17 agosto 2011

dor de barriga

Minha barriga dói. Tenho medo que seja apêndice, mas sei que não é. Tenho medo que seja torção de testículo, tudo indica que não é, mas como já foi uma vez...Jogo no google: "dor aguda na barriga" e eles me diagnosticam com várias doenças. Leio todas, sou hipocondríaco. Ela só para de doer quando estou sentado. São 4:47 da manhã e nada. Não acordo cedo, achei que teria uma noite de descanso, mas não. Durante a noite tudo fica estranho. Dói mais, dor mais longa, quase eterna.

15 agosto 2011

sexo e marketing

“A liberdade sexual se transformou em marketing comportamental”, disse Luiz Felipe Pondé agora pouco no Roda Viva. Ele ficou muito conhecido quando na eleição do Papa Bento XVI pareceu ter ficado satisfeito com a escolha. Na verdade, ele acaba de dizer que Bento havia feito na década de 80 uma crítica à Teologia da Libertação que cairia ou no marxismo, abandonando a ideia de Deus, ou na auto-ajuda barata e, nesse sentido, apoiava a opinião do Papa. Bom, assim sendo, eu também apoio.
Mas o que ficou na minha cabeça foi a frase sobre a liberdade sexual. Segundo ele, a conquista da década de 60, resultou em liberdade e insatisfação. A necessidade de alta performance social, política, atlética, intelectual do ser humano atual culmina em uma tentativa absurda de se mostrar absolutamente livre em relação ao sexo, e se configura no enclausuramento do desejo e na obrigatoriedade de coitos excessivos com performances pernósticas, históricas de um gozo infinito.
Essa prisão que é a obrigação da performance e mais, do marketing que se faz da performance que deve se evidenciar em vestígios corpóreos, torna o ser humano em um ser sexualmente biônico, uma vez que os defeitos perdoados na vida cotidiana são imperdoáveis na atividade sexual, correndo o risco de se ser conhecido como careta, antiquado e conservador.
É preciso olhar melhor para a questão do marketing. O sexo é uma questão pública. É preciso que se veja, no corpo e nas palavras, que aquele ser é o mais perfeito para a atividade sexual e, qualquer outro tipo pode ser esmagado por esse corpo gigante e sexualizado.
Pondé diz que, para o sexo, o pecado faz melhor que a liberdade e que, justamente por isso, a Idade Média era a época em que mais se praticava sexo. Percebo a comparação que ele faz: é como se atualmente o ser humano fizesse uma auto-masturbação a dois, onde se chega ao nível máximo, da velocidade cinco, como se o outro fosse substituído por uma máquina que não lhe permite escapar.
O sexo, aquele tântrico do dia inteiro que começava no primeiro olhar, no primeiro toque e nos beijso infinitos, aquele do kama sutra que buscava o prazer em tudo que contém o corpo do outro, parece ter morrido. É preciso fazer sexo como se consome, até o dia em que vamos finalmente nos tornar oswaldianos e vamos comer a nós próprios.

14 agosto 2011

tão banal

Sempre fui adepto à breguices. A tragédia que é a vida cotidiana me fascina, justamente porque nada parece se destacar de uma mistura bruta de pequenos fatos sem que haja qualquer hierarquia entre eles. É tudo igual, desde uma nota dez de uma prova até a espera de um ônibus. Eu gostaria que as coisas fossem épicas, que todos os gestos lembrassem um exército de gladiadores invadindo uma cidade, pilhando tudo, pulando as regras e tornando o comum em história. As pequenas narrativas não fascinam, enfastiam apenas.
E aí que tudo tem um gosto de pão dormido e parece repetitivo. É como o Benjamin diz, a grande catástrofe é que nada acontece. Esse é o maior problema. Claro que uma mente analítico-clichê diria que se a vida fosse feita de grandes momentos não haveriam tantos grandes momentos ou que, no fim, ficaríamos cansados desses momentos, uma vez que ninguém aguenta todo o tempo com grandes emoções.
Eu sei, eu também entendo isso, também quero conforto, sono, cama e filmes, mas a memória é violenta, desvirtua os fatos e a gente nem consegue mais olhar as coisas com lucidez. Só pode ser lúcido um ser sem memória, porque só ele é capaz de ver as coisas longe desses tentáculos do tempo que passa.
É essa a tragédia e é ela que eu sinto...daí eu resolvo escrever e fica tão banal, tão idiota que nem parece que fui eu que escrevi, logo eu, aquele cara que gosta de ser político, que assiste filme dando nota ao invés de mergulhar na história. Essa é a tragédia e eu não sei fugir dela, na verdade não posso, porque é dela que eu sou feito. A catástrofe é ter que pra sempre existir dentro do comum, do corriqueiro, dentro de paredes de quartos.

11 agosto 2011

a falha na democracia

Eu sempre desacretidei na democracia. Não que seja contra ela, mesmo porque é sabido que ainda é a forma menos agressiva de governo ao instinto humano assassino. Sou contra, pelo menos, ao nosso modelo democrático de representação. Acredito mais, na verdade, em um modelo de participação, em que se misture o ativo e o passivo e que a ação social mobilize ao invés de incluir a exclusão.
Meu exemplo da falha da democracia é simples. Onde trabalho está havendo uma eleição para o nome do Mascote do clube. As crianças propõe o nome e depois votam nos que preferem e, elegendo-se um nome por turma, se chegará a um turno mais geral onde será escolhido o campeão.
Em uma turma foram dados 10 nomes, a quantidade de alunos que havia, por parecer pouco ou não haver nenhum que agradasse foi pedido mais 3 e assim fecharam-se com 13 candidatos. Para que nenhum aluno votasse no próprio escolhido, pediu-se que eles votassem em dois. Foi quando um nome começou a despontar como favorito, inclusive com torcida. Trata-se de Rey. Entretanto, esses que votavam em Rey eram obrigados a votar em mais um, então escolheram Frut, um daqueles candidatos que apareceram por último, por parecer impossível de vencer.Um outro grupo se colocou claramente contrário a escolha de Rey e, percebendo a manobra anti-democrática, também começou a votar em Frut, simplesmente para fazer frente a Rey, mas sem convicção e sem haver outra preferência. Um outro nome, Boy, corria por fora, pois esse segundo grupo votava em Frut para dar força e em um outro qualquer, por conta da regra estabelecida. Assim ficou formado um segundo turno com Rey, Boy e Frut.
O grupo que queria Rey gritava, batia palmas e entoava coros, era formado por metade da turma mais um. Os demais faziam oposição sabendo que provavelmente perderiam. Até que começa o segundo turno e os que votavam em Rey, no segundo voto, distribuiam entre Frut e Boy, para enfraquece-los. O outro grupo além de votar em Frut, agora uma decisão fortalecida, votava em Boy .
Com grande espanto no fim da votação o resultado: Frut foi o vencedor, Boy o segundo colocado e Rey, o único com torcida o último.
É isso. Como explicar?

03 agosto 2011

poucas palavras

eu queria escrever com poucas palavras
mas só consigo escrever pouco
com muitas palavras.

por que eu não escrevo um romance

Essa é a pergunta e eu descobri a resposta: porque eu não vivi nada. É preciso muita experiência na vida, muito ateísmo frustrado, muita discussão sobre o nada, muita briga, porrada, muita injustiça, preconceito, racismo, entre outros. É preciso que muita coisa ruim aconteça para que a experiência deixe de ser na carne e se incorpore nas fibras, nos poros, nos sentidos.
A juventude tem alguma coisa feliz no corpo. O corpo jovem é elástico, obedece, faz rir e se recupera rápido de qualquer coisa, isso impede que se sinta as coisas por tempo suficiente. E um romance, pelo menos um dos bons, maduro, precisa dessa coisa aí que não sei o nome. Foi-se o tempo em que se sabia o que escrever porque o mundo mesmo dizia. Agora que escrever é inútil que o ato da escrita se torna mais importante ainda. Isso é essencial: em um mundo que NINGUÉM lê, a função do escritor é ainda maior, vital, quase uma natureza.
E eu não escrevo um romance por tudo isso e se você escreve é porque não pensou o que eu pensei e, portanto, seu livro não me interessa.

02 agosto 2011

anti-sabedoria popular

Algumas vezes me espanta a sabedoria popular, como o conselho esperto de uma senhora pra uma moça aflita com seus relacionamentos ou a opinião crua de um pedreiro que já viu tanta coisa que nada pode lhe surpreender. Do outro lado, há uma completa estupidez popular que faz parte de um pensamento rápido, em síntese, não dialético, que reage a tudo e transforma a mais intensa descrição da sociedade em algo corriqueiro e feio.
Matou a mãe porque ela não fez batata-frita.
Um motorista de ônibus insiste em correr, insiste. Parou pra mim, mas antes de eu subir já arrancava, um senhor quase caiu ao fundo e pediu atenção. Um grupo xingou o moço que não parou no ponto. O ônibus teve de fazer uma parada brusca, violenta, por conta de um carro que atravessou a pista. Um motorista de ônibus insiste em correr, insiste.
Eu, do meu canto, fico tentando entender como isso pode se dar. Eu, do meu canto, fico tentando entender como isso pode não mudar.
Adolescente está grávida do monstro da Paraíba.
E o mundo continua...