08 janeiro 2010

o cão

Era como um cachorro, na verdade era um cachorro. Eu sei que os cachorros andam se repetindo por aqui, mas é que existe neles uma metáfora que ainda está incompleta. Ele latia do umbral da porta, mas não saía, dormia no canto mais quente da casa, adorava duchas e mimos. Conversava sempre que possível do seu jeito meio atrapalhado, aredondado e inseguro, mas conseguia até que se sair muito bem. Algumas vezes se sentia um rockstar e tinha certeza que dominaria o mundo, às vezes gostaria de estar na tv ou ter sotaques, quem sabe latir mais alto ou melhor.
Dormia às vezes leve e às vezes cansado, esperava sempre a hora certa de querer carinho ou uma brincadeira, qualquer coisas que acendesse uma centelha do que tinha, mas acontece que quando acesa era um farol, uma fogueira, um incêndio. Ele sabia disso, havia feito uma vez pra nunca mais. Não que não quisesse, não era requerido, acostumava-se a viver dessa maneira, entre latidos da porta, cochilos no sol, desejos incompletos e esperas por carinho. Era feliz porque tinha coisas boas, mas não podia deixar de ser melancólico, porque simplesmente na maioria das vezes a vida o é.

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