimentos começam a durar demais, quando estão misturados demais no sonho e por isso que eles são tão belos, porque viram sonho/vida e por isso que viver sem sonhar por mais que a gente tente é a maior mentira, porque sonho é muito vida. Endurecer sem perder a ternura, a velha história ainda resiste.




10 novembro 2008

Obama


Meu blog praticamente está se tornando um blog que comenta o blog da tatiana, então como ela falou do Obama e falou que tinha que falar do Obama, percebi que eu também teria que falar do Obama.
Eu fiquei sabendo que ele tinha ganhado a eleição quando cheguei em casa e minha mãe me disse por telefone, já que eu estava no Rio. Era mais de uma da manhã e eu estava bêbado. Minha resposta foi: "maneiro, mãe" e para mim foi exatamente isso. Minha posição em relação ao Obama foi simplesmente de achar ele parecido com o Hamilton e com o Tiger Woods e achar que o mundo inteiro estava sendo invadido por clones parecidos, até que ontem eu li a coluna do Veríssimo no Globo e ele usa mais ou menos a minha comparação para falar coisas sérias, daí eu larguei o texto pela metade, para variar, pois esses escritores andam me irritando porque sempre querem dar alguma lição e eu não estou muito disposto a ouvir.
Agora é a parte que eu faço minha conclusão: os americanos não deram nenhum passo para demonstrar que moram no país mais democrático do mundo, o berço da liberdade, pelo contrário, eles ao elegeram Obama reafirmaram o preconceito que sempre tiveram, ou seja: tem o Hamilton, tem o Woods, a Venus e Serena Willians, logo chegou a vez deles, vamos elege-los uma vez, mas continuam sendo o outro. Lá é assim, o negro é o outro ganhando. É a velha idéia de se estar votando no diferente, no que vai mudar e eu sou muito a favor disso, mas não quando esse diferente serve para reafirmar os erros de sempre. Não é a toa que a casa é a Casa Branca.
A grande vantagem é que o Obama era mesmo a melhor opção já que o McQuem é a piada do ano como um velhinho que ainda acha que está Vietnã e pior, ainda acha que tem como tirar as tropas do Iraque com dignidade, porque para ele ainda existe dignidade.
No mundo, não há mais espaço para esse tipo de coisa, vivemos catando restos, reduzindo danos e torcendo para dar tudo menos errado.

07 novembro 2008

acalanto

se nada mais é possível além da morte, que ela lhe chegue como um abraço meu.
se ela for de alguém que você muito aprecia, que meu abraço seja o mais parecido com o que você imaginou precisar.
se tudo for dor demais, que eu não abrace, somente esteja perto para sentir o seu sofrimento com você.
se lhe faltar fé, eu rezarei com a minha falta de fé por você, para que ela não lhe falte, logo você que foi sempre cheia dela.
se precisar de uma palavra bonita, vou improvisar com meu pouco talento qualquer coisa que lhe pare o choro, ou o medo do futuro, vou falar o que posso e até mentir para ver um sorriso em seu rosto.
se for complicado demais entender que o amor é sempre maior que tudo, eu seguro a respiração um pouco, e como morto finjo que não amo, para as coisas lhe serem o mais leves possíveis.
se você quiser dormir, eu velo por você, mas depois durmo, para que você saiba e se sinta em paz dormindo, sabendo que ninguém o disperdiça por você.
se não me quiser por perto, como não o quer, eu me retiro, fecho a porta sem reclamar, e só derramo uma lágrima quando tiver certeza que você jamais vai olhar.
se você estiver triste e procurar qualquer palavra minha, sinta o acalanto, pois alguém hoje velou, sofreu e pensou em você.

outra vez

A verdade é que não é porque eu endureci que eu me tornei pior, ou "menos bom", pelo contrário, eu simplesmente peguei tudo que tenho em mim e que acho de mais valoroso e deixei escondido, guardado, como se não existisse mais, tirei tudo isso da minha vida, do meu cotidiano, foi meu jeito de ficar feliz. A maioria das pessoas preferem arrumar outras pessoas para estarem ao lado e criarem novas ilusões, obrigações, responsabilidades e possíveis outras decepções, já eu senti que para mim já deu, está bom onde estou, como estou, por isso faço nada mais existir, não aparecer, não transparecer, só em singelos momentos, e o pior, as pessoas que têm esses singelos momentos os desprezam, o que me faz cada vez mais ser o que estou sendo. Por isso, acho que quanto pior sou, melhor sou, mais me torno alguém capaz de viver uma coisa que muitos serão incapazes, mais sou herói de uma história que eu mesmo crio, mais posso ser aquilo que um dia fará outro alguém bem mais feliz e como diria roberto: "só assim sinto você bem perto de mim outra vez".

06 novembro 2008

mr catra




Não entendo porque me apontam e me acusam por gostar de Mr. Catra. Acho que há um grande resquício de conservadorismo mesquinho totalmente mascarado de idéias progressistas que ainda não nos permite encarar as coisas do jeito que as vivemos hoje em dia. Primeiro, que toda vez que uma mulher passa na rua e nós olhamos, já estamos sendo Mr. Catra. Toda vez que beijamos uma menina e ficamos de pau duro também, e óbvio que todos os pensamentos catrianos estão ali na gente, e até nas meninas, por isso que "um tapinha não dói" e por isso que elas continuam "ficando atoladinhas", mesmo porque sabemos que buceta virgem é coisa que dá e passa. Então para mim é o seguinte: ou decidimos ter uma vida regrada sem abertura sexual, sem relações - não relacionadas - com os outros, ou assumimos que é esse mundo mesmo que vivemos hoje em dia, e assim, nele, Mr. Catra seria a nossa má consciência, aquilo que nós fingimos não pensar mas que é presente em todo nosso cotidiano. Quando ele começa um show dizendo "agora é só putaria", na verdade ele está celebrando a conquista absoluta de uma liberdade sexual que pode ser exercida, o que no caso, vai de encontro a o canto inicial de uma missa que é o pontapé para um caminho de culpa cristão que vai durar quase o tempo de um show, e no caso do Catra, a putaria se assim se queira deve ser aproveitada (como a culpa), e caso não se queira, se pode sorrir e aproveitar, ser um voyer, outra coisa que todos somos.
A liberdade sexual só é uma conquista se for realmente uma liberdade. Um dos problemas é que uma parte das pessoas que ouvem o Catra não podem exercer nenhum tipo de sentimento livre, pois não tem estudos, cultura e base familiar capazes de lhes proporcionar um pensamento crítico organizado e particular sobre muitos casos. Então, nesse caso, se culpa o pobre cantor, que na verdade não tem culpa nenhuma, tanto que as patricinhas dançam Catra e fazem faculdade, e delas sim se poderia dizer capazes de fazer escolhas. O que prova que essas duas frases anteriores são falsas, todos somos capazes de escolha, mas poucos conseguem largar um conservadorismo bushiano que nos cerca, como sendo o lado do bem. Logo eu acabo por concluir que não se pode dizer que a liberdade sexual tanto na música do Mc, quanto na vida das pessoas não é um problema ou uma solução mas sim uma escolha, que qualquer um é capaz de gostar ou não, mas de toda maneira vivenciamos isso no nosso dia-a-dia, que deve ser respeitado enquanto nosso mundo, e nesse sentido o Mr Catra por conseguir sem mascarar uma beleza ou um amor que está cada vez mais difícil de acreditar, consegue ser absolutamente atual e falar de um sexo que, assim como amor, todos sabemos a importância que tem na nossa vida.

05 novembro 2008

exercício dramatúrgico

HOMEM - Vem espremer o cravo grande das costas.

MULHER - Onde?

HOMEM - Aqui...

MULHER - Mas...mas...porque você não pede pra outra pessoa? Eu sou cega.

HOMEM - Porque eu só confio em você.

MULHER - Pra tudo?

HOMEM - Pra tudo.

MULHER - Então tem algo que eu preciso te contar.

HOMEM - Você me traiu?

MULHER - Com uma mulher.

HOMEM - Como você pode?

MULHER - Eu não sabia, eu conversava com um grupo de amigos, quando ela veio e me beijou.

HOMEM - Que dia? Quando isso?

MULHER - Aquele dia que você foi me visitar e foi embora por causa das nuvens.

HOMEM - Aquele dia do temporal? Então você sai de casa com esse toró, larga-se no cafundó dos judas atrás de uma cretina e ainda por cima, é capaz de me trair?

MULHER - Desculpa, desculpa. É que pra mim é tudo tão difícil.

HOMEM - Difícil é ser corno pra uma cega. Eu sou tipo muito mais corno que um corno comum.

MULHER - Você já me traiu?

HOMEM - Nunca. Não quero mais saber de você, não quero mais te ver.

MULHER - Nunca te vi.

HOMEM - Pelo menos você não viu o que fiz com minha barba.

MULHER - Você tirou?

HOMEM - Pintei.

MULHER - Está de que cor? Loira?

HOMEM - Aham.

MULHER - Que cor é loiro?

HOMEM - É claro, menos escuro.

MULHER - É mesmo. Então ela tá loira? Mesmo?

HOMEM - é mesmo, oxigenada mas loira...

MULHER - e como vai ser? Você vai mesmo embora.

HOMEM – Não sem antes você espremer o cravo grande das costas.


03 novembro 2008

indiferença

"A sociedade ao longo da história, sempre confundiu indeferença com loucura"
Mário Bortolotto

A história é muito simples: um menino se senta ao lado do pai que assiste televisão e pergunta o que ele está pensando, o pai olha para ele, sorri e volta a olhar para a tv. Cinco minutos depois, de silêncio, o pai fala qualquer coisa porque tem que dizer e o filho ouve porque tem que ouvir, porque precisa. Na verdade é sempre assim, grande parte do que dizemos, poderia ser silenciado, grande parte é ou para se aliviar ou para se fazer ou para diminuir alguém. Está sempre sobrando palavras e isso não é ruim, é indiferente. E de tanto falamos, começamos ao vício de ouvir, o silêncio de fora é impossível e eu não vou dizer o óbvio agora, porque no fundo é tão indiferente...

02 novembro 2008

defesa

aos poucos vou me livrando das defesas, não aprendendo a esconde-las ou invetando maneiras de não senti-las, mas confrontando todas elas com veemência. Não que eu acredite em mudanças, muito menos de felicidade vir na mudança, porque mudar no fundo é só um jeito de ser infeliz de um jeito diferente. Gosto da palavra que usam em inglês: miserable, miserável, que fica melhor de se entender quando se fala "mísero", coisa que a gente não escapa. Se livrar das defesas, então, passa a ser uma obra de análise, de olhar atento, de perceber cada detalhe do que se está a fazer: é como se estivéssemos completamente bêbados e voltados para cada pequeno movimento que se faz, desde os controlados, até aqueles que nos tomam e nos surpreendem. Agora percebi mais uma defesa que é o fato do uso da metalinguagem, ao discutir a própria incapacidade de dizer alguma coisa, ou analisar o ponto onde a linguagem incide em um sentimento, se está exatamente fugindo e não discutindo o que se sente, pelo contrário, está falando dele e usando ele a seu favor. Por isso que agora atento a isso, pretendo avançar sem rumo, no entanto sem estar perdido, vou simplesmente numa errância que me leva sempre para onde quero, quando eu deixo .

assim como

Há um turbilhão por aqui, mas quero escrever um texto bonito, ou quero escrever um texto bonito, mas há um turbilhão por aqui, ainda não decidi qual das duas é melhor. Eu sempre acho que há uma grande obra a ser feita, há um mundo a ser descoberto e há algo lindo e imenso que ainda não olhei, mas ao mesmo tempo são tantas as distrações que quase sempre não consigo me manter atento ao que importa, é como se eu soubesse de cor a história que eu quero contar e fazer e viver, no entanto eu não a conto, passo meus dias a adia-la, e se é possível que ela mesmo venha, vai se tornando cada vez mais história, e menos vida. Assim é com o amor.

em casa

fiz essa letra faz tempo, achei aqui no pc e ela já tem mudanças, mas prefiro postar assim ruim mesmo:

já desisti dos finais de semana
com as pessoas de pouca idade
vivas, frias
em vidas de pouco amor

já insisti que você me ama
para os amigos que não ouvem nada
do que eu digo e faço muito
e fico sem amor

saio não porque eu gosto de sair
saio sem ter pra onde ir
sem mentir
vão saber que não sou feliz
pois sei que quem eu quero está em casa
a dormir...