23 junho 2007

piscar do traço

Eu não escrevo nada além das palavras que correm ao piscar do traço da tela do computador. Assim e por isso, não posso jamais ser melhor que qualquer alguém que não escreva, que não entenda e que não pense. Jamais posso me pôr à frente só porque digo ter o dom da palavra, da cena, do ritmo e dos sons. Posso ser apenas um moço, pequeno e humilde que não sabe, que não tem dons nem instrumentos para nada, posso ser apenas o moço que escreve porque sente vontade e que entende profundamente que isso de nada adianta. E ao correr do piscar do traço da tela do computador frases são feitas e desfeitas, e acima de tudo esquecidas, para talvez um dia serem lembradas num momento qualquer.

17 junho 2007

hoje

Não posso fazer que seja perfeito, nem ao menos que seja feliz, porque perfeição e felicidade não são passíveis de fabricação, muito pelo contrário, a capacidade de percepção é inversamente proporcional à felicidade e a perfeição nada mais é do que o objetivo inatingível das noites mal dormidas e das pessoas mal crescidas.

O sonho dura mais que uma aventura e permanece até depois do fracasso, da tristeza e da inevitabilidade da queda. O sonho é a ponte do que nunca vai ser com o que não é, mas poderia ser, caso fosse perfeito. O sonho é o perfeito real, o que pode existir de mais perfeito na gente.

A vida é apenas a fração de todas essas coisas. É escorregadia e fugidia. A vida é a seqüência de segundos encadeados com pausas, voltas e quebras. A vida é a porta de saída das coisas, é a falha no dispositivo. A vida é a tristeza, a imperfeição, é enfim, o lugar do fim do sonho.

07 junho 2007



O Daniel é Placido
Placido é Daniel
se eu falar que ele é Tabuada
ele briga, pois Taboada ele é
e se mais uma vez ele briga
decido chama-lo de Zé.

Luiz Antonio Ribeiro
7/6/7

01 junho 2007

Assalto

A gente não sabe o que está acontecendo até acontecer, a gente age sem agir e saber que está agindo como se tudo parasse para ouvir a gente sendo, ou então, como se a gente parasse para tudo e fosse um ser em estado, ou em processo, ou em exercício. A gente sente medo e dores, se é que é dor esse estado completo de anestesia, ou então é até um paradoxo, sim e não, hoje e sempre, nunca mais. Não há sentimento nem metáfora que descreva, não há pensamentos, filosofias ou idéias que entendam, não há sistema quando tal ação acontece, mas acontece e o mundo pára, muito e tanto que nem parece existir. Nesse sentido, como um assalto parece amor.