17 maio 2009

a sala com meu nome colado na porta

Olhei meu nome colado na porta e entrei. Aquela sala deve ter sido separada para mim, tinha uma cadeira e uma mesa, então resolvi sentar e esperar. Meu celular estava sem sinal, meus bolsos não estavam muito cheios e minha blusa de malha me protegia do vento frio que vinha da janela. Levantei-me, fui até ela e não vi grande coisa, fechei um pouco a abertura e encostei a cortina para que viesse menos luz na minha cara. Acho que fiquei lá por algumas horas, como ninguém nem nada apareceu, me levantei e saí. Devo ter entrar na sala errada, mas não, na porta ainda estava colado meu nome. Talvez aquela sala fosse exatamente a sala feita especialmente pra mim.

13 maio 2009

sobre a música

Uma das maiores falácias de hoje em dia é essa idéia de que música é universal. No cu que é. Junto a isso também vem aqueles que dizem que música é questão de gosto, porque não é. Música é coisa de ouvido acostumado, de ouvido social, ouvido cultural, ouvido familiar, questão de múltiplos ouvidos, e não adianta tentar se fingir de dumbo, de que tem um ouvido para tudo, porque na hora que entrar em casa, sozinho, vai botar aquele som que o ouvido está acostumado.
Essa coisa de dizer que a música é universal é uma forma dos grandes nomes transformarem numa coisa natural que a britney spears seja melhor que a gretchen, ou que a o rock inglês pode ser tão bom quanto o rock feito do lado de casa. O próximo passo é gastar mais dinheiro produzindo a imagem, o produto, a atitude e talvez um pouco também o som da banda e transforma-la num espetáculo. É a glamourização do exótico, só que de uma maneira muito rentável absorvida por todos e usada no cotidiano. É o espetáculo do videoclip. E essa regra só funciona para lá, porque quando é feita no terceiro mundo é vendida como especiaria, estranha e serve para debates e putaria, não para muito mais.
É muito simples, nenhum de nós consegue ouvir um indiano tocando música indiana por mais de dez minutos na televisão. Só o fazemos, se muito, se formos a um concerto de um deles que tenha vindo para cá, e geralmente eles vêm porque de alguma forma já misturam elementos de nossa cultura na música dele.
O problema não é ouvirem música americana ou inglesa, não estou nem aí, o problema é esse discurso pseudo-liberal que serve para, na verdade, continuar fazendo uma coisa só e não democratizando os meios de comunicação como deveria. A própria internet que deveria ser pra democratizar mantém essa forma de separação, de cisão, de corte à faca, pois só a utilizamos para fazer mais do mesmo, mas isso é um outro tema.

12 maio 2009

ode ao passado


Se pensarmos na vida como um eterno presente, como muitos fazem questão de pensar, estaremos sendo estúpidos, porque a verdade é que o que temos de melhor são nossas lembranças. Melhores até que as promessas de futuro, são as lembranças do passado. O presente é sempre ruim porque está controlando e sendo controlado, está interagindo com várias forças ao mesmo tempo e estamos sempre tentando coisas e construindo coisas. O futuro é uma mentira, uma falsidade que inventaram pra manter a gente comprando, gastando e achando que é capaz de ir para algum lugar. Já o passado não, é o lugar onde não existe a mentira do futuro, nem a pressão do presente, ele é perfeito do jeito que foi, até momentos embaraçosos vistos da frente são melhores, são engraçados e nos compõe e tudo aquilo que fez o que a gente é agora deve ser visto com toda a gratidão. É no passado que está nossa história e o que a gente quis dela, é no passado que estão nossas besteiras superadas e nossas desculpas pedidas, nossas ressacas curadas. No passado está o que a gente tem de melhor e o que superamos do pior. Viva ele...

pirandello

Acabei de ler "seis personagens a procura de um autor" do Pirandello e ainda estou tentando compreeender. A forma como as coisas na obra se sucedem, me parece que representadas tenderiam ao exagero, a um excesso de expressividade por parte dos atores. Eu fiquei com a sensação de que todas as personagens deveriam ser melancólicas, assim como os discursos de um pierrot no jardim ao reclamar por sua namorada colombina.
A maneira como as camadas de ficção se compõe também ainda não me foram digeridas. Ao contrário de Beckett, onde tudo se volta para si mesmo, a impressão que tenho é que em Pirandello tudo se desdobra para fora, mas não é um desdobramento simplesmente, há um desdobramento que altera o anterior, ou melhor, reformula o anterior, repensa ele, insere dados a ele, então a narrativa avança pelas camadas, pelos discursos indiretos, pelas citações, pela composição da narrativa e não por ela própria. Amanhã pretendo escrever mais, são 2:54 da manhã e o sono bateu...

10 maio 2009

3

- Você tá bem?
- Tô. Eu tô bem.

Após um longo silêncio.

- É que...
- O que?
- Nada.

Outro silêncio. Respiram fundo.

- É que tá demorando tanto pra passar.

Quase sorriem.

08 maio 2009

pedra

tudo resiste a mim
a mim e a meu violão cansado
sou eu que não mais resisto a nada
tudo que vem de fora me atinge