Tinha o impulso criativo de um cometa, mas tinha também o grande vício da preguiça. Enquanto era praticamente incapaz de se enamorar (pelo menos era isso que achava de si) desperdiçava sem palavras aquele mundo que construía na cabeça. A verdade inexorável - essa que ele sabia apenas como uma leve intuição - é que aprendera a se preservar, não se sabotando, mas se adiando. Adiar e se adiar era a melhor maneira de burlar a lógica potencialmente arrebatadora que lhe habitava. Sua casa não era de cores nem tinha efeitos psicodélicos: era quase vazia e pouca coisa circulava por lá, mas ele sabia que assim que entrasse na roda - hamster de si próprio - teria que inevitavelmente rodar e girar e correr. Então a casa que ainda não era gaiola servia apenas de albergue, de habitação provisória e, acho que somente por isso, gentil.
Até que chega um impulso criativo como um cometa e quer forçar que ele viva o plano, amadureça o fruto e entorpeça si próprio com aquilo que é sua missão. Missão é o caralho, ele diz. Senta na cama, opta pela preguiça, inventando pra si próprio que a luz fraca lhe dá sono. Desiste. Nunca foi tão forte esse rapaz.
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