27 janeiro 2009

algumas perguntas

e de tanta autocensura a gente passa a escrever menos. E o que é que se lê? E o que é que lêem nesse silêncio? Nessa pausa? Será que lêem ou apenas se distraem e ignoram? Será que percebem que esse silêncio é mais da alma, e talvez tenha o nome de paz?

11 janeiro 2009

um troço estranho

no primeiro dia que não choveu ele percebeu que desde que descobriu o amor há uns 8 anos atrás passou mais de 6 anos tentando não sentir o que sentia e tentando não amar o que amava, ou porque estava dando errado ou porque preferia desistir porque imaginava que ia dar errado, enfim, não importam os motivos, mas só a constatação que só amara aproximadamente 2 anos e desses apenas 1 e pouco de coração aberto, inteiro, o resto foram trechos de curta duração, ou isso acontece com todos ou amar é realmente um troço estranho.

experiência

Ele já está claro na minha cabeça, só não ainda decidi se ele está de saída ou se já está voltando. Esse personagem é tão sutil na sua maneira de existir que eu acho que é uma mulher. Ela não pode se maquiar porque não agüentaria, por enquanto ousa apenas a vestir saias e mostras às vezes, ainda com alguma relutância parte das pernas, e justamente por isso, tem sempre um ar preocupado, um ar de estar sendo revelada pela alma, mas não está, as pernas só escondem a alma que poderia ter muito mais a dizer. Ela tem um passo firme, não usa saltos porque não precisa de elegância, não precisa de porte físico, tem apenas uma doçura simples que se esforça muito para transformar em charme: quase sempre consegue e se sente realizada, mas numas poucas vezes joga olhares tristes para o alto, como se nada disso estivesse a valer a pena.
Ela agora está sentada na cama decidindo o que fazer de seu dia. É domingo e tudo será uma questão de escolha. Pode investir na vida social, chamar umas pessoas não muito próximas pra sair e aproveitar pra refinar novas amizades, pode ficar em casa e curtir a solidão que esperava pela semana toda, mas tem medo de que ela se transforme num vazio, num monstro que lhe persiga nesse dia de sol. Ela pode ainda reunir os amigos para uma conversa descontraída ou qualquer coisa do tipo. Ela não está pensando em amor, mas está pensando que precisa amar, amar e ter controle. Ela quer esse poder, de controlar as coisas se assim o quiser.
Decidiu dar um toque em alguns celulares sem deixar que ninguém atendesse e sair para um passeio sozinha pelo parque. Gostaria de olhar os casais brincando com seus filhos, sentir o cheiro de pipoca, de algodão doce e rir da velocidade da bicicleta dos meninos já crescidos apostando corrida. Se alguém ligasse ela atenderia e aceitaria qualquer programa, sairia e teria um domingo contente, era só disso que ela precisava. Se tivesse um diário, não escreveria hoje, porque na verdade as coisas agora pouco importavam, que se pensasse depois, por enquanto era hora de estar a viver e ainda havia tanto para aprender. O nome dela era saudade, mas ela ainda não poderia saber.

10 janeiro 2009

at random

"Life shouldn't be random.... lonely misanthropic drug addicts should die in bus crashes and young do-gooders in love who get dragged out of their apartments in the middle of the night should walk away clean."
Dr. House

A verdade é que a vida deveria se assumir como ela é: absolutamente aleatória. Incapaz de achar sentido nos gestos, nas palavras, nas ações do outros fui cada vez mais percebendo esse lado da vida, como se ela fosse uma chave num apartamento vazio num final de tarde, como se a gente estivesse sempre se despedindo num aeroporto de nosso melhor amigo, ou como se estivéssemos num hospital a saber que nossa doença é rara, tratável mas incurável. Não deveria ser assim, mesmo porque somos capazes de pensar no melhor, mas infelizmente incapazes de viver o melhor. Não há felicidade.

09 janeiro 2009

outra face

Sacrifício no fundo é uma idéia cristã de que sofrer é bom e faz bem, enobrece e enaltece. Daí a gente resolve que não quer mais seguir esses conceitos e...descobre que é impossível, já era, fudeu total, não há a menor possibilidade de viver sem se sacrificar, sem tirar uma parte boa da gente e deixar ao léu, como bola fora do alcance, como bola dividida. Depois a gente percebe que todo sacrifício foi em vão e deixa tudo para lá, pois sente que nesse esforço fez tudo que lhe era possível fazer, enquanto que os outros sempre serão incapazes. Não consigo deixar de achar bonito levar um tapa e virar a outra face.

05 janeiro 2009

o que lhe faz bem

Estava vendo agora uma entrevista com Bibi Ferreira, talvez a maior atriz do teatro brasileiro pelo conjunto da obra. Ela disse que uma das coisas que aprendeu com seu pai é que quando alguém a seu lado está alheio, pensando em outra coisa, você deve deixa-lo, e emendou dizendo que isso é muito humilhante para qualquer um. Eu aprendi e concordei com ela, mas depois comecei a pensar que não há, e se há é raríssimo, alguém que esteja exatamente onde queira e com quem queira, muito pelo contrário, a vida é um todo complexo de desacertos e desencontros sem fim. Esses encontros são quase sempre provisórios e pedem mais coisas e é por isso que a esperança sempre aparece como uma das grandes dádivas da vida. Está-se, ama-se, é popular, bem vista, e que? Tudo passará e ficará só o que lhe faz bem.

04 janeiro 2009

T

- então quer dizer, Lori, que você está feliz?

Fazendo que sim com a cabeça ela sorriu, mas por um pequeno instante baixou o olhar de um jeito que nem ela mesma conseguiu perceber, era por isso que Ulisses precisava estar atento, porque alguém precisaria saber como sofrer. Quietos os dois por algum tempo e tudo ficou claro para ela: tudo só existia enquanto saía para o exterior, portanto tudo na vida deveria deixar pistas, deixar rastros e a felicidade dela deveria transbordar para o lado de fora para ser exatamente a felicidade que ela queria que tivesse, no entanto isso demandava algum esforço porque percebia, enfim, que se sentia completa na medida em que estava em constante mudança mas a ameaça de fixação dessa mudança já lhe causava um certo incômodo. Era a calmaria que ela sempre quisera, mas sem paz, porque paz há quando há tempestade, paz há quando o coração já está cheio de se encher, paz não é sair de casa, mas ter sempre casa onde estiver, e na vida de cada um de nós sempre poucos serão casas. Lori percebeu que voltaria.
Por isso, Lori depois de uma longa pausa que quase fez com que Ulisses se esquecesse da pergunta resolveu responder com a voz embargada e uma raiva sufocada que ela poucas vezes sentira:

- Estou, Ulisses. Estou bastante feliz...mas agora menos.

Ulisses entendeu o que ela havia dito, não teve resposta mas passou o resto da tarde a sentir-se mal, porque percebeu assim de susto que havia pensado sobre as mesmas coisas que ela.

03 janeiro 2009

volta

para guida

queria escrever poesia
sobre o espelho d´água
não queria nada mais
só a poesia e o espelho d´água

estou cansado e ao seu lado
e você como poesia, faz poesia pra mim?

02 janeiro 2009

bom 2009

2009 já começou, mas o ano novo ainda não. Ainda não voltei para casa e ainda não comecei a pensar em nada, chego aqui e começo a escrever para tentar começar a faze-lo. Aparentemente não há o que dizer, mas percebo que por trás de alguma coisa há e se o digo é porque vejo, pela primeira vez no ano que são assim que as coisas mudam: quando elas tendem a piorar e mudanças apesar de chatas servem para serem boas, para dar novos ares àquilo que se pensa.
Nesse ano pretendo trabalhar, pretendo tentar tomar um pouco de juízo e pretendo me emocionar mais que em 2008, que como ano foi muito melhor que 2007, que provou que na verdade eu sou exatamente aquilo que eu imagino que poderia ser, mas nao sei ser, por isso que em 2009 a idéia é fazer a síntese disso, e ter um ano que seja intenso como 2007 e realizador como 2008. Escrevo de outra cidade, porque o ar daqui é diferente, as moléculas do mundo também e por isso creio que tudo que sair será também. Esse post é mais meu que do blog, serve para mim, no mais estou indo embora. Bom 2009!