26 fevereiro 2010

sexta

É sexta-feira e antes de sair é tudo muito maneiro. As músicas que rolam no som são diferentes das que eu ouço normalmente, o clima de casa também, o jornal nacional parece não ter o mesmo peso ou importância e o mau humor do meu pai me traz uma sensação de liberdade: uma que vira em poucos momentos. Pensando nas sextas-feiras é que muita gente consegue viver, elas são feitas de um conteúdo peculiar, como uma lagoa ou uma poça d´água que se diferem de um rio. Ela é o primeiro dia do final de semana, então tem um toque especial de alegria, enquanto que o sábado já lembra terça-feira de carnaval. E eu vou escrevendo assim loucamente, conforme meus dedos correm porque não quero perder um momento, nem com reflexões nem com bobeira, afinal de contas, é sexta-feira (rimei).

24 fevereiro 2010

quando chove

Algumas coisas são matemáticas. Há quem seja cético até quanto a isso, mas não creio. Uma chuva cai exatamente na hora que ela tem que cair, ela se anuncia várias vezes, se emenda, ameaça, chuvisca e para, mas nunca cai nem um segundo mais tarde do que deveria. Tanto que, pegar chuva ou não nada tem a ver com sorte, mas sobretudo com perceber a matemática que há nela e entender que alguma coisa na natureza vence, não há como fugir.
Algumas coisas são sentimentos. Há quem seja cético quanto a isso, mas não creio. Uma chuva cai exatamente para concretizar, materializar algo que está anuviando nossa cabeça. Alguma coisa ainda meio difusa, que apareceu somente como lampejos em nossa cabeça viram fatos com ela. É batata, choveu a gente percebe o que estava querendo entender. Um aniversário que chove, uma tarde que chove, um jogo fatídico de futebol, um fim de romance. A chuva vem sempre nos mostrar aquilo que todos já estão a sentir. Chove por dentro e por fora, mesmo sem lágrimas.
Algumas coisas são racionais. Há quem seja cético até quanto a isso, mas não creio. Uma chuva por exemplo é simplesmente a confluência de nuvens que se carregam em determinado ponto e vão cair numa hora que só a ciência prevê. É a ciência que se antecipa à natureza e a engole, como se a natureza fosse mero objeto e a chuva servisse pra provar a supremacia da razão.
Pra mim, a chuva é só o que cai do céu. Quando chove há festa, por isso se chover a gente dança toró, se fizer sol a gente feito um só.

22 fevereiro 2010

sem escalas

Há pouco tempo vi o filme "amor sem escalas". A pseudo comédia romântica conduzida de forma leve, mas dramática traz a inversão do papel clichê de homem-livre x mulher-romântica. Só isso já proporciona um deslocamento pro filme que até então não havia me dado conta, mas que me veio hoje, mas reflexões a parte, uma frase me chamou atenção dentre as outras do filme. Em algum momento alguém pergunta: "nos momentos mais marcantes da sua vida você estava acompanhado ou sozinho?"
Pensei nisso e juro que sou incapaz de responder. Acompanhado sou sempre mais intenso, mais feliz, mas ao mesmo tempo esses momentos são fugidios, escapam por mim tanto que fico dias e dias a pensar neles e tentar entender o que foi que aconteceu, enquanto que sozinho consigo refletir, pensar, repassar cada momento e assim viver e reviver os momentos agora com minha dose de razão e minha dose de emoção, consigo enfim entender o que se passa comigo. Geralmente tiro três conclusões: a impressão que ficou, o que minha razão diz e o que minha emoção diz, isso quando não há variáveis entre essas e issos e multiplica. Daí vira um confusão danada e não entendo nada. É a hora que preciso viver de novo e sentir menos saudades.É como se eu tivesse que viver, às vezes, sem rodas essas escalas.

19 fevereiro 2010

queria que pudesse entender...

Passei essa tarde nublada pensando um pouco. Queria entender quais são os momentos que marcam a nossa vida, se são aqueles intensos de extrema alegria, se são os tristes - aqueles que criam uma crosta grande e pesada que carregamos pra sempre -, ou se são aqueles simples - belos, mas simples - que passam rápido.
Percebi que não há regra, cada um há de ter momentos aleatórios que marcam, mas percebi também que os mais simples, esses belos, transparentes, que fluem como riacho ou pousam como lagoas são os que mais fazem falta, porque são neles que carregamos nossas baterias, que percebemos que precisamos de pouco pra viver, mas ao mesmo tempo, também percebi que esses momentos são os mais trágicos porque geralmente tangenciam uma espécie de fim. De tão únicos que eles são, se tornam linhas que se desfazem e tornam a situação complexa novamente.
Tinha mais a dizer, mas por enquanto é só isso. A felicidade ainda reina.

17 fevereiro 2010

o carnaval

O carnaval é pra mim uma das coisas mais difíceis de se falar, porque costumo falar de sutilezas e nada ali é sutil, muito pelo contrário, é brutal, é exagerado, é câmara de gás, calor, suor, som e sol no último nível. A sensação que eu tenho é que todos vivem pensando que se o ano todo fosse assim, elas seriam felizes, então elas se fazem felizes, se tornam felizes. Quem sabe a felicidade não seja apenas uma questão de ultrapassar uma linha tênue entre o que se é e o que se pode ser, ou o que pontencialmente já se é, mas que não se vive?
Eu no carnaval não testo meus limites, eu ultrapasso todos logo. Transbordo. Testar limites é meio que os por a prova e não há o que se ser provado no carnaval, a não a cerveja ou o novo passo de dança. Testar é por em cheque, carnaval é o oposto disso, é esquecer os jogos, o cheque e o choque e é preciso força, muita força pra aguentar a barra, principalmente que chega uma hora que vem tudo cobrar a gente, primeiro porque não podemos ser assim, depois porque achamos que não deveríamos ter sido assim e por fim porque percebemos que somos tão assim e que sendo como se é, nesse estado, geralmente muitas coisas dão errado.
Meu carnaval foi tão feliz que eu resolvi filosofar seriamente, porque contar sobre ele é uma coisa que deve ser evitada.

09 fevereiro 2010

filosofei no msn

ziul diz:
talvez
uhauhauhauhhuaa
é meio complexo de édipo mesmo
mas multiplicado
a gente vai gostando sempre da primeira referencia
a gente gosta muitas vezes da mesma pessoa em pessoas diferentes
filosofei

08 fevereiro 2010

menino devagar

"só peço a você um favor, se puder
não me esqueça num canto qualquer"
o caderno - Toquinho

É sobre algumas coisas meio que singelas que é mais bonito falar. De um caderno, de uma tarde, de um sorvete pra descansar do calor. Muito comum coisas assim estarem nas minhas letras de música, acho que é porque elas materializam muito bem sentimentos e sensações, ou seja, corpo e espírito. Uma delas que fiz faz tempo chamada "menino devagar", com melodia de Francisco Ferraz diz:

"A pele clara como sol de primavera
o rosto dela me lembrava o verão
e os seus passos eu seguia atravessando a avenida
e descansava com um suco de limão"

São algumas imagens, mas que me lembram exatamente de uma tarde, que não verdade não existiu, ou ainda não existiu ou que talvez nem venha a existir, mas representa essa sensação bastante forte. É dessas singelezas que fazem a alegria e 2010 até agora tem sido assim. Essa música, só pra saber, termina assim:

"Como não ser uma lembrança
o seu menino, a esperança
que devagar vai procurar um sonho bom..."

04 fevereiro 2010

colheita feliz



Uma vez um rei disse que não havia nada novo debaixo do sol. É difícil acreditar que reis digam algo que não seja pelo interesse particular de seu reinado, e portanto, principalmente tendo em vista a manutenção do seu trono Haver coisas novas, então, era ameaçador. Ele vivia, torcia e dizia, como numa religião que nos sete cantos do mundo não havia novidades por debaixo do sol.
É complicado, porque há muito que dizer sobre isso, mas o que mais me chama atenção é que numa frase tão simples e que se repete por aí esteja tão formulado, carimbado, tatuado uma série de idéias, formas de convivência em sociedade que só servem para reiterar problemas e explorações. Assim, há que se ter alguém que diga algo, há quem o repita, há quem o reitere, há quem o siga e principalmente há que o afirme e o transforme em verdade. Há o movimento claro da exploração, inclusive o espaço para que se duvide e discorde, entretanto é exatamente em todo esse equilíbrio entre as forças que não disputam, mas coexistem numa opressão mascarada, que tudo funciona. Isso chega a tal ponto que se houver alguma coisa nova debaixo do sol, esta será automaticamente apontada e ou será incorporada para repetição como um novo velho ou um novo zero, ou será excluída e dizimada. Esse rei que diz que não há novidade é mais um ditador, um imperialista, um facista. E todos que estão debaixo do sol somos nós a trabalhar pelo velho e o sol é o velho deus que nos observa, como quem joga conosco colheita feliz.

03 fevereiro 2010

o caminho

O caminho de casa até a rua era sinuoso: passava por escadas, becos, entradas, casas vizinhas, um pequeno riacho-esgoto, algumas crianças a brincar, uma ponte em falso, alguns caminhões de obra e uma descida íngreme, até que culminava na movimentada rua. O rapaz, discreto, enquanto descia o caminho de sua casa, tentava não ser percebido, andava de cabeça meio baixa, ombro curvado, mochila nas costas sem fazer ruídos; pisava delicado, como se estive tentando não acordar a vizinhança, muito embora fosse ela inteira que fizesse todos os ruídos e não ele. O cinto mal ajustado incomodava e a camisa pra dentro da calça embora parecesse bonita, lembrava ele de que estaria por cima da cueca e que sem as calças a cena seria engraçada e até grotesca. Tinha vergonha do que era e principalmente do que era e estava escondido. O problema era: porque ter vergonha do que já escondia? Não sabia. Por isso que os becos, o riacho, a ponte, os caminhões e o cinto faziam tanto parte do que ele era e ali ele não queria ser visto. Era também aquilo tudo e gostaria de se misturar.
Chegou na movimentada rua e viu os faróis piscando, as buzinas tocando, as pessoas correndo, andando, falando ao celular, pouco entre si e muitos vendedores tentando ganhar a vida. Ali ninguém lhe percebia, era o oposto de tudo, podia andar altivo, forte, feliz, por mais que estivesse mal se misturava no movimento o que lhe dava a sensação de felicidade, tudo isso porque aquilo não lhe pertencia, logo poderia ser dele. Ou seja, o que não era dele estava em suas mãos como nunca enquanto que o que controlava não podia jamais ser seu, ou por fim sair fo controle. E nesse equilíbrio ele seguia pela cidade rumo ao trabalho. Talvez vá vencer.

02 fevereiro 2010

sempre estético

É absurdamente complicado e justamente por isso demorei alguns dias pra vir escrever aquilo que na minha cabeça já se formara. Eu prezo tanto, inclusive nos últimos textos sobre o lado estético das coisas, da escrita, da vida e da forma como quase na totalidade das vezes nos relacionamos com o lado estético do mundo, enquanto que aquilo que não nos apraz esteticamente fica de lado, causa até um certo asco, nojo mesmo, algo repele aquilo de nós.
Daí, daííííí entramos pra falar da vida pessoal, relacionamentos e tento recolocar o mesmo fato, mas a partir daí ferrou. Vou acabar pegando num monte de hipocrisias, porque a maioria diz que "não repara no exterior na hora de se envolver", mas elas dizem isso justamente pelo fato que não gostariam que só fossem olhadas assim, e principalmente porque elas precisam se defender da mesquinhez (ou sinceridade) que é assumir uma animalidade nossa. Preza-se tanto pela razão, que ser estético é quase ser animal. O problema é que isso cria uma espécie de nulidade, um zero-esforço que cada pessoa tem de fazer quando se relacionar com alguém, pois está tudo entregue ao puramente contato físico. Isso é um problemas, mas sempre há de ser assim...

01 fevereiro 2010

zerada.

sempre que um novo sorriso desponta, o meu também o fará. sempre que houver uma nova vida, pura e bela nascendo, a minha também renascerá. Vivo pela vida dos outros, pela felicidade, pelos amores e pelas realizações deles, não que eu não viva, mas é que ao narrar tudo é tão mais estético, enquanto que a vida real é sempre tão errada, zerada, amarga, como se nada nunca fosse ser realmente bom.