27 junho 2012

hahahah

eu ri antes de começar a escrever.
é que eu não sabia ainda se tinha alguma palavra.
na mesa um neosoro, tampa de pendrive,
um clipe, palheta.
tem palavra.
nenhuma boa.
esperança nenhuma.
sono nenhum.
e nenhum sentido pra fazer poesia.


quem sabe antes
já não havia alguma coisa
que eu não precisava dizer
porque não havia nada
para não ser dito.

26 junho 2012

Deus e o Diabo em Minuto


Jamais te odiei, a ti e a nenhum dos teus.”

O Altíssimo para Mefisto
Fausto – Goethe


Dois homens praticamente iguais estão sentados em uma mesa. A luz é baixa, natural, apenas por dois abajures pendurados em outras duas mesinhas uma em cada canto da cena. Ambos, ao centro, estão quase no escuro e de cabeça baixa.

MEFISTO – Estou aqui mais uma vez para dizer as coisas que sempre digo. Tudo vai mal, eles ainda estão iguais insetos prontos pra serem esmagados, como ganhafotos que destroem a plantação que comem. Na verdade, são os piores que existem, mas não são tão culpados quanto parece. Eles estão mais pra baratas tontas, perdidas, a procura de qualquer pequena brecha.
DEUS – De novo, de novo você! Só o que faz é vir aqui reclamar, sempre dizendo a mesma coisa. Sabe que gosto que venha conversar, meus dias são geralmente inúteis e parados. O marasmo toma conta de tudo que não é convulso. Sabe que gosto de você e temos uma relação até bastante boa, mas nunca tem nenhuma novidade, é sempre a mesma ladainha. Quer dizer então que tudo vai pior?
MEFISTO – Pior não. Nada piora, nada sabe nem piorar. É tudo conforme as coisas sempre foram. O lugar é horrendo, um antro de tristeza, melancolia, culpa, pressa, medo, roubo, arrombamentos.
DEUS – E como vai aquele senhor?
MEFISTO – Qual?
DEUS – Aquele a quem nada atinge.
MEFISTO – Corrompo ele assim, num estalo. Aposto que ao mostra-lo a felicidade, a tristeza é a primeira que se abate sobre ele. A tristeza da felicidade.
DEUS – Fica com ele pra você, pode ficar.
MEFISTO – Ok, vou indo então.
DEUS – Aqui, sabe que nunca te odiei, né?
MEFISTO – Sim, senhor! Sempre vou saber.

25 junho 2012

top 10 twitter da semana I:


1. um cara sem braço não joga gamão, mas gopé.

2. cheguei em casa tão ferrado e destruído que minha mãe me chamou de Capitu.

3. violência é dar uma flor e esperar amor em troca.

4. colar papel em poste é fazer um post-e?

5. se eu sou o rei do stalking eu sou o stalKING?

6. quer ser underground vira minhoca.

7. Meu gato queria me contar alguma coisa, mas ele perdeu o fio da miada.

8. a pergunta deve ser mulher porque ela não quer calar.

9. Tem um jogador no Cruzeiro chamado Tinga. E um no Inter chamado Nei. E nem Tinga Nei.

10. Queria ser o Seu Celso, porque pro Seu Celso sempre tem espaço.

21 junho 2012

vinte e um

o computador ronrona
eu coço a perna
o teclado digitado
e ainda tem gente que insiste em fazer poesia falando do céu, do mar, da luz, dos grilos.

toda palavra é barulho
toda falta de palavra também.

então relaxa aí
e para de pensar que o silêncio é poético.

13 junho 2012

dos livros

tenho 27 anos e já preciso reler alguns livros. Releio-os e experimento-os como se fosse a primeira vez. Não é a memória que falha, é a lembrança que se desvia. A cabeça me pesa pelo que já li, pelo que ainda não li, mas mais que isso, pela quantidade de memória inútil que guardo enquanto esqueço de meus queridos livros. Nunca falta espaço pra se lembrar de amores.

10 junho 2012

quarto

olhava pro teto
conversava com as paredes
sentia o corpo na cama
e o frio da pouca coberta
mas tinha a sensação
pequena e gigante
de que não estava ali.

09 junho 2012

alcoólico anônimo.

Era um comediante famoso. Onde estava era reconhecido não só pelo rosto que aparecia nas revistas e televisões, assim como pela capacidade natural de fazer rir quem quer que fosse, seja com um trejeito no olhar, nos músculos da face ou até no timing perfeito dos comentários. Sabia piadas, mas era tão bom de humor que abrira mão de conta-las há muito tempo atrás.
 Era casado e sua esposa vivia uma espécie de paraíso porque conseguia ter o homem mais doce e querido do país a seu lado e ao mesmo tempo ver seu bom humor sendo jogado ao mundo do mesmo jeito que ela via, em segredo, em casa. Ela tinha acesso irrestrito àquilo que os outros pagavam.
Um defeito: não conseguia não agradar. E tornava-se infiel. E quando infiel, triste, por dentro, tornava-se beberrão. Em pouco tempo tornou-se alcoólatra. Com medo de perder fama e mulher foi aos alcoólicos anônimos.
- Olá, gente! Eu tenho um problema! Eu sou alcoólatra.
- HAHAHAHAHAH!
- Eu preciso de ajuda.
- Owwwwwwn.
- Preciso me curar disso. Sou casado e estou para perder minha mulher.
- Aaaaaaaaaah...que pena! É tão lindo...Fofo. Vamos ajudá-lo.

Correu pra rua. Encheu a cara, voltou pra casa, espancou a mulher, acabou com seu programa de TV, desistiu da fama, comprou um quiosque e hoje é o melhor vendedor de cocos do litoral baiano.

05 junho 2012

shuffle

Fala um número, sei lá, duzentos. Entre zero e duzentos há cento e noventa e nove outros números. Ser duzentos é contar com toda a fila de que lentamente de um a um se compõe o que é duzentos. Supõe-se então que você escreva no google: “sorteador”, aí ele abre uma página pra você ali, bonita, e você pode sortear o número que quiser. Aí você escreve duzentos e faz o sorteiro pra ver qual número sai. O resultado é trinta e oito. Entre zero e duzentos do dia cinco de junho de 2012, às 2:43 da manhã o site sorteador.com.br entre números de zero a duzentos escolheu o número oito. E aí você resolve ir clicando. 33, 36, 104, 180, 186, 141. Aí você pensa: ah, não, duzentos é um número alto, de um a vinte em quantas chances um número vai se repetir? E você vai lá onde está duzentos e tira um zero. E bing: 18, 10, 13, 18! Na quarta, na quarta chance o 18 se repetiu. Faz isso de novo, faz, faz isso pra sempre. Shuffle.