24 dezembro 2006

natal

Existe na vida alguma coisa ligada aos cheiros. Mais do que os outros sentidos, sinto que as vezes a vida é muito mais ligada a eles. Essa constatação me veio e logo depois algo me iluminou dizendo que o olfato é o sentido mais próximo do sentimento. Ele é quase alguma coisa, é incerto. Ele não atesta nem confirma nada, mas faz julgamentos que nos acompanham por todo o resto da vida.

Hoje é véspera de natal, e é dia de cheiros. Dia de sentimentos. A rabanada que vai se fazendo, a canela e o açúcar, algumas frutas estranhas que só vejo no natal e tenho nojo de me aproximar, as castanhas, os panetones. Conforme anoitece o cheio de peru, chester, tender. Parece-me que isolados, esses cheiros não seriam sentimentos, mas juntos me fazem lembrar que é natal.

Jesus está nascendo para fazer um monte de coisas e morrer na cruz. Sinceramente, eu não acho nada de interessante na vida dele, prendo-me mais as sutilezas. A primeira coisa que acho que não devia ser ignorada sobre Jesus são suas palavras: tudo que ele diz nos deveria movimentar, nos fomentar, não levando a idolatria mas a reflexão. E depois, o que mais me leva a ele são as coisas que permeiam seu nascimento. Tantas coisas, tantos detalhes que levaram a ele ter o seu nascimento, que isso me movimenta a uma coisa chamada luz. A vida é uma luz, e uma vida nascente é a própria luz. Por isso, Jesus nasce, porque ele é luz. Por fim, diria eu que a vida deveria ser de luz, não de Jesus, ou qualquer outra luz, mas A LUZ.

Ou uma luz que dure muito, ou um cheiro que passe logo.

05 dezembro 2006

O meu show de Truman




Não quero demorar a escrever. Quero deixar o meu pensamento livre para ser poético e me abster da racionalidade que tanto vem me tomando nos últimos tempos. Acabei de ver “O show de Truman”, estrelado por Jim Carey. Sim, eu ainda não tinha assistido ao filme, e quando resolvo assistir saio assim: outro.


A força que me impulsiona agora é a de ser meu personagem principal. Será que eu sou? A vida vai te levando de ação em ação, de cena em cena e de capítulo em capítulo, tanto que se você resolver transformar tudo em filme, você perde a vida, se você transformar tudo em vida, perde a poesia, e como viver? Acredito no nosso impulso criador de todos os dias, acredita nessa divindade interna, como se assim como Truman, tivéssemos um diretor/deus, só que dentro de nós, e que não escutamos muito ele, queremos contraria-lo. O diretor sabe da cena, nós não, daí num certo capítulo 10.909 resolvemos por um simples traço de motivo que nossa vida não é a nossa vida, daí pegamos o guidom e achamos que já sabe tudo do mundo e vai navegar por aí. O mundo nos empurra de volta e fazemos força e vamos e vamos, até que chegamos na verdade.


Nós não somos felizes. Truman era, mas não seu pai, não sua mãe, não sua esposa, muito menos Sylvia, seu amor desaparecido. Todos temos um amor fracassado, porquê raios chorar pelo de Truman? Ele era feliz nesse admirável mundo novo, as câmeras sabiam muito bem dirigir a cena, porém ele resolve atravessar o muro. Dá-nos um bom dia, boa tarde e boa noite, vira-nos as costas e atravessa a porta de saída. Boa sorte, Truman. Alguns segundos depois, mudamos de canal.


Luiz Antonio Ribeiro
06/12/06

01 dezembro 2006

outro

"Brigar é estar junto ao contrário.
Já separar-se é mais sério:
é tentar tirar a parte do outro que mora na gente."

Luiz Antonio Ribeiro
29/11/04