09 maio 2006

Amor s

Amor s. m.,

viva afeição que nos impele para o objeto dos nossos desejos;
inclinação da alma e do coração;
objeto da nossa afeição;
paixão;
afeto;
inclinação exclusiva;

Não, o dicionário não entende de amor. A denotação não tem a menor capacidade de formatar tal sentimento, e mesmo que tenha, ou que a tente, como aí em cima, a gente lê e na hora pensa: "não...isso não é amor." É porque amor é isso, mas também é muito mais. Ficar meia hora em silêncio, tocando de leve o queixo da pessoa amada, isso é amor e não está no dicionário. Ir dormir duas horas mais cedo que o normal, só para amanhã chegar mais rápido, sonhar com a pessoa, acordar uma hora mais cedo do que devia para o encontro e reclamar que ainda falta muito: isso é amor. Amor é aquela coisa que está entre o que a gente conhece e o que a gente não entende. Sabe quando a gente sabe exatamente aquilo que é, e aquilo que sente e aquilo que dói, daí vem alguém e pergunta: "que foi?" e faltam palavras? O amor está aí também. Porque palavra é linguagem, e linguagem é código, como código não comporta tudo que a gente tem dentro. Deus e toda definição dele é uma inutilidade, é uma inverdade máxima e o completo e total afastamento de deus. Falso sim, assim como o amor, mas muitas vezes vivo, forte e presente, porque no fundo, tudo se resume em a gente ser a gente mesmo. Amando ou não, com deus ou não.

Inclinação da alma e do coração; Minha alma se inclina por alguém? E meu coração? As formas são temporais, físicas, e a inclinação da alma e do coração requer viver em estado de paraíso, em estado de céu, para que assim, não se tenha o temor do tempo e do vento e da maré. O amor requer isso: uma certa quantidade de paz, para não cair em outros sentimentos que, de menos importantes, gritam muito mais dentro da gente. Inclinação de alma e coração é um pouco amor sim, mas é tão pouco amor. O amor está na sutileza dessa inclinação, está na sutileza da alma e na entrega do coração. Está no afeto, na gentileza e no carinho, nunca na pergunta vazia, nem na pergunta maldosa, mas na pergunta curiosa, daquele que quer virar ela, estar ela, ser ela. Virar um, o famoso clichê de "transformar-se na coisa amada, por virtude do muito imaginar".

A dúvida talvez seja, e o complexo, e o medo, e o a dor no rim esquerdo e a dor no pescoço de um beijo mal dado que a gente não consegue largar, que o amor não está nem perto de chegar a ser um pontinha de verdade. Ele não está em nenhuma dessas linhas, e depois de aprender a escrever, e de pensar tanto, e acima de tudo, amar tanto, para o bem e a para o mal, chegar a conclusão de que se está longe, bem longe do amor. Mesmo amando tanto e tão bem.

10/05/06
Luiz Antonio Ribeiro