29 março 2010

a rima entrega

e a gente vai sempre vivendo e sentindo até onde aguenta, até onde a vista alcança, e sem tem alguma coisa que a gente guarda e não diz, alguma coisa que ainda não fiz, riscada a giz é porque não teve ainda um fim. Fim sem começo.

22 março 2010

19 março 2010

tudo bem...

Começa com um incômodo, um desconforto. Depois lateja, chacoalha, chama toda atenção pra si. Primeiro é um encanto, depois uma cegueira. A primeira mão quem dá é quem esbofeteia. Cão que ladra, sei deixar, arranca pedaço. Não há nenhum tipo de conforto, só aparências. Quem blefa ganha o pote, a melhor mão, direita ou esquerda, é sempre arrancada uma ou outra. Seu bicho de estimação vai morrer, e vai morrer feio, sofrendo, mas é sorte se morrer por si, talvez você possa ter que escolher mata-lo. A menina que você gosta, camarada, só acha que gosta de você e se gosta é por enquanto, se prepara que está chegando o pior. Não levou guarda-chuva, se fudeu, quem mandou não ouvir sua mãe, saca aquela nuvem? Pois é. Apostou, né? Agora vai ter que aguentar tirar foto com a camisa do botafogo, quem manda ser otário. Quis dar uma de espertão, a mulher te largou, achou que estava dominando a situação, mas que nada, era ela. Seus pais não entendem nada do que você diz não é porque você é intelectual, é porque eles tão cansados e porque você é burro e não sabe falar nada direito. Dormiu demais, agora aguenta, tá ficando velho e a vida tá passando. Bebeu demais, tá de ressaca, bem feito, ninguém manda encher a porra dos córneos, otário. Isso, perde metade do dia vendo futebol mermo, vai adiantar de nada, teu time tem chance pequena de ser campeão e se for você não ganha nada, vai zoar alguns caras chatos e depois vai continuar aí, parado. Acha que é muito, que eu devo parar?
É porque no fundo, não faz diferença falar bem ou falar mal. Esse texto, no fundo, é de uma grande esperança, de que tudo seja realmente assim como disse. Se for, podemos fazer o que quisermos e, por fim, sermos livres. Fazer certo, tentarmos ser felizes e se realizar são coisas difíceis demais. Só lembrar que a liberdade está em aceitarmos perder de vez em quando e que até aí tudo bem...

filmes

às vezes eu esqueço dos filmes que vi e não, então fiz uma lista da maioria dos assistidos em 2009. Vou postar aqui só pra não perder, ignorem esse post.
Grato!

linha de passe
valsa com bashir
os delírios de consumo de becky bloom
o visitante
che
gran torino
hiroshima, meu amor
saneamento básico, o filme
katyn
ps I love you
click
marat-sade
território restrito
o céu de suely
um ato de liberdade
x-men origens: wolverine
tony manero
a garota ideal
entre os muros da escola
budapeste
sociedade do espetáculo
sinedoque, nova iorque
um estranho no ninho
os falsários
muito gelo e dois dedos d'água
era uma vez
forrest gump
oito e meio
nina
repulsa ao sexo
os indomáveis
cães de aluguel
I clown
poderoso chefão
sindicato dos ladrões
zelig
vertigo - um corpo q cai
butch cassidy and the sundance kid
os bons companheiros
mensageiro do diabo
querô
viridiana
scarface
veludo azul
sunset boulevard
trama internacional
anti-héroi americano
tinha que ser você
gata em teto de zinco quente
se beber, não case
se eu fosse você 2
veronika decide morrer
nome próprio
os normais 2
a onda
anticristo
os sete samurais
juízo final
amantes
boulevard do crime
a garota de mônaco
batman - o cavaleiro das trevas
reine sobre mim
touro indomável
outubro
a bela junie
o mágico de oz
em paris
o assassinato de trotsky
annie hall
a última tentação de cristo
o sequestro do metrô
um bonde chamado desejo
a mulher invisível
bastardos inglórios
robin hood - príncipe dos ladrões
rosa púrpura do cairo
diário proibido
rosencrantz e guildenstern estão mortos
a primeira noite de um homem

16 março 2010

o grito

O dia começou com um grito. Havia acabado de amanhecer, embora os primeiros passos ainda não tivessem sido dados e os galos hoje ainda não tivessem cantado, embora o céu ainda não fosse vermelho nem amarelado, mas entre azul e cinza, mesmo que já possuindo algumas luzes. As pessoas em seus quartos eram entre seis ou sete pessoas distribuídas em quatro quartos não emitiam sons, dormiam pesado, talvez sonhassem pesado, pois sonho, mesmo quando bom, nunca é leve. Algumas tinham ressaca da noite anterior e pouco se moviam, outras já mais inquietas e diurnas, estavam prestes a acordar, como se o mundo tivesse um dispositivo de lhes avisar e trazer-lhes junto para o sol.

A cozinha estava vazia sem gotas a cair pela torneira, e todas as baratas ao preverem o dia já haviam voltado para seus esconderijos. Na sala, na mesa e no chão, umas latas de cerveja da noite anterior, uns copos e cinzeiros sujos espalhados, no parapeito da janela, em cima da televisão, mais nada, a não ser uma mancha vermelha, talvez de vinho, no chão. Mancha que vem do latim e tem a mesma origem das palavras mácula e malha. Então era no chão a mancha vermelha, na parede uma imagem de santa: maria imaculada; e lá fora, no quintal a dormir estariam os animais: as galinhas, os porcos e as vacas. Todas malhadas.

E aí o grito veio. Rompeu as barreiras de espaço, as paredes, os corredores, ecoou no banheiro e mexeu com o dia. Até o sol, depois dele mandou pra cá um forte raio de calor e luz. Os galos começaram a cantar, os cavalos a relinchar e os porcos eufóricos acabaram por chamar a atenção dos cachorros que resolveram latir pra cima deles. Depois, então , bem depois, as pessoas começaram a sair dos quartos, umas ajeitando um roupão, outras sem conseguir abrir direito os olhos, saíam coçando-os mais que conseguindo olhar, outras iam batendo de porta em porta querendo saber o que havia acontecido, se todos estavam bem. Do último quarto, saiu uma moça loira mancando e vestindo um chinelo azul, todos a olharam, mas ela estava com a mesma cara de todos e perguntando o que havia acontecido. Assim, todos levantaram e foram para a sala: um casal de namorados, dois amigos, a moça, e um casal de adultos, donos da casa. Por alguns minutos falaram do que ouviram, no entanto, com o tempo começaram a duvidar daquele grito que acordara a casa, o dia, os animais, todos, mas não existia, não havia ninguém que pudesse ou fizesse o grito ter saído, não havia sequer um eco, um resquício e agora até as testemunhas já estavam a vacilar, a duvidar de que tivessem realmente ouvido aquele som.

Então, aos poucos, quase como se não tivesse vindo, o grito se foi. Silencioso e plácido, acalentador e pacífico, se retirou da vida das pessoas que agora juntas tomavam o café da manhã, enquanto viam juntas o sol nascer e o dia clarear. Depois arrumaram as coisas da noite anterior e segundo a segundo foram retomando a vida novamente, seus hábitos, suas práticas, mas agora era diferente, havia tido um grito que se não veio do céu, ninguém mais pode dizer de onde veio. E a mancha ficou.

15 março 2010

cegueira

Eu estava cego. Pela primeira vez eu estava cego. Andava me apoiando pelos muros, grades e quinas, só dava alguns passos quando alguém me ajudava, só atravessava a rua quando quando confiava na voz de quem me guiava. Eu podia ver, mas estava cego. É que quando eu focava muito uma coisa e achava que era aquela coisa que coloriria minha vida, eu cegava, começava a perder a lucidez, perdia a amplitude, perdia a capacidade de discernir. Eu estava cego e não conseguia dar a volta para olhar o mundo. Fazia um tremendo sol e eu não via, porque eu estava cego.

09 março 2010

saudades

"saudade, torrente de paixão
emoção diferente que aniquila
a vida da gente
uma dor que não sei de onde vem"

Sempre achei essa música linda e hoje senti saudades, mas saudades diferentes que nunca havia sentido. Saudade de pipoca, de futebol, de ficar todo suado e com o corpo exausto que a cabeça não pensa em nada. Saudade de acordar cedo pra ir pra minha escola, no frio perto de casa, e reclamar de acordar cedo e de dormir na aula, ou fugir do professor chato. Saudade de ser muito jovem e agir feito criança, de ter vontade de desenhar na parede, de comer algodão doce porque estou feliz. Saudade do meu pai me esperando na saída da escola e de ter uma certa vergonha disso, saudade da primeira cerveja e do gosto dela, saudade de ter alguns sentimentos pela primeira vez, de ter muitas coisas pela primeira vez. Saudade de errar feio, de errar com um talento um impressionante, saudade de cometer os melhores erros do mundo. Saudade de poder ser exagerado sem sofrer, de não precisar encher a cara vez em quando, de não ter amizades de protocolo, saudades de achar ficar em casa bom porque me sinto protegido, saudade de me apaixonar loucamente e ser um ímbecil todos os momentos em que penso na pessoa. É, hoje tá estranho...

08 março 2010

haikai

o amor pode ser uma coisa boa
coisa boa sinto que o amor não é
mas falta ser boa a coisa boa que o amor é.

06 março 2010

buraco de sábado

Entre a cura da ressaca de sexta e a noite de sábado existe um buraco. Não é exatamente entre a cura da ressaca, é uma parte daquela tarde, depois que a gente almoça e já se sente um pouco melhor, o corpo já volta ao normal, mas a cabeça demora um pouco. Primeiro a gente começa a pensar na noite anterior e percebe que ela não foi nada diferente de muitas outras, depois pensa como ela poderia ter sido, o que poderia ter feito ela ser melhor, depois a gente pensa que não adianta de nada tentar mudar alguma coisa porque tudo que fazemos é escolha nossa, e por mais que se diga que coisas acontecem acredito que é sempre escolha nossa. À parte: por que um sentimento é uma escolha nossa? Justamente porque não é escolha, a gente sabe que vai sentir algum tipo de afeição, ou seja lá como se chame, logo podemos escolher a hora e a pessoa, nos deixar envolver ou não. Voltando, daí pensa o que a gente pode fazer pra que nossa próxima noite seja melhor, ou algo que a gente não fez ontem ou que mesmo fazendo gostaria de repetir. Tudo isso é tão randômico que fica impossível. A verdade é que a gente escolhe se encontrar pela noite e assim aceita tudo que ela tem a nos dar, por isso ela é tão importante em nossa vida e tão difícil de largar. É desse sentimento de tarde que passo agora e refletindo mais percebo que não quero muita coisa, quero só que hoje seja o dia em que algum tipo de alegria reine.

05 março 2010

um filme e uma noite

Ligou a televisão para assistir um filme. Assistiu metade e levantou para buscar uma coca-cola enquanto refletia se era bom ou ruim o que via; pois tinha logo que achar um veredito. Já haviam-no recomendado que visse esse filme algumas vezes, mas havia dito que não gostava do gênero e o ator principal era um canastrão. De novo em frente à tv foi recebendo passivamente as informações daquela narrativa: o ritmo, a pulsação, a trilha sonora, a força e a forma dos diálogos, o excesso de objetos, a sensação de fobia, podia sentir até no fundo alguma coisa de cheiro. Absorvia tudo e agora já absorto conseguia dar alguns sorrisos de lado, sorriso ainda intelectual, e sentir algum tipo de empatia pelo protagonista. Na verdade, começava a se juntar a personagem principal e via nele características que poderiam muito bem ser suas se assim o quisesse. O filme acaba, ele levanta, leva o copo de coca até a cozinha, entra na internet e deixa o msn ligado, algumas vezes falam com ele enquanto ele separa a roupa pra sair, mas ele responde apenas monossilabicamente, talvez como num jeito de não se prender aos fatos ou de não se desprender do filme. Fecha a porta do quarto e fuma um cigarro olhando pela janela, a cabeça está tranquila, sente-se confortável. Toma banho e se desconecta da internet.
Na rua é o último a chegar, pois gosta de criar lacunas naquilo em que se pode prever dele. Começa tímido sem falar muito, mas depois de algumas cervejas se junta a um grupo pequeno e trava conversas batalhas, alguns momentos se solta e se permite fazer piadas ou trocar um elogio, até que a noite se extende até momentos que não consegue narrar. Num dado momento, no banheiro, pára e pensa: "até que não sou tão diferente daquele personagem.", mas lava o rosto na pia e por fim conclui: "nada, aquele personagem que ainda tem muita coisa de mim." E volta para a noite com um novo e renovado espírito. Sabia que tudo correria bem.

01 março 2010

sentimento breve

O que mais me incomoda no mundo é o eterno desarranjo entre palavra e vida. Há alguma coisa bonita, não importa se é envolvimento, amor, ficada, o cacete, não importa, e está tudo bem demais, até que alguém resolve pensar sobre aquilo, resolve transformar em palavra, aí vai tudo por água abaixo, porque um envolvimento, um amor, uma ficada não resiste a uma palavra. Quanto mais se diz, mais se destrói, quando mais se tenta entender pior será. Então a gente entende que toda despedida nada mais é que a hora da palavra, o verdadeiro momento que ela se concretiza, onde não há mais nada, só um carinho que a gente esconde e guarda. O resto continua sendo silêncio e os beijos a gente guarda pra mais tarde, pra depois, pra outra pessoa. Até que fica só uma saudade, mas um sentimento saudade, uma coisa sem palavras de que tudo poderia ter sido diferente, melhor, como se qualquer erro fosse só um tempero e como se qualquer breve amor durasse pra sempre dentro de nós.